São Paulo, terça-feira, 01 de agosto de 2000


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SAÚDE
Componente não-alucinógeno da planta funcionou em camundongos
Maconha trata artrite reumatóide

DANIELA SANDLER
DA REPORTAGEM LOCAL

Um remédio para artrite reumatóide, sem os efeitos colaterais das drogas atuais, pode ser mais uma das aplicações da maconha.
Um estudo publicado hoje na revista "Proceedings of the National Academy of Sciences" tratou eficazmente a doença, em camundongos, com um dos componentes da planta, o canabidiol.
Esse componente não causa alterações da percepção, ao contrário do THC, o componente mais famoso da maconha. Por isso -e por ser abundante na planta-, o canabidiol é alvo de inúmeras pesquisas com fins terapêuticos.
Nesta, realizada pelo Instituto Kennedy de Reumatologia (Reino Unido) e pela Universidade Hebraica de Jerusalém, a substância foi dada a camundongos com artrite reumatóide. A doença causa inflamação crônica de articulações, em geral das mãos, punhos, joelhos e pés. Provoca inchaço, dor, rigidez, deformações e até perda da função dos membros.
"Seria possível transformar o canabidiol em cápsulas ou pastilhas", disse à Folha, por telefone, Marc Feldmann, um dos autores.
Ele destacou como uma de suas principais vantagens a ausência de efeitos colaterais. "Os remédios existentes são tóxicos. Não são agradáveis para o paciente."
Um dos experimentos usou dois grupos de camundongos com pés afetados pela doença.
Dos camundongos tratados com o canabidiol, 34% foram "completamente protegidos" da artrite reumatóide, diz o texto.
Entre os animais que não receberam nada, 69% apresentavam a doença em graus moderado e severo. Entre os tratados, esse número baixou para 40%.
O canabidiol tem ação dupla: diminui a resposta do sistema imunológico e é antiinflamatório. Daí sua eficiência no combate à artrite reumatóide, que, além da inflamação, está ligada a uma reação auto-imune (ataque do sistema de defesa ao próprio corpo).
Feldmann disse que sua equipe está pronta para começar os testes em humanos. "Ficarei muito surpreso se não verificarmos os mesmos resultados nas pessoas", observou o cientista.
Para Feldmann, um remédio com canabidiol não seria caro. "Não se pode patentear o canabidiol", disse o brasileiro Isac Karniol, do Serviço de Psiquiatria da Universidade Santo Amaro, que também pesquisou o componente. "A maconha tem uso terapêutico há muito tempo", afirmou.
Com a diminuição do estigma da planta como droga alucinógena, há agora uma série de estudos que investigam cientificamente as aplicações tradicionais ou já conhecidas, além de novos usos.
Entre as aplicações recentemente pesquisadas, estão a epilepsia, a insônia e doenças mentais.


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