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SAÚDE
Componente não-alucinógeno da planta funcionou em camundongos
Maconha trata artrite reumatóide
DANIELA SANDLER
DA REPORTAGEM LOCAL
Um remédio para artrite reumatóide, sem os efeitos colaterais
das drogas atuais, pode ser mais
uma das aplicações da maconha.
Um estudo publicado hoje na
revista "Proceedings of the National Academy of Sciences" tratou
eficazmente a doença, em camundongos, com um dos componentes da planta, o canabidiol.
Esse componente não causa alterações da percepção, ao contrário do THC, o componente mais
famoso da maconha. Por isso -e
por ser abundante na planta-, o
canabidiol é alvo de inúmeras
pesquisas com fins terapêuticos.
Nesta, realizada pelo Instituto
Kennedy de Reumatologia (Reino
Unido) e pela Universidade Hebraica de Jerusalém, a substância
foi dada a camundongos com artrite reumatóide. A doença causa
inflamação crônica de articulações, em geral das mãos, punhos,
joelhos e pés. Provoca inchaço,
dor, rigidez, deformações e até
perda da função dos membros.
"Seria possível transformar o
canabidiol em cápsulas ou pastilhas", disse à Folha, por telefone,
Marc Feldmann, um dos autores.
Ele destacou como uma de suas
principais vantagens a ausência
de efeitos colaterais. "Os remédios existentes são tóxicos. Não
são agradáveis para o paciente."
Um dos experimentos usou
dois grupos de camundongos
com pés afetados pela doença.
Dos camundongos tratados
com o canabidiol, 34% foram
"completamente protegidos" da
artrite reumatóide, diz o texto.
Entre os animais que não receberam nada, 69% apresentavam a
doença em graus moderado e severo. Entre os tratados, esse número baixou para 40%.
O canabidiol tem ação dupla:
diminui a resposta do sistema
imunológico e é antiinflamatório.
Daí sua eficiência no combate à
artrite reumatóide, que, além da
inflamação, está ligada a uma reação auto-imune (ataque do sistema de defesa ao próprio corpo).
Feldmann disse que sua equipe
está pronta para começar os testes
em humanos. "Ficarei muito surpreso se não verificarmos os mesmos resultados nas pessoas", observou o cientista.
Para Feldmann, um remédio
com canabidiol não seria caro.
"Não se pode patentear o canabidiol", disse o brasileiro Isac Karniol, do Serviço de Psiquiatria da
Universidade Santo Amaro, que
também pesquisou o componente. "A maconha tem uso terapêutico há muito tempo", afirmou.
Com a diminuição do estigma
da planta como droga alucinógena, há agora uma série de estudos
que investigam cientificamente as
aplicações tradicionais ou já conhecidas, além de novos usos.
Entre as aplicações recentemente pesquisadas, estão a epilepsia, a
insônia e doenças mentais.
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