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ASTRONOMIA
Equipes rivais detectam planetas menores fora do Sistema Solar
"Uranos" agitam "guerra dos mundos"
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
No palanque, os americanos
Geoffrey Marcy e Paul Butler
anunciaram ontem a descoberta
de dois novos planetas extra-solares, possivelmente de natureza similar à da Terra, mas com 10 a 20
vezes mais massa. Nos bastidores,
entretanto, eles travavam uma espécie de "guerra dos mundos"
contra um grupo europeu: em
disputa, a primazia na descoberta
desse tipo de astro.
A divulgação do feito americano foi conduzida como se tivesse
sido a primeira descoberta de sua
categoria, apresentada pessoalmente por Marcy, da Universidade da Califórnia em Berkeley, e
Butler, da Carnegie Institution de
Washington, numa entrevista coletiva organizada pela Nasa, a
agência espacial americana.
Mas o evento ocorreu uma semana depois da divulgação de um
outro achado, por um grupo liderado por Michel Mayor e Didier
Queloz, do Observatório de Genebra, de um astro do mesmo tipo.
Cientificamente, os três novos
planetas são igualmente relevantes. Todos eles demonstram a recém-adquirida capacidade dos
astrônomos de encontrar astros
menores que Júpiter e Saturno, os
gigantes gasosos mais abrutalhados do Sistema Solar (com cerca
de 143 mil e 120 mil quilômetros
de diâmetro, respectivamente).
Agora, a caça se concentra nos astros do porte de Urano e Netuno,
que têm um diâmetro médio de
"apenas" 50 mil quilômetros.
"Estamos começando a ver planetas cada vez menores. Planetas
como a Terra são o próximo destino", disse Butler, na coletiva.
Os planetas são, grosso modo,
divididos em dois tipos: gigantes
gasosos, como Júpiter, Saturno,
Urano e Netuno, e rochosos, como Mercúrio, Vênus, Terra e
Marte. Destes últimos, a Terra é o
maior já visto, com cerca de 12,7
mil quilômetros de diâmetro.
O principal mistério dos três
novos planetas é que eles podem
ser quase híbridos: similares à
Terra, com solo rochoso, mas do
tamanho de Urano e Netuno. Isso
porque giram muito perto da estrela, onde supostamente não deveria haver gigantes gasosos.
Questão de tipo
Por outro lado, sabe-se que há
muitos planetas como Júpiter
perto de suas estrelas -os chamados "jupiterianos quentes"-,
o que também não faz muito sentido para as teorias mais aceitas de
formação planetária. Então ninguém sabe ainda dizer se os novos
planetas estão mais para "Uranos
quentes" ou "Terras gigantes".
Sejam o que forem, seus ambientes não são lá muito hospitaleiros. O descoberto pelos europeus, que gira em torno da estrela
mu Arae, se for rochoso como a
Terra, deve ter uma temperatura
superficial da ordem de 600C. E
esse é o mais distante de sua estrela, em que um ano leva dez dias
terrestres para terminar.
No caso dos dois achados americanos, o primeiro está em torno
da estrela Gliese 436 e completa
uma órbita a cada 2,5 dias. O
exemplo mais interessante, entretanto, é o que foi achado por
Marcy e Butler em 55 Cancri
-estrela-mãe de um sistema tão
interessante quanto o nosso.
Já é o quarto astro descoberto
em torno dessa estrela. Os três
primeiros eram gigantes gasosos.
Um deles, inclusive, é como Júpiter. Além de grande, está bem distante de sua estrela.
A mais nova adição é a mais
próxima de 55 Cancri -com
massa 12 a 23 vezes a da Terra, o
planeta completa uma órbita em
três dias terrestres, a uma distância média de 5,6 milhões de quilômetros da estrela. A Terra gira ao
redor do Sol a uma distância de
149,5 milhões de quilômetros.
Na "guerra dos mundos" entre
os cientistas, é difícil dizer quem
está na frente. O grupo europeu
foi o primeiro a divulgar seu planeta à imprensa, mas seu estudo,
submetido à revista "Astronomy
and Astrophysics", ainda não foi
aceito. Ontem, a Nasa fez questão
de enfatizar que os dados de
Marcy e Butler sobre os novos
planetas já haviam sido revisados
e aceitos para publicação na revista "Astrophysical Journal".
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