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Cigarro deixa sua marca nos genes, afirma estudo
Resultado pode explicar por que ex-fumantes têm alto risco de desenvolver câncer
Análise com um número
pequeno de pacientes
mostra que o hábito altera
modo como 124 genes
são ligados e desligados
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O cigarro afeta tão profundamente a saúde de um fumante
que é capaz de causar marcas
irreversíveis em seus genes,
mesmo décadas após a interrupção do hábito. O alerta foi
lançado anteontem por um
grupo de cientistas do Canadá e
oferece uma explicação molecular para o fato de ex-fumantes continuarem apresentando
um alto risco de desenvolver
câncer de pulmão.
Campanhas antitabagistas
costumam trabalhar com a
idéia de que nunca é tarde para
abandonar o cigarro. O Inca
(Instituto Nacional do Câncer)
lembra em sua página sobre o
assunto que os riscos de ter um
infarto e desenvolver doenças
cardíacas caem, depois de um
tempo, para os mesmo níveis
de quem não fuma.
Mas com câncer de pulmão
isso não funciona, como os médicos observam na prática. A
equipe liderada por Raj Chari,
do Centro de Pesquisa do Câncer da Colúmbia Britânica, em
Vancouver, sugere na revista
"BMC Genomics" que isso
ocorre pela alteração do cigarro
na expressão genética.
Os cientistas analisaram os
genes de 8 fumantes, 12 ex-fumantes (que pararam há mais
de 1 ano) e 4 pessoas que nunca
fumaram. Eles puderam ver
quais deles são alterados enquanto o hábito está ativo,
quais voltam ao normal depois
que a pessoa pára de fumar e
quais simplesmente não volta.
Entre os fumantes, praticamente todos os genes dos brônquios têm sua expressão alterada. Nos ex-fumantes, os cientistas encontraram 124 genes
em condição irreversível. Vários deles produzem proteínas
associadas a doenças pulmonares, como bronquite e efisema.
Por ter analisado poucos pacientes, o estudo não deixa claro se o tempo pelo qual a pessoa
fumou na vida e a quantidade
de cigarros consumida pode influenciar o resultado. Todos os
ex-fumantes do estudo passaram mais de 30 anos fumando
pelo menos um pacote por dia.
Outra ressalva feita por especialistas em câncer é que o estudo, apesar de interessante,
pode não ser aplicável a todo
ex-fumante, pois, uma vez que
descreve poucos casos, sua validade estatística é baixa. "Mas a
pesquisa confirma o que vemos
na clínica. Um ex-fumante
sempre vai ter risco de desenvolver câncer de pulmão. Isso,
no entanto, não pode virar motivo para uma pessoa que fuma
desistir de abandonar o vício",
afirma o oncologista Jefferson
Luiz Gross, do Hospital do
Câncer A.C.Camargo.
"Vários outros benefícios são
observados e mesmo a chance
de morrer de câncer de pulmão
cai sim anos após parar", afirma. Além disso, ele complementa, esse estudo pode passar
uma outra mensagem: "Nem
comece a fumar, porque os danos podem ser irreversíveis".
Para o geneticista brasileiro
Marcelo Nóbrega, da Universidade de Chicago, um resultado
mais eficiente só seria obtido se
a avaliação fosse feita com um
mesmo grupo de pessoas, primeiro quando elas fumavam e
anos depois, quando elas deixaram de fumar.
(GIOVANA GIRARDI)
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