São Paulo, sábado, 01 de setembro de 2007

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Cigarro deixa sua marca nos genes, afirma estudo

Resultado pode explicar por que ex-fumantes têm alto risco de desenvolver câncer

Análise com um número pequeno de pacientes mostra que o hábito altera modo como 124 genes são ligados e desligados

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O cigarro afeta tão profundamente a saúde de um fumante que é capaz de causar marcas irreversíveis em seus genes, mesmo décadas após a interrupção do hábito. O alerta foi lançado anteontem por um grupo de cientistas do Canadá e oferece uma explicação molecular para o fato de ex-fumantes continuarem apresentando um alto risco de desenvolver câncer de pulmão.
Campanhas antitabagistas costumam trabalhar com a idéia de que nunca é tarde para abandonar o cigarro. O Inca (Instituto Nacional do Câncer) lembra em sua página sobre o assunto que os riscos de ter um infarto e desenvolver doenças cardíacas caem, depois de um tempo, para os mesmo níveis de quem não fuma.
Mas com câncer de pulmão isso não funciona, como os médicos observam na prática. A equipe liderada por Raj Chari, do Centro de Pesquisa do Câncer da Colúmbia Britânica, em Vancouver, sugere na revista "BMC Genomics" que isso ocorre pela alteração do cigarro na expressão genética.
Os cientistas analisaram os genes de 8 fumantes, 12 ex-fumantes (que pararam há mais de 1 ano) e 4 pessoas que nunca fumaram. Eles puderam ver quais deles são alterados enquanto o hábito está ativo, quais voltam ao normal depois que a pessoa pára de fumar e quais simplesmente não volta.
Entre os fumantes, praticamente todos os genes dos brônquios têm sua expressão alterada. Nos ex-fumantes, os cientistas encontraram 124 genes em condição irreversível. Vários deles produzem proteínas associadas a doenças pulmonares, como bronquite e efisema.
Por ter analisado poucos pacientes, o estudo não deixa claro se o tempo pelo qual a pessoa fumou na vida e a quantidade de cigarros consumida pode influenciar o resultado. Todos os ex-fumantes do estudo passaram mais de 30 anos fumando pelo menos um pacote por dia.
Outra ressalva feita por especialistas em câncer é que o estudo, apesar de interessante, pode não ser aplicável a todo ex-fumante, pois, uma vez que descreve poucos casos, sua validade estatística é baixa. "Mas a pesquisa confirma o que vemos na clínica. Um ex-fumante sempre vai ter risco de desenvolver câncer de pulmão. Isso, no entanto, não pode virar motivo para uma pessoa que fuma desistir de abandonar o vício", afirma o oncologista Jefferson Luiz Gross, do Hospital do Câncer A.C.Camargo.
"Vários outros benefícios são observados e mesmo a chance de morrer de câncer de pulmão cai sim anos após parar", afirma. Além disso, ele complementa, esse estudo pode passar uma outra mensagem: "Nem comece a fumar, porque os danos podem ser irreversíveis".
Para o geneticista brasileiro Marcelo Nóbrega, da Universidade de Chicago, um resultado mais eficiente só seria obtido se a avaliação fosse feita com um mesmo grupo de pessoas, primeiro quando elas fumavam e anos depois, quando elas deixaram de fumar. (GIOVANA GIRARDI)

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