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Mandioca vermelha da Amazônia é rica em licopeno
Pigmento encontrado no tomate pode ter atividade anticâncer; desafio agora é aumentar a produtividade da planta, diz cientista
Divulgação
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Variedade da mandioca vermelha que é cultivada pelos índios
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Uma variedade pouco conhecida de mandioca tem se mostrado mais rica em nutrientes
do que as versões mais comuns
do tubérculo. Além de ser fonte
de carboidratos, ela apresenta
também um alto nível de licopeno (pigmento encontrado no
tomate, na melancia e na beterraba e que parece ter um papel
eficiente na prevenção ao câncer de próstata).
A mandioca vermelha até parece um transgênico, mas é natural mesmo, selecionada ao
longo de centenas de anos de
domesticação por povos indígenas da Amazônia.
Análise química feita por
pesquisadores da Universidade
de Brasília mostra que o tubérculo tem cerca de 5 miligramas
de licopeno por quilo. O tomate, vegetal mais rico na substância, tem entre 12 mg/kg e 20
mg/kg. Os resultados foram publicados na revista "Genetics
and Molecular Research".
Aliada às vantagens nutricionais, a mandioca vermelha
apresenta uma boa palatabilidade, ou seja, pode ser consumida cozida ou frita -algumas
variedades só servem para farinha. Segundo Nagib Nassar,
agrônomo egípcio radicado no
Brasil há três décadas que liderou o estudo, esse enriquecimento natural tornou o tubérculo até mais gostoso.
Em contrapartida, a raiz
apresenta baixa produtividade
e rende só 1 kg por pé de planta.
A equipe da UnB trabalha agora
com híbridos para tentar elevar
a produtividade para 5 kg por
planta e estender sua produção
para outras regiões do país.
"Descobrimos o valor nutritivo. Nosso papel agora é fornecer instrumentos para que esta
mandioca chegue à população",
diz o pesquisador.
Uso religioso
Nassar acredita que entre os
povos indígenas essa variedade
de mandioca foi selecionada
por ter um papel em rituais religiosos. "É provável que eles
tenham domesticado a planta
para usar a cor vermelha em
pinturas", conta.
A mandioca é hoje a principal
fonte de carboidratos dos povos amazônidas e também de
populações do Nordeste. Entretanto, as variedades mais comuns são pobres em outros nutrientes. Na falta de outros alimentos, é comum que boa parte dessas pessoas sofra com
problemas de saúde. Foi dessa
necessidade que surgiu a preocupação de Nassar em procurar
em terras indígenas por variações mais ricas.
O licopeno, por exemplo, é
conhecido por suas propriedades antioxidantes, ou seja, ajuda a impedir e reparar danos às
células causados pelos radicais
livres -subprodutos da respiração e de atividades física. Por
conta dessa função, o licopeno
ajuda a retardar o envelhecimento e alguns tipos de cânceres, em especial o de próstata.
Há alguns anos este grupo da
UnB identificou também a chamada "mandioca dourada", outra variedade cultivada por índios e que tem alto nível de beta-caroteno. A substância está
presente, por exemplo, na cenoura, e é usada pelo corpo humano no processo de transformação da vitamina A. Sua deficiência pode causar cegueira.
A "mandioca dourada" apresenta 2,5 miligramas de beta-caroteno por quilo. Um desempenho melhor do que o famoso
arroz dourado, um transgênico
criado por um cientista suíço
para suprir populações com carência vitamínica. De acordo
com Nassar, o consumo diário
de meio quilo da variedade indígena é o suficiente para resolver o problema.
(GG)
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