São Paulo, sábado, 01 de setembro de 2007

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Mandioca vermelha da Amazônia é rica em licopeno

Pigmento encontrado no tomate pode ter atividade anticâncer; desafio agora é aumentar a produtividade da planta, diz cientista

Divulgação
Variedade da mandioca vermelha que é cultivada pelos índios

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Uma variedade pouco conhecida de mandioca tem se mostrado mais rica em nutrientes do que as versões mais comuns do tubérculo. Além de ser fonte de carboidratos, ela apresenta também um alto nível de licopeno (pigmento encontrado no tomate, na melancia e na beterraba e que parece ter um papel eficiente na prevenção ao câncer de próstata).
A mandioca vermelha até parece um transgênico, mas é natural mesmo, selecionada ao longo de centenas de anos de domesticação por povos indígenas da Amazônia.
Análise química feita por pesquisadores da Universidade de Brasília mostra que o tubérculo tem cerca de 5 miligramas de licopeno por quilo. O tomate, vegetal mais rico na substância, tem entre 12 mg/kg e 20 mg/kg. Os resultados foram publicados na revista "Genetics and Molecular Research".
Aliada às vantagens nutricionais, a mandioca vermelha apresenta uma boa palatabilidade, ou seja, pode ser consumida cozida ou frita -algumas variedades só servem para farinha. Segundo Nagib Nassar, agrônomo egípcio radicado no Brasil há três décadas que liderou o estudo, esse enriquecimento natural tornou o tubérculo até mais gostoso.
Em contrapartida, a raiz apresenta baixa produtividade e rende só 1 kg por pé de planta. A equipe da UnB trabalha agora com híbridos para tentar elevar a produtividade para 5 kg por planta e estender sua produção para outras regiões do país. "Descobrimos o valor nutritivo. Nosso papel agora é fornecer instrumentos para que esta mandioca chegue à população", diz o pesquisador.

Uso religioso
Nassar acredita que entre os povos indígenas essa variedade de mandioca foi selecionada por ter um papel em rituais religiosos. "É provável que eles tenham domesticado a planta para usar a cor vermelha em pinturas", conta.
A mandioca é hoje a principal fonte de carboidratos dos povos amazônidas e também de populações do Nordeste. Entretanto, as variedades mais comuns são pobres em outros nutrientes. Na falta de outros alimentos, é comum que boa parte dessas pessoas sofra com problemas de saúde. Foi dessa necessidade que surgiu a preocupação de Nassar em procurar em terras indígenas por variações mais ricas.
O licopeno, por exemplo, é conhecido por suas propriedades antioxidantes, ou seja, ajuda a impedir e reparar danos às células causados pelos radicais livres -subprodutos da respiração e de atividades física. Por conta dessa função, o licopeno ajuda a retardar o envelhecimento e alguns tipos de cânceres, em especial o de próstata.
Há alguns anos este grupo da UnB identificou também a chamada "mandioca dourada", outra variedade cultivada por índios e que tem alto nível de beta-caroteno. A substância está presente, por exemplo, na cenoura, e é usada pelo corpo humano no processo de transformação da vitamina A. Sua deficiência pode causar cegueira.
A "mandioca dourada" apresenta 2,5 miligramas de beta-caroteno por quilo. Um desempenho melhor do que o famoso arroz dourado, um transgênico criado por um cientista suíço para suprir populações com carência vitamínica. De acordo com Nassar, o consumo diário de meio quilo da variedade indígena é o suficiente para resolver o problema. (GG)

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