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Península Antártica sofre degelo rápido
Análise de pesquisador brasileiro em 30 geleiras da região mostra perda média 4.000 m2 de áreas com gelo por ano
Glaciólogos já esperavam derretimento, mas não tão intenso; temperatura média da região subiu cerca de 5C no último meio século
Toni Pires-11.dez.2001/Folha Imagem
![](../images/d0110200701.jpg) |
Geleira gigante na península Antártica, onde o Brasil mantém base militar e de pesquisa |
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Olhando à distância, parece
óbvio. Como os termômetros
da península Antártica, região
mais setentrional do continente gelado, registraram uma alta
média de 5C nos últimos 50
anos, as geleiras que existem ali
teriam mesmo que derreter.
Mas o que os cientistas não esperavam era a velocidade das
mudanças, que acaba de ser
identificada por meio de imagens de satélite.
Em apenas cinco anos -entre 2001 e 2005- um grupo de
30 geleiras existentes na península Antártica, por exemplo,
chegou a perder 4.000 m2 de
área por ano em sua linha de
frente, em média.
No total, o trabalho ainda
inédito do glaciólogo Jorge Arigony-Neto, pesquisador da
UFRGS (Universidade Federal
do Rio Grande do Sul), analisou
184 geleiras da península Antártica entre 1986 e 2005. Elas
foram divididas, geograficamente, em seis conjuntos.
"Os dados mostram uma mudança grande de comportamento dentro do período de estudo. Era até certo ponto esperado, mas não tínhamos idéia
de que as geleiras demorassem
um tempo tão curto para mudar o comportamento", disse
Arigony-Neto à Folha.
Entre as seis regiões geográficas analisadas, apenas uma
registrou um aumento médio
na linha de frente das geleiras
entre 2001 até 2005. Mas, desde 1986, a perda de área de gelo,
na mesma região, supera em
muito o ganho registrado pelo
sistema de análise desenvolvido pela UFRGS.
Em todas as seis áreas, o balanço pró-aquecimento foi
maior. As outras duas regiões
que também registraram uma
perda significativa de gelo têm,
juntas, 54 geleiras. O decréscimo médio anual de área de neve nesses glaciares está próximo dos 100 m2.
"Existe mais gelo derretendo
mesmo, por causa do aumento
da temperatura", explica o pesquisador, que é do mesmo laboratório de Jefferson Simões,
outro gaúcho que resolveu se
voltar mais para o sul do que
para o norte.
Afinal, é mais perto. A estação brasileira na península Antártica está a 3.172 km do Chuí
que, por sinal, está a 4.121 km
de Boa Vista, em Roraima.
A dupla, entretanto, é categórica. Usar o termo "aquecimento global" para descrever o
que ocorre no local não explica
o tamanho da diferença regional no aumento de temperatura, em relação à média mundial. O que se pode extrair dos
dados é que a península Antártica, uma parte pequena da Antártida, está mais quente.
Nas contas de Simões, apenas 0,7% do gelo do planeta está derretendo, e a Antártida
tem uma participação muito
pequena nesse processo.
"Desse total, 0,08% é de gelo
antártico", diz. Ele lembra também que o derretimento de gelo que já está sobre o mar não
contribui em nada para o tão
amaldiçoado aumento do nível
médio do mar. "Não podemos
esquecer o Princípio de Arquimedes", diz. "Icebergs gigantes
[soltos], ao contrário do que diz
o mito, não são evidências do
aquecimento global."
Altitudes mais altas
Um outro parâmetro medido
por Arigony-Neto também
mostra que a produção de neve
na península Antártica tem se
reduzido bastante nos últimos
50 anos.
Para isso, ele analisou a chamada linha de "neve seca" dos
glaciares -a parte mais consolidada, que fica no alto das geleiras de formato tradicional,
na costa, onde costuma cair a
neve. O cientista percebeu que,
em grande parte dos casos, essa
marca está sempre mais alta.
Nessa análise específica ele
estudou, também por meio de
imagens de satélites, 97 geleiras, entre 1992 e 2005. Em 38
casos, apenas nos últimos cinco
anos de análises, a linha seca
chegou a subir mais de 10 metros a cada ano. "Existe todo
um fluxo [de neve] que está
maior", explica Arigony-Neto.
Diante desse quadro, nem
mesmo os dois glaciólogos gaúchos -que dizem ser os únicos
do Brasil- conseguem fugir da
obviedade manifestada pelo
consenso global entre climatologistas. Até 2100, o nível médio do mar pode subir até 1 metro. Assim como o que ocorre
na península Antártica, isso pode ter sérias conseqüências.
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