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BIOTECNOLOGIA
A Clonaid, criada pelo líder de uma seita que acredita em ETs, fez anúncios sem comprovação no passado
Firma de clonagem tem histórico de blefe
Yessika Vivancos - 28.dez.2002/Associated Press
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Brigitte Boisselier e Raël dão entrevista sobre o suposto clone humano à rede de TV CNN, nos EUA |
GINA KOLATA
KENNETH CHANG
DO "THE NEW YORK TIMES"
A Clonaid, empresa que diz ter
fabricado o primeiro clone humano, tem um histórico de anúncios
espetaculares que nunca foram
comprovados. E o jornalista Michael Guillen, encarregado pela
empresa de validar sua afirmação
mais recente já serviu de intermediário entre um casal que buscava
um serviço de clonagem e um médico disposto a oferecê-lo.
A Clonaid foi fundada em 1997
pelo líder de uma seita que acredita que ETs povoaram a Terra e
que a missão da humanidade é
clonar. Quando formou a empresa, esse líder, que se autodenomina Raël, tinha um objetivo: "Era
um projeto para criar controvérsia", disse o vice-presidente da
Clonaid, Thomas Kaenzig.
Embora a companhia anunciasse um serviço de clonagem, não
estava pronta para oferecê-lo. Durante três anos, a Clonaid "era só
uma caixa postal nas Bahamas",
disse Kaenzig. "Não havia pesquisa nenhuma acontecendo".
Mas, no outono de 2001, a diretora de pesquisa da Clonaid, a
química e "bispa" raeliana Brigitte Boisselier, começou a falar de
um laboratório secreto da Clonaid nos Estados Unidos.
"Ela era muito reticente sobre
ele", disse um funcionário da
FDA, agência que controla fármacos e alimentos nos EUA, cuja autorização seria requerida para
qualquer pesquisa de clonagem
no país. "Ela disse: "Eu tenho um
laboratório, mas não digo onde'".
O escritório de investigação criminal da FDA descobriu logo: tratava-se de uma sala alugada, numa escola abandonada de Nitro,
na Virgínia Ocidental.
O ambiente ali dificilmente se
prestaria a pesquisa, afirmou o
funcionário, que quis se manter
anônimo. Insetos entravam por
uma janela aberta, vindos de um
celeiro na vizinhança. "Não havia
lugar com condições de esterilidade", disse. O único pesquisador
no local era um estudante de pós-graduação, que parecia terrivelmente despreparado.
O trabalho em curso nem envolvia células humanas. O estudante
obtivera ovários de vaca de um
abatedouro e estava tentando extrair óvulos deles.
Mas o equipamento do laboratório era de última geração, segundo o funcionário da FDA. Ele
havia sido comprado por um homem cujo filho de dez meses
morrera de doença cardíaca congênita. O pai, Mark Hunt, ex-parlamentar da Virgínia Ocidental,
obtivera o equipamento de um laboratório de fertilização assistida
que estava fechando -por uma
cifra estimada em US$ 200 mil.
Depois da inspeção do laboratório da Clonaid, a FDA e Hunt
acordaram que ele não tentaria
clonar seu filho nos EUA sem permissão da agência. Hunt, que não
quis dar entrevista, vendeu o
equipamento mais tarde e fechou
o laboratório. Também rompeu
publicamente com os raelianos,
dizendo que eles eram ávidos demais por publicidade. A Clonaid,
então, saiu dos EUA.
Segundo Kaenzig, a firma começou aprendendo a criar embriões clonados de vaca e, em
2001, criou seu primeiro embrião
humano clonado.
Muita gente soube de Hunt e
seus esforços por Guillen, doutorado pela prestigiosa universidade Cornell em física teórica. Em
setembro de 2001, ele entrevistou
Hunt e sua mulher, Tracy, na TV
ABC e mostrou um vídeo do filho
do casal, morto em 1999.
Na época, ele disse que Boisselier estava sendo investigada por
fraude e relatou que ela tinha retirado seu negócio de clonagem
dos Estados Unidos. Sete meses
antes, Guillen reportara que a
Clonaid estava à beira do sucesso.
"Falei com a dra. Boisselier e ela
me disse que em duas semanas
eles esperam conceber o primeiro
clone humano e implantá-lo numa mãe de aluguel, esperando
uma gravidez para março", ele
disse em 16 de fevereiro de 2001
em seu programa.
Intermediação
Logo, um outro interessado em
clonagem se encontrou com os
Hunt: o médico andrologista Panos Zavos. Ele disse que Guillen
tinha dito que poderia mandar o
casal até sua clínica, em Lexington, Kentucky, mas que o jornalista queria em troca uma reportagem exclusiva.
Zavos, que diz que seu trabalho
de clonagem se realiza fora dos
EUA, terminou se encontrando
com os Hunt, mas Guillen não
conseguiu sua exclusiva -já concedida ao documentarista Peter
Williams. Procurado, Guillen não
respondeu a telefonemas.
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