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Mudança genética triplica vida de tomate
Fruto patenteado por instituto indiano de pesquisa suporta armazenamento por 45 dias em temperatura ambiente
Segundo cientista, invenção leva pelo menos dois anos para chegar ao mercado; trabalho usou técnica que levou Prêmio Nobel de 2006
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um grupo de cientistas indianos conseguiu triplicar a vida útil de tomates alterando
apenas dois genes da planta.
Num teste realizado pelos pesquisadores, os frutos modificados tiveram duração de até 45
dias armazenados em prateleiras, enquanto os frutos comuns
só chegavam a 15 dias submetidos às mesmas condições.
O experimento, realizado no
Instituto Nacional de Pesquisa
em Genoma de Plantas, em Nova Déli, está descrito em estudo
na edição de hoje da revista
"PNAS", da Academia Nacional
de Ciências dos EUA.
"A ideia já foi patenteada antes de submetermos o estudo à
revista", disse à Folha Asis
Datta, cientista que liderou o
trabalho. Segundo ele, porém,
o produto ainda não está preparado para ser licenciado, pois
a técnica usada precisa ser modificada. "Isso leva um tempo,
pelo menos uns dois anos."
No estudo sobre o trabalho,
os pesquisadores explicam como conseguiram retardar o
processo de apodrecimento
dos tomates. A tática foi "silenciar" genes da planta envolvidos na produção de duas enzimas relacionadas ao amadurecimento. Sem as substâncias, o
efeito foi aumentar a firmeza
do fruto e sua vida útil.
O silenciamento dos genes
foi feito com a chamada RNAi,
método que usa moléculas de
RNA (espécie de auxiliar do
DNA) para impedir a célula de
produzir determinadas proteínas. Os inventores da técnica,
Andrew Fire e Craig Mello, ganharam um Nobel em 2006.
No caso dos novos tomates
indianos, as proteínas suprimidas foram as enzimas alfa-Man
e beta-Hex, que causam o amolecimento do fruto. A firmeza
dos tomates, explica Datta, não
serve só para torná-los bonitos.
"Ela tem papel importante
em determinar o fator de custo,
pois tem impacto direto em palatabilidade, aceitação pelos
consumidores, duração na prateleira e resistência a doenças
pós-colheita", escreveram o
cientista e seus colegas.
Os tomates de Datta também
tendem a sofrer menos rejeição por ativistas antitransgênicos, pois não carregam genes
de nenhuma outra espécie.
Além disso, segundo os cientistas indianos, a técnica aplicada no estudo com os tomates
tem chance de dar certo para
outros tipos de planta, o que seria uma ajuda significativa para
a agricultura de nações pobres.
"As perdas pós-colheita de
frutos e vegetais nos países em
desenvolvimento chegam a
quase 50% da produção", afirmam os pesquisadores.
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