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BIOLOGIA
Alterações no DNA são mais de duas vezes mais rápidas em plantas tropicais do que nas de climas frios, diz estudo
Evolução pode ser mais veloz nos trópicos
REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL
É melhor pensar duas vezes antes de classificar as florestas tropicais de modorrentas. Um trio de
pesquisadores neozelandeses diz
ter demonstrado que a evolução
age com mais que o dobro da velocidade nesses ambientes, o que
finalmente explicaria porque a diversidade de formas de vida é tão
mais exuberante ali.
Shane Wright, Jeannette Keeling e Len Gillman foram à raiz do
problema: as minúsculas alterações no DNA das células que, acumuladas ao longo de milhões de
anos, levam a alterações radicais
nos seres vivos e ao surgimento de
novas espécies. O estudo foi feito
com plantas, mas Gillman, em entrevista por e-mail à Folha, disse
acreditar que os resultados se
aplicam a outros grupos também.
"Esse gradiente na riqueza de
espécies é provavelmente o padrão biológico mais notável da
Terra. Embora livros e livros tenham sido escritos para tentar explicá-lo, nenhum conseguiu. Essa
taxa diferencial de evolução nos
dá uma explicação muito plausível e simples para o mecanismo
por trás desse padrão", declarou
Gillman, que é ecologista evolutivo e trabalha na Universidade de
Tecnologia de Auckland.
Calor e frio
Explicar por que um hectare de
mata no sul da Bahia tem 450 espécies de árvore, enquanto a mesmíssima área numa floresta européia tem umas dez ou 12, exige
uma comparação detalhada entre
as áreas tropicais e as temperadas
do globo. E
também é preciso comparar espécies aparentadas, para evitar distorções. O trio escolheu 45 pares
de plantas; em cada par, sempre
dentro do mesmo gênero, uma
planta vinha de uma região temperada e a outra, de uma área tropical. Para efeito de comparação,
eles escolheram um pequeno trecho de DNA, presente com variantes em todas as espécies.
Restava saber que "relógio"
usar, uma vez que não dá para esperar milhões de anos de evolução em tempo real. Como medida
aproximada, eles compararam os
pares de plantas com uma terceira
espécie, também prima próxima
delas, mas que todas as evidências
indicam ter se separado antes da
ancestral comum da dupla. Desse
jeito, é possível ter uma idéia de
qual teria sido a seqüência ancestral de "letras" de DNA, e qual espécie se modificou mais em relação a esse ponto de partida.
A comparação revelou que a taxa de alterações foi mais de duas
vezes mais rápida entre as plantas
tropicais do que entre as que hoje
existem em ambientes temperados, com poucas exceções.
É bom lembrar que os dados
vêm de apenas um gene -plantas costumam ter dezenas de milhares de genes em seu DNA-, o
que pode servir de munição contra as conclusões do estudo, publicado hoje na revista científica
"PNAS" (www.pnas.org).
Mesmo assim, o trio defende
que os resultados trazem apoio
substancial à idéia de que a maior
quantidade de energia solar -e
portanto de calor- presente nas
regiões tropicais aceleraria as reações químicas nas células. Reações mais afobadas corresponderiam a mais alterações acidentais
no DNA e mais evolução.
"Achamos que o mesmo padrão
provavelmente está presente em
animais de sangue quente [que
mantêm sua temperatura constante], embora ele possa ser menos aparente", diz Gillman.
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