São Paulo, terça-feira, 02 de maio de 2006

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BIOLOGIA

Alterações no DNA são mais de duas vezes mais rápidas em plantas tropicais do que nas de climas frios, diz estudo

Evolução pode ser mais veloz nos trópicos

REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL

É melhor pensar duas vezes antes de classificar as florestas tropicais de modorrentas. Um trio de pesquisadores neozelandeses diz ter demonstrado que a evolução age com mais que o dobro da velocidade nesses ambientes, o que finalmente explicaria porque a diversidade de formas de vida é tão mais exuberante ali.
Shane Wright, Jeannette Keeling e Len Gillman foram à raiz do problema: as minúsculas alterações no DNA das células que, acumuladas ao longo de milhões de anos, levam a alterações radicais nos seres vivos e ao surgimento de novas espécies. O estudo foi feito com plantas, mas Gillman, em entrevista por e-mail à Folha, disse acreditar que os resultados se aplicam a outros grupos também.
"Esse gradiente na riqueza de espécies é provavelmente o padrão biológico mais notável da Terra. Embora livros e livros tenham sido escritos para tentar explicá-lo, nenhum conseguiu. Essa taxa diferencial de evolução nos dá uma explicação muito plausível e simples para o mecanismo por trás desse padrão", declarou Gillman, que é ecologista evolutivo e trabalha na Universidade de Tecnologia de Auckland.

Calor e frio
Explicar por que um hectare de mata no sul da Bahia tem 450 espécies de árvore, enquanto a mesmíssima área numa floresta européia tem umas dez ou 12, exige uma comparação detalhada entre as áreas tropicais e as temperadas do globo. E também é preciso comparar espécies aparentadas, para evitar distorções. O trio escolheu 45 pares de plantas; em cada par, sempre dentro do mesmo gênero, uma planta vinha de uma região temperada e a outra, de uma área tropical. Para efeito de comparação, eles escolheram um pequeno trecho de DNA, presente com variantes em todas as espécies.
Restava saber que "relógio" usar, uma vez que não dá para esperar milhões de anos de evolução em tempo real. Como medida aproximada, eles compararam os pares de plantas com uma terceira espécie, também prima próxima delas, mas que todas as evidências indicam ter se separado antes da ancestral comum da dupla. Desse jeito, é possível ter uma idéia de qual teria sido a seqüência ancestral de "letras" de DNA, e qual espécie se modificou mais em relação a esse ponto de partida.
A comparação revelou que a taxa de alterações foi mais de duas vezes mais rápida entre as plantas tropicais do que entre as que hoje existem em ambientes temperados, com poucas exceções.
É bom lembrar que os dados vêm de apenas um gene -plantas costumam ter dezenas de milhares de genes em seu DNA-, o que pode servir de munição contra as conclusões do estudo, publicado hoje na revista científica "PNAS" (www.pnas.org).
Mesmo assim, o trio defende que os resultados trazem apoio substancial à idéia de que a maior quantidade de energia solar -e portanto de calor- presente nas regiões tropicais aceleraria as reações químicas nas células. Reações mais afobadas corresponderiam a mais alterações acidentais no DNA e mais evolução.
"Achamos que o mesmo padrão provavelmente está presente em animais de sangue quente [que mantêm sua temperatura constante], embora ele possa ser menos aparente", diz Gillman.


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