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Asteróide é monte de entulho, revelam dados de sonda japonesa
Hayabusa tem problema, mas revela detalhes da estrutura exótica do objeto
MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA
A tentação de descrever como fracasso a missão japonesa
Hayabusa ao asteróide Itokawa
é justificável: em setembro de
2005, a sonda chegou a seu destino, mas o robô que deveria colher amostras falhou, a nave
perdeu parte de seu combustível e ficou sem comunicação.
Mas sete artigos no periódico
"Science" apresentam hoje resultados científicos qualificados como "heróicos".
O adjetivo figura no comentário de Erik Asphaug, da Universidade da Califórnia em
Santa Cruz. "Estas são as recompensas de esforços heróicos para fazer as coisas darem
certo diante de inúmeros percalços", escreveu.
O Itokawa foi escolhido para
testar várias novas tecnologias
por ser um asteróide representantivo dos milhares que se avizinham da Terra e um dos mais
fáceis de alcançar. O corpo de
apenas 500 por 300 metros foi
descrito como um "monte de
escombros" com formato de
uma lontra marinha.
A primeira parte da descrição
é precisa: vários pedregulhos
de poucas dezenas de metros
em meio a milhões de toneladas de fragmentos. Medições
confirmam que são de um tipo
formado nos primórdios do
Sistema Solar, portanto relíquias do mesmo material que
se agregou para formar a Terra.
O modelo do monte de escombros era o mais aceito para
explicar a estrutura desses asteróides que passam perto da
Terra, com algum risco de colisão, mas poucos haviam sido
observados. Agora o Itokawa
pode dar pistas sobre a formação do Sistema Solar, há mais
de 4 bilhões de anos.
Já o formato de lontra marinha parece ser uma concessão
poética dos pesquisadores. A
semelhança se resume a uma
cabeça pequena e um corpo
grande, quase sem pescoço.
As estimativas de massa e volume indicam uma densidade
menor que 2 gramas por centímetro cúbico. Mais do que um
corpo radicalmente poroso, esse valor médio sugere um
amontoado de partículas mantidas em união só pela fraca
gravidade do próprio objeto.
Perto do pescoço, o asteróide
tem uma área mais lisa chamada de Mar das Musas (trocadilho em inglês com o nome anterior, Muses-C). É uma superfície sem pedregulhos, como
uma praia de seixos. Os pesquisadores sugerem que os fragmentos maiores e menores se
separaram por processos vibratórios desencadeados por colisões de outros corpos (como é
pouco coeso, o asteróide não
forma crateras).
NA INTERNET - Leia entrevista com
Erik Asphaug no blog Ciência em Dia
www.cienciaemdia.zip.net
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