São Paulo, sexta-feira, 02 de junho de 2006

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Asteróide é monte de entulho, revelam dados de sonda japonesa

Hayabusa tem problema, mas revela detalhes da estrutura exótica do objeto

MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA

A tentação de descrever como fracasso a missão japonesa Hayabusa ao asteróide Itokawa é justificável: em setembro de 2005, a sonda chegou a seu destino, mas o robô que deveria colher amostras falhou, a nave perdeu parte de seu combustível e ficou sem comunicação. Mas sete artigos no periódico "Science" apresentam hoje resultados científicos qualificados como "heróicos".
O adjetivo figura no comentário de Erik Asphaug, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz. "Estas são as recompensas de esforços heróicos para fazer as coisas darem certo diante de inúmeros percalços", escreveu.
O Itokawa foi escolhido para testar várias novas tecnologias por ser um asteróide representantivo dos milhares que se avizinham da Terra e um dos mais fáceis de alcançar. O corpo de apenas 500 por 300 metros foi descrito como um "monte de escombros" com formato de uma lontra marinha.
A primeira parte da descrição é precisa: vários pedregulhos de poucas dezenas de metros em meio a milhões de toneladas de fragmentos. Medições confirmam que são de um tipo formado nos primórdios do Sistema Solar, portanto relíquias do mesmo material que se agregou para formar a Terra.
O modelo do monte de escombros era o mais aceito para explicar a estrutura desses asteróides que passam perto da Terra, com algum risco de colisão, mas poucos haviam sido observados. Agora o Itokawa pode dar pistas sobre a formação do Sistema Solar, há mais de 4 bilhões de anos.
Já o formato de lontra marinha parece ser uma concessão poética dos pesquisadores. A semelhança se resume a uma cabeça pequena e um corpo grande, quase sem pescoço.
As estimativas de massa e volume indicam uma densidade menor que 2 gramas por centímetro cúbico. Mais do que um corpo radicalmente poroso, esse valor médio sugere um amontoado de partículas mantidas em união só pela fraca gravidade do próprio objeto.
Perto do pescoço, o asteróide tem uma área mais lisa chamada de Mar das Musas (trocadilho em inglês com o nome anterior, Muses-C). É uma superfície sem pedregulhos, como uma praia de seixos. Os pesquisadores sugerem que os fragmentos maiores e menores se separaram por processos vibratórios desencadeados por colisões de outros corpos (como é pouco coeso, o asteróide não forma crateras).


NA INTERNET - Leia entrevista com Erik Asphaug no blog Ciência em Dia
www.cienciaemdia.zip.net



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