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AMAZÔNIA
ONGs dizem que empréstimo aprovado pelo banco a empresa de MT é precedente para financiamento à devastação
Presidente do Bird pede auditoria sobre soja
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
O presidente do Banco Mundial, James Wolfensohn, encaminhou ao escritório de ombudsman da IFC (Corporação Internacional de Finanças), braço do
banco responsável por financiar o
setor privado, um pedido de auditoria sobre um empréstimo de
US$ 30 milhões aprovado em setembro pela IFC para a produção
de soja no leste de Mato Grosso.
O financiamento será concedido ao Grupo André Maggi, de
propriedade da família do governador de Mato Grosso, Blairo
Maggi (PPS), maior produtor de
soja do mundo.
Ele será usado para capitalizar
fornecedores da Maggi na região
de Querência, com o objetivo de
aumentar em 250 mil toneladas
anuais a produção de soja.
O empréstimo é criticado por
ambientalistas. A região de Querência abriga o ecossistema mais
frágil da Amazônia, as chamadas
matas de transição, e está ao mesmo tempo numa nova fronteira
agrícola. O Grupo de Trabalho sobre Florestas, que reúne 19 entidades ligadas ao Fórum das ONGs,
pediu ao banco que enquadrasse
o projeto da Maggi na chamada
categoria A (alto risco ambiental),
que exige uma avaliação rigorosa
de potenciais impactos ao ambiente.
A IFC e a Maggi, no entanto,
classificaram o projeto na categoria B (impacto moderado), e nesses termos o empréstimo foi
aprovado pelo Conselho do Banco Mundial, por unanimidade.
Embora a soja naquela região
aproveite principalmente áreas
que já foram desmatadas para a
pecuária, existe o temor de que,
com o empréstimo à Maggi, a IFC
abra um precedente para financiar atividades destrutivas -como a própria criação de gado-
na Amazônia, num retorno às
práticas ambientalmente incorretas que marcaram o relacionamento do Banco Mundial com a
floresta na década de 1980.
Desmoralizado
Wolfensohn, que se disse "preocupado" com a introdução da soja na Amazônia, havia prometido
às ONGs avaliar a questão juntamente à IFC. Segundo Roberto
Smeraldi, da ONG Amigos da
Terra, a aprovação do empréstimo na categoria B deixava o presidente do Bird "desmoralizado".
Em carta enviada aos ambientalistas ontem, Wolfensohn afirmou ter encaminhado o caso ao
CAO (Escritório de Aconselhamento e Cumprimento/Ombudsman) da IFC. O CAO funciona como um órgão independente de
arbitragem, encarregado de ouvir
queixas de comunidades ou empresas afetadas por um determinado projeto financiado pela IFC
e dar pareceres ao presidente do
Bird (Banco Mundial).
"Este caso é incomum porque o
pedido foi encaminhado pelo
próprio presidente", afirma Smeraldi. Na carta, Wolfensohn diz
que "uma auditoria dará uma visão independente da questão" e
que seus resultados serão tornados públicos pela IFC.
"Tenho estado envolvido há
muitos anos com as questões
complexas que envolvem a proteção da Amazônia. A dinâmica em
torno da demanda mundial crescente por soja e da emergência do
Brasil como um grande produtor
acrescentam camadas de complexidade, e espero que o Banco
Mundial possa continuar ajudando os atores principais a discutir e
a agir juntos para administrar
melhor esse recurso global único", afirmou Wolfensohn.
"Aguardo os resultados do trabalho do CAO", continuou o presidente do Bird em sua carta.
"Entendemos que ele está aceitando os resultados da auditoria",
disse Smeraldi à Folha. Dependendo do resultado, o Conselho
do Banco Mundial pode reabrir a
discussão sobre a classificação do
empréstimo.
Outro lado
Procurada pela Folha, a assessoria de comunicação da IFC não
havia respondido até o fechamento desta edição. O órgão considera, no entanto, que o empréstimo
não envolve diretamente expansão na área plantada com soja,
portanto, não requer abertura de
áreas de floresta -sendo adequada a classificação na categoria B.
O diretor ambiental do Grupo
Maggi, Ocimar Villela, afirmou
que a produção de soja na região
leste de Mato Grosso não é uma
atividade de alto risco ambiental.
A empresa já havia recebido um
empréstimo da IFC. "Desenvolvemos uma série de ferramentas para fazer o acompanhamento ambiental dos [produtores] pré-financiados", disse Villela.
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