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São Paulo, terça-feira, 02 de dezembro de 2003

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BIOTECNOLOGIA

Altos preços levam empresas de ponta a repetir problemas de imagem da indústria farmacêutica tradicional


EUA reagem a nova geração de remédios

ANDREW POLLACK
DO "NEW YORK TIMES"

As reclamações da indústria da biotecnologia sobre como é difícil conseguir aprovar medicamentos na FDA (a agência de alimentos e fármacos dos Estados Unidos) diminuíram. Agora, as empresas têm uma nova preocupação: fazer com que as pessoas paguem pelos remédios que fabricam depois que eles são aprovados.
Os medicamentos desenvolvidos pelas empresas de biotecnologia estão entre os mais caros do mundo. Uma quantidade suficiente para um ano normalmente custa aos pacientes ou às companhias de seguro cerca de US$ 10 mil e, em alguns casos, muito mais. Em consequência, os pacientes, as seguradoras e o sistema público de saúde muitas vezes resistem a pagar por eles.
As vendas foram menores do que o esperado para vários remédios aprovados no último ano, pelo menos em parte por causa da resistência aos preços e da dificuldade em conseguir reembolso das companhias de seguro. A lista inclui Amevive, primeiro remédio contra a psoríase criado por engenharia genética, Fuzeon, primeira de uma nova classe de drogas contra a Aids, e FluMist, primeira vacina contra a gripe que é aplicada como spray, e não como injeção no braço.
Além disso, o sistema público de saúde mudou suas regras de reembolso, diminuindo os pagamentos por alguns remédios numa média de 35%, de acordo com a Organização da Indústria de Biotecnologia, principal associação das empresas do ramo.

Nova lei
A indústria está apostando na ajuda de uma nova lei sobre o sistema público de saúde, aprovada pelo Congresso na semana passada. O principal ponto da legislação, que faz com que o sistema ajude os idosos a pagarem por seus remédios, não é o principal ponto para a indústria biotecnológica -muitos medicamentos fabricados por ela já são cobertos pelo sistema, porque são administrados por injeções nos hospitais ou consultórios médicos.
Mas outros pontos da lei poderiam estabelecer precedentes para o reembolso de remédios biotecnológicos usados por pacientes fora do hospital. A nova legislação também lida com algumas das outras reclamações das empresas sobre mudanças de regras no sistema público neste ano.
"Era uma questão pequena dentro do contexto da lei do sistema de saúde, mas uma grande questão para nós", disse Carl Feldbaum, presidente da Organização da Indústria de Biotecnologia.
O sistema havia determinado, por exemplo, que o novo medicamento da Amgen contra anemia, Aranesp, era "funcionalmente equivalente" a um medicamento mais antigo e portanto não poderia ser utilizado em pedidos de reembolso extra. A nova lei impede que o sistema de saúde declare que certos remédios são funcionalmente equivalentes a outros.
Apesar dos efeitos da nova lei, no entanto, espera-se que os problemas de pagamento continuem. Quando os medicamentos biotecnológicos eram raros, eles não sobrecarregavam o sistema de saúde, apesar de seus altos preços. Mas tais drogas estão proliferando, tornando-se o tratamento padrão para artrite reumatóide, por exemplo, substituindo um medicamento genérico e barato. Para alguns problemas, os médicos planejam usar dois ou mais remédios biotecnológicos.
"O reembolso vai realmente se tornar um problema quando você tiver dois remédios individuais que o médico quer usar, cada um custando US$ 10 mil", disse Joel Sendek, analista de biotecnologia da firma de investimentos Lazard.
Ainda assim, afirma ele, os problemas com reembolsos e altos preços não afetaram tanto assim o crescimento da indústria. Os medicamentos que tiveram um início difícil neste ano têm outros problemas, afirma ele.
Em geral, o grosso da indignação pública contra a alta dos preços de remédios tem sido dirigido contra as grandes companhias farmacêuticas, que são frequentemente acusadas de criar produtos idênticos a outros e de fazer marketing agressivo para promovê-los. As companhias de biotecnologia são menores e geralmente têm desenvolvido remédios inovadores, usados para tratar necessidades médicas não-atendidas.

Competição
Mas a competição entre medicamentos biotecnológicos está chegando. Há três remédios quase idênticos desse tipo para a esclerose múltipla, três drogas similares para a artrite reumatóide e vários medicamentos em desenvolvimento contra o câncer que funcionam da mesma forma.
Os executivos do ramo dizem que está ficando mais importante do que nunca determinar a relação custo-benefício dos medicamentos que produzem. "Você precisa ter uma vantagem competitiva que lhe dê uma razão clara para o preço alto", diz George Morrow, da Amgen.
Uma estratégia é realizar estudos sobre a redução da permanência em hospitais que um novo medicamento pode proporcionar. Outra é se certificar de que um remédio será usado apenas pelos pacientes que ele tem maior possibilidade de ajudar.


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