São Paulo, Quinta-feira, 03 de Fevereiro de 2000


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CIÊNCIA
HIV pode ser combatido logo após a infecção

da "Reuters"

Pesquisadores dos EUA indicam que o uso de drogas anti-HIV depois de relações sexuais desprotegidas pode impedir a infecção pelo vírus da Aids. A droga funcionaria como se fosse uma "pílula do dia seguinte".
No entanto, não há como garantir que a técnica acabe de uma vez com o HIV, pois o vírus costuma se esconder no corpo, dificultando sua identificação.
Os cientistas, do Departamento de Saúde Pública da Califórnia e da Universidade da Califórnia em San Francisco, avaliaram 401 pessoas que compareceram a um desses dois centros procurando ajuda. Elas estavam preocupadas pois haviam praticado sexo sem preservativos ou dividido agulhas durante o uso de drogas.
Mitchell Katz, que coordenou a pesquisa, usou nos voluntários a terapia chamada profilática pós-exposição ao HIV (PEP, na sigla em inglês). Ela é usada em pessoas do setor de saúde que acidentalmente se expuseram ao HIV. Foi a primeira vez que o PEP foi testado na comunidade geral.
A pesquisa foi apresentada na 7ª Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas, em San Francisco, nos EUA.
A intenção de Katz era avaliar se a administração de drogas potentes anti-HIV poderia impedir a infecção em pessoas que haviam sido recém-contaminadas.
No entanto, o estudo não pôde determinar se essas 401 pessoas realmente haviam sido infectadas pelo HIV. Segundo Katz, o grupo de voluntários era pequeno e isso já limita a chance de infecção.
Mas o pesquisador ressaltou que o risco estimado de uma pessoa ser infectada após praticar sexo anal desprotegido varia de 1 em 225 vezes a 1 em 25 vezes.
As pessoas que compareceram à clínica faziam parte dos grupos de risco -mulheres que praticavam sexo sem camisinha com múltiplos parceiros, homens que faziam sexo anal desprotegidos e usuários de drogas.
A pesquisa concluiu que 94% dos voluntários estavam expostos ao vírus. A maioria, por falta de proteção durante o sexo anal.
Todos receberam durante quatro semanas uma droga chamada Combivir, uma pílula combinada que contém os remédios AZT e 3TC, usada para tratar pacientes infectados pelo vírus da Aids. Se os voluntários corriam o risco de ter sido expostos a um vírus resistente, a combinação de drogas incluía remédios mais potentes.
Katz disse que o tratamento era aparentemente seguro e que as pessoas apresentaram poucos efeitos colaterais, entre eles náusea, dor de cabeça e diarréia.
A maioria dos voluntários não sabia do risco que estava correndo. "Em 57% dos casos, eles não sabiam que seu parceiro era HIV positivo", disse Katz.
O pesquisador explicou que o tratamento começou cerca de 33 horas após a exposição ao vírus. Outros estudos indicaram que o tempo ideal seria de até 36 horas após a exposição ao HIV.
Katz disse que os pacientes aderiram bem à terapia, inclusive melhor que os trabalhadores do setor de saúde que receberam o PEP. "A taxa de conclusão da terapia foi de 78%, enquanto os trabalhadores têm taxas entre 45% e 68%", disse.
Ele avaliou também que a maioria não estava usando o PEP como uma forma alternativa ao sexo seguro. "Geralmente, eles tinham poucos parceiros e não corriam o risco de passar por múltiplas exposições ao HIV", declarou. Cerca de 12% dos pacientes voltaram à clínica após um segundo episódio em seis meses de pesquisa.
"Uma pessoa passou por quatro tratamentos em cinco meses", informou. Mas Katz conseguiu aconselhar essa pessoa a mudar seu comportamento e aderir a práticas sexuais mais seguras.


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