São Paulo, terça-feira, 03 de fevereiro de 2004

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ONU pede regras para a Antártida

DA REDAÇÃO

Os organismos que vivem no continente mais hostil do planeta podem se tornar uma rica fonte de novos medicamentos e substâncias para a humanidade, mas seu estudo precisa ser regulamentado antes que se transforme numa "corrida do ouro" biológica, alerta um relatório divulgado ontem pelas Nações Unidas sobre pesquisas na Antártida.
Vários dos seres que habitam o continente gelado, em especial as formas de vida microscópica, são chamados de extremófilos, pois são capazes de resistir a condições extremas de temperatura, salinidade ou falta de água líquida.
Os truques genéticos e bioquímicos desenvolvidos por essas criaturas para sobreviver a esses ambientes inóspitos poderiam ser usados nas mais diversas áreas da indústria biotecnológica, no desenvolvimento de novos antibióticos ou de drogas contra o câncer, avalia o relatório, produzido pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade das Nações Unidas, em Tóquio.
"A prospecção biológica de extremófilos já está ocorrendo, e certamente deve se acelerar na Antártida e no oceano em volta dele", afirmou Hamid Zakri, diretor do instituto, em declaração oficial. "Este relatório sugere que os esforços para explorar essa nova fronteira agora estão ameaçando ultrapassar a capacidade reguladora das leis nacionais e internacionais em relação a coisas como a posse de material genético, a concessão de patentes sobre produtos que possam surgir a partir dele e as conseqüências ambientais de explorar esses recursos."
Até agora, de acordo com o relatório, os projetos de bioprospecção na Antártida têm sido conduzidos por consórcios entre instituições públicas e privadas, reunindo de universidades a gigantes multinacionais. Isso tem dificultado diferenciar pesquisa científica de projetos comerciais.
Muitas descobertas já têm aplicações comerciais projetadas, como uma glicoproteína na circulação de peixes antárticos que os impede de congelar em temperaturas abaixo de zero. Substâncias semelhantes também foram encontradas em bactérias e patenteadas nos EUA para aumentar a vida útil de alimentos como sorvetes e vegetais congelados.
Segundo o relatório, o crescimento da bioprospecção em território antártico está acontecendo sem que se tomem os cuidados devidos para preservar os recursos naturais da região e sem resolver uma série de questões fundamentais sobre a regulamentação dessas pesquisas. É preciso definir se pesquisadores têm direito de posse sobre informações e lucros obtidas na região. O relatório está disponível na internet (www.ias.unu.edu/binaries/UNUIAS_AntarcticaReport.pdf).


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