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PSICOBIOLOGIA
Pesquisa sugere que plantas psicotrópicas ajudaram humanos antigos a sobreviver em ambientes difíceis
Uso de droga evoluiu com a humanidade
ABBIE THOMAS
DA "NEW SCIENTIST"
Se as drogas são tão ruins assim,
por que tantas pessoas fazem uso
delas? Porque elas ajudaram nossos ancestrais, argumenta uma
dupla de antropólogos.
Nossa predileção por substâncias psicotrópicas é geralmente
vista como um acidente biológico.
A visão convencional é que as
drogas induzem o cérebro a pensar -erroneamente- que está
obtendo uma recompensa quando, de fato, não está.
Mas os antropólogos Roger Sullivan, da Universidade de Auckland (Nova Zelândia), e Edward
Hagen, da Universidade da Califórnia em Santa Barbara (EUA),
ressaltam que os ancestrais da espécie humana estiveram expostos
a plantas que contêm substâncias
psicoativas por milhões de anos.
Na edição deste mês da revista
"Addiction" (www.addiction-
ssa.org), eles argumentam que
humanos têm predisposição ao
uso de drogas porque a espécie
evoluiu para procurar plantas ricas em alcalóides.
Consumir essas plantas poderia
ter sido uma estratégia básica de
sobrevivência. "Alcalóides como
nicotina e cocaína poderiam ter
sido explorados pelos nossos ancestrais para ajudá-los a suportar
condições ambientais difíceis",
diz Sullivan. Por exemplo, até recentemente, os aborígenes da
Austrália usaram o "pituri", uma
planta rica em nicotina, para viajar pelo deserto com pouca comida. E as populações dos Andes
ainda mascam folhas de coca para
trabalhar em altitudes elevadas.
Evidências arqueológicas mostram que o uso de drogas era amplo em culturas antigas. Nozes de
bétele, uma planta aromática que
contém substâncias psicoativas,
eram mascadas há 13 mil anos no
Timor. E artefatos descobertos no
Equador estendem o uso das folhas de coca a 5.000 anos atrás.
Muitas dessas drogas eram potentes: o "pituri" contêm 5% de
nicotina, enquanto o tabaco hoje
contém 1,5%. E mais: esses pioneiros algumas vezes mascavam
as plantas psicotrópicas com álcalis, como cinzas. Esse processo,
conhecido como "freebasing", libera a forma livre da substância
ativa e permite que ela seja absorvida diretamente no sangue.
No entanto, nas culturas do Pacífico nas quais mascar nozes de
bétele ainda é um costume difundido, a planta é vista mais como
uma fonte de energia do que como uma droga, diz Sullivan. E algumas drogas têm valor nutricional real: cem gramas de folha de
coca, por exemplo, contêm mais
do que a dose diária recomendada nos EUA de cálcio, fósforo, ferro e vitaminas A, B2 e E.
E, em ambientes como o deserto australiano, a dieta provavelmente era tão pobre que as pessoas lutavam para produzir um
número suficiente de neurotransmissores, os mensageiros químicos do cérebro. Consumir plantas
contendo substâncias que imitam
o funcionamento dos neurotransmissores poderia ter ajudado a
compensar essa deficiência.
Eles afirmam que essa parte da
sua teoria poderia ser testada privando cobaias de certos neurotransmissores e verificando se
elas passam a procurar comida rica nessas substâncias.
O modelo de Sullivan é perfeitamente plausível, diz Wayne Hall,
da Universidade de Queensland
(Austrália), ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisa de Álcool
e Drogas daquele país. "Certamente há evidência de que plantas evoluíram para imitar neurotransmissores de mamíferos",
diz. "Mas o problema hoje é que
temos doses muito maiores de
substâncias muito mais potentes.
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