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Autismo é o preço da inteligência
Descobridor da estrutura do DNA diz que genes da alta cognição se relacionam com doença mental
James Watson admite que hipótese é "especulativa", mas um outro grupo de pesquisa propôs mecanismo para explicar possível elo
Odd Andersen - 20.maio.2005/France Presse
![](../images/d0306200901.jpg) |
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Biólogo norte-americano James Watson, descobridor do DNA, no Museu de Ciências de Londres
CLAUDIO ANGELO
ENVIADO ESPECIAL A COLD SPRING
HARBOR (EUA)
James Watson, descobridor
da estrutura do DNA, pai da
biologia molecular e polemista
profissional, tem uma nova
teoria para explicar a suposta
genética da inteligência. Os genes que predisporiam algumas
pessoas a habilidades intelectuais elevadas seriam os mesmos que disparam doenças como autismo e esquizofrenia.
Coincidentemente, é essa a
hipótese que um grupo de pesquisadores da Universidade do
Colorado está desenvolvendo.
Os dados foram apresentados
na semana passada nos Estados
Unidos, logo depois de Watson
ter delineado suas ideias.
"Isso é muito especulativo.
Não posso provar", admitiu à
Folha o biólogo, de 81 anos.
Mas a inteligência, continuou, é
rara porque casais inteligentes
têm probabilidade mais alta de
terem filhos com problemas. "E
esses genes tendem a ser eliminados pela seleção natural."
Watson apresentou sua tese
durante o 74º Simpósio de Cold
Spring Harbor sobre Biologia
Quantitativa, organizado pelo
laboratório do qual ele era
chanceler -até ser demovido
do posto no fim de 2007 por ter
feito comentários racistas.
Longe de se retratar pelo episódio, Watson ainda sugeriu,
durante sua apresentação, que
outro motivo pelo qual a inteligência é rara é que "as pessoas
inteligentes pagam por dizerem a verdade. Sei disso por experiência pessoal".
Autorreferência
O cientista começou a desenvolver sua hipótese depois de
ter sido o primeiro ser humano
a ter o genoma sequenciado.
"Fiquei assustado, descobri
que tinha mutações em três genes ligados ao reparo do DNA".
Esses genes, como o BRCA 1 e
o BRCA2, entram em ação para
corrigir danos causados durante a replicação do DNA ou por
uma agressão do ambiente, como radiação. Mutações neles
estão ligadas ao câncer.
"Pessoas com essas mutações tendem a ter filhos especiais", disse. Watson tem um filho esquizofrênico.
Os mutantes são mais inteligentes que a média e têm menos filhos -e, de acordo com
Watson, têm problemas para se
relacionar com as outras pessoas. Veja os cientistas.
Supostamente, os genes da
inteligência seriam eliminados
pela seleção natural. "Mas por
que eles não somem e a humanidade não fica mais estúpida?"
Elementar, afirma Watson.
As sociedades que têm indivíduos com alta cognição, como
Einstein e Darwin, se beneficiam. O processo evitaria o expurgo da inteligência -e da esquizofrenia- do "pool" genético dessas populações.
Faca de dois gumes
Menos especulativa é a ligação entre cognição e doenças
mentais feita pelo grupo de James Sikela (Universidade do
Colorado). Ele e seus colegas
descobriram uma correlação
entre o alto número de cópias
de um gene numa certa região
do DNA humano e o desenvolvimento do cérebro. Essa região, dizem outros estudos, estaria também implicada com
autismo e esquizofrenia.
Os pesquisadores identificaram que uma região instável do
genoma chamada 1q21.1 concentrava um número alto de
cópias de um gene chamado
DUF1220. "A relação de causa e
efeito não está provada, mas
nós relatamos uma correlação"
entre o aumento do número de
cópias desse gene na linhagem
humana e o aumento do cérebro, disse Sikela à Folha.
Essa instabilidade é "uma faca de dois gumes". "Ela teria
permitido mais cópias do
DUF1220 e, portanto, teria sido retida na evolução. Por outro lado, essa instabilidade não
é precisa, e pode gerar um embaralhamento deletério de sequências. É por isso que os vários estudos recentes que têm
relacionado variação no número de cópias na região 1q21.1 no
autismo e na esquizofrenia
chamaram nossa atenção: isso
se encaixa na ideia de que os indivíduos com essas doenças
são o preço que a nossa espécie
paga pelo mecanismo que permitiu e permite a geração de
mais cópias da DUF1220."
Sikela disse que Watson não
sabia de seus dados e que o mecanismo sugerido por ele é diferente. "Mas, em teoria, outras regiões do genoma poderiam se encaixar no modelo."
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