São Paulo, terça-feira, 03 de julho de 2007

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Criança nasce de um óvulo amadurecido em tubo de ensaio

Canadense é a primeira a engravidar por meio de técnica que pode beneficiar pacientes de câncer que ficam inférteis

Segundo médicos, resultados são preliminares, e ainda não se sabe se as crianças nascidas crescerão sem problemas genéticos

STEVE CONNOR
DO "INDEPENDENT"

Uma mulher deu à luz o primeiro bebê concebido após um óvulo imaturo ter sido "amadurecido" no laboratório e congelado antes de ter sido fertilizado in vitro. O procedimento marca um importante desenvolvimento na possibilidade de oferecer a mulheres jovens com câncer a capacidade de reter a fertilidade após terem de recorrer à quimioterapia.
A paciente, que não teve o nome revelado, mora no Canadá, e seu bebê, uma menina, passa bem, disse Hananel Holzer, médico do Centro de Reprodução da Universidade McGill, de Montréal. Três outras mulheres engravidaram após o mesmo procedimento.
Estimular o desenvolvimento de óvulos imaturos em tubo de ensaio e congelá-los até o momento de uma mulher tentar engravidar por fertilização in vitro (FIV) era algo desafiador. Holzer e sua equipe conseguiram ambas as coisas e abriram uma esperança para mulheres com câncer ou doenças como síndrome do ovário policístico engravidarem posteriormente, quando estiverem saudáveis o suficiente.
Os médicos coletaram óvulos de 20 mulheres com síndrome do ovário policístico e os amadureceram em tubos de ensaio usando um coquetel de nutrientes desenvolvido pelo grupo. Com o desenvolvimento dos óvulos imaturos em laboratório, as mulheres não precisam ser submetidas a estímulo hormonal, que é arriscado.
"Nós demonstramos pela primeira vez que é possível fazer isso e, até agora, atingimos quatro gestações com sucesso, uma delas resultando no nascimento de um bebê", disse Holzer. "Outras três já estão a caminho", comentou.

Curva de aprendizado
"Os resultados [com sucesso] são preliminares e a taxa de gravidez está provavelmente associada com uma curva de aprendizado. De fato, três das gestações foram atingidas nas últimas cinco pacientes", afirmou o médico em encontro da Sociedade Européia para Reprodução Humana e Embriologia, em Lyon, na França.
O grupo ainda não tentou tratar pacientes de câncer com a técnica, mas o método provavelmente oferece uma rota mais segura à maternidade do que reimplantar tecido de ovário na mulher. Isso oferece o risco de reintroduzir células tumorais, disse Holzer.
Outros especialistas receberam bem a notícia, mas alertam que será preciso fazer mais pesquisa antes de a técnica poder ser considerada uma opção segura para mulheres com câncer
"Cada passo desse trabalho já havia sido atingido, mas esta foi a primeira vez que foram encadeados com sucesso", disse Robin Lovell-Badge, especialista em genética do desenvolvimento no Conselho de Pesquisa Médica do Reino Unido.
Robert Winston, professor emérito de estudos de fertilidade do Imperial College de Londres afirmou: "Esse é um importante passo adiante, que pode vir a ajudar mulheres com problemas de fertilidade, incluindo aquelas submetidas a tratamento contra câncer. Contudo, é preciso trabalharmos muito mais para assegurarmos que não haverá defeitos genéticos em bebês nascidos por meio dessa técnica."


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