São Paulo, segunda, 3 de novembro de 1997.



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CIÊNCIA
Falha de motor obriga controle da operação a explodir lançador no ar
Foguete brasileiro fracassa, é destruído e cai no mar

RICARDO BONALUME NETO
enviado especial a São José dos Campos

O primeiro protótipo do foguete brasileiro VLS (Veículo Lançador de Satélites) fracassou ontem. O VLS-1-V01, desenvolvido pela Aeronáutica, precisou ser destruído depois de 65 segundos de vôo devido ao não funcionamento de um dos quatro motores de seu primeiro estágio (veja quadro abaixo).
O foguete levava o SCD-2A, protótipo do segundo Satélite de Coleta de Dados, feito pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), avaliado em US$ 5 milhões. O VLS custa US$ 6,5 milhões.
O telecomando de destruição foi acionado quando o VLS-1-V01 estava a 3.230 metros de altitude e sem possibilidade de controle ou de lançar o satélite, mesmo que em uma órbita mais baixa que o planejado. Os restos do foguete e do satélite caíram no mar, a 2 km de distância da plataforma no Centro de Lançamento de Alcântara (MA).
A contagem regressiva teve de ser interrompida por cerca de 15 minutos, pois um avião passou pela área interditada para o lançamento. Depois de reiniciada, prosseguiu sem problemas até o momento do lançamento, 9h25, hora local (10h25 em Brasília).
De imediato, os técnicos perceberam que havia um problema com um dos propulsores, quando se notou que o foguete partia com forte inclinação para um dos lados. Os comandos de rádio ("telemetria") vindos do VLS logo confirmaram o problema. Imagens e sons do centro de controle, em Alcântara, estavam sendo transmitidos ao vivo pela Radiobrás para auditórios em Brasília, São Luís (MA) e São José dos Campos (SP).
O público no auditório de São José bateu palmas quando o foguete começou a subir. A inclinação para o lado chegou a ser corrigida pelo foguete, mas a falha em um dos motores significava que o veículo, de massa total de 50 toneladas na decolagem, tinha então sete toneladas de peso morto desequilibrando sua subida.
O silêncio em Alcântara foi quebrado por uma voz perguntando ansiosa se um dos motores tinha de fato "não queimado". O VLS usa combustível sólido, que queima instantaneamente depois de acionada a ignição.
O pano de fundo era uma tela de computador, na qual se deveria visualizar a trajetória do foguete, prevista em uma linha azul sobre o oceano Atlântico. Mas o que se via era uma trajetória sem sentido -parecia que o VLS tinha enlouquecido. O foguete, 65 segundos após o lançamento, foi destruído.
Uma pausa de 15 minutos foi feita na cadeia estabelecida entre os três auditórios e o centro de controle. Na volta, o coronel Thiago da Silva Ribeiro, coordenador do lançamento, declarou: "infelizmente tivemos um insucesso".
O presidente da AEB (Agência Espacial Brasileira), Luiz Gylvan Meira Filho, em Brasília, falou em seguida. Ele ressaltou que o VLS era um protótipo, que a missão visava testá-lo, "e também", enfatizou, "lançar o SCD-2A".
Para ele, o fracasso poderá dar bons ensinamentos aos técnicos -"sob o ponto de vista de engenharia, houve vários sucessos", como a correção da inclinação feita pelo sistema de controle, e o funcionamento do sistema de segurança. "Esperamos brevemente marcar a data de lançamento do segundo protótipo", declarou.
Segundo o brigadeiro Reginaldo Santos, diretor do Centro Técnico Aeroespacial, o VLS-V-02 será lançado no máximo até setembro próximo. "Estamos perseguindo isso há 18 anos e não é uma falha absolutamente normal que nos fará recuar nossos objetivos", disse o diretor do Inpe, Márcio Nogueira Barbosa, em São José.
A falha em pôr em órbita o SCD-2A compromete a operação de cerca de duzentas plataformas de coletas de dados meteorológicos espalhadas pelo país. O SCD-1, lançado em 1993, hoje está degradado, com sua bateria funcionando precariamente. Outro satélite da série, o SCD-2, está previsto para ser lançado por um foguete americano Pegasus em maio de 98.


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