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CIÊNCIA
Falha de motor obriga controle da operação a explodir lançador no ar
Foguete brasileiro fracassa, é destruído e cai no mar
RICARDO BONALUME NETO
enviado especial a São José dos Campos
O primeiro protótipo do foguete
brasileiro VLS (Veículo Lançador
de Satélites) fracassou ontem. O
VLS-1-V01, desenvolvido pela Aeronáutica, precisou ser destruído
depois de 65 segundos de vôo devido ao não funcionamento de um
dos quatro motores de seu primeiro estágio (veja quadro abaixo).
O foguete levava o SCD-2A, protótipo do segundo Satélite de Coleta de Dados, feito pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), avaliado em US$ 5 milhões.
O VLS custa US$ 6,5 milhões.
O telecomando de destruição foi
acionado quando o VLS-1-V01 estava a 3.230 metros de altitude e
sem possibilidade de controle ou
de lançar o satélite, mesmo que em
uma órbita mais baixa que o planejado. Os restos do foguete e do satélite caíram no mar, a 2 km de distância da plataforma no Centro de
Lançamento de Alcântara (MA).
A contagem regressiva teve de
ser interrompida por cerca de 15
minutos, pois um avião passou pela área interditada para o lançamento. Depois de reiniciada, prosseguiu sem problemas até o momento do lançamento, 9h25, hora
local (10h25 em Brasília).
De imediato, os técnicos perceberam que havia um problema
com um dos propulsores, quando
se notou que o foguete partia com
forte inclinação para um dos lados.
Os comandos de rádio ("telemetria") vindos do VLS logo confirmaram o problema. Imagens e
sons do centro de controle, em Alcântara, estavam sendo transmitidos ao vivo pela Radiobrás para
auditórios em Brasília, São Luís
(MA) e São José dos Campos (SP).
O público no auditório de São José bateu palmas quando o foguete
começou a subir. A inclinação para o lado chegou a ser corrigida pelo foguete, mas a falha em um dos
motores significava que o veículo,
de massa total de 50 toneladas na
decolagem, tinha então sete toneladas de peso morto desequilibrando sua subida.
O silêncio em Alcântara foi quebrado por uma voz perguntando
ansiosa se um dos motores tinha
de fato "não queimado". O VLS
usa combustível sólido, que queima instantaneamente depois de
acionada a ignição.
O pano de fundo era uma tela de
computador, na qual se deveria visualizar a trajetória do foguete,
prevista em uma linha azul sobre o
oceano Atlântico. Mas o que se via
era uma trajetória sem sentido
-parecia que o VLS tinha enlouquecido. O foguete, 65 segundos
após o lançamento, foi destruído.
Uma pausa de 15 minutos foi feita na cadeia estabelecida entre os
três auditórios e o centro de controle. Na volta, o coronel Thiago
da Silva Ribeiro, coordenador do
lançamento, declarou: "infelizmente tivemos um insucesso".
O presidente da AEB (Agência
Espacial Brasileira), Luiz Gylvan
Meira Filho, em Brasília, falou em
seguida. Ele ressaltou que o VLS
era um protótipo, que a missão visava testá-lo, "e também", enfatizou, "lançar o SCD-2A".
Para ele, o fracasso poderá dar
bons ensinamentos aos técnicos
-"sob o ponto de vista de engenharia, houve vários sucessos",
como a correção da inclinação feita pelo sistema de controle, e o
funcionamento do sistema de segurança. "Esperamos brevemente
marcar a data de lançamento do
segundo protótipo", declarou.
Segundo o brigadeiro Reginaldo
Santos, diretor do Centro Técnico
Aeroespacial, o VLS-V-02 será
lançado no máximo até setembro
próximo. "Estamos perseguindo
isso há 18 anos e não é uma falha
absolutamente normal que nos fará recuar nossos objetivos", disse
o diretor do Inpe, Márcio Nogueira Barbosa, em São José.
A falha em pôr em órbita o
SCD-2A compromete a operação
de cerca de duzentas plataformas
de coletas de dados meteorológicos espalhadas pelo país. O SCD-1,
lançado em 1993, hoje está degradado, com sua bateria funcionando precariamente. Outro satélite
da série, o SCD-2, está previsto para ser lançado por um foguete
americano Pegasus em maio de 98.
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