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São Paulo, quarta-feira, 03 de dezembro de 2003

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CLIMA

Declarações de assessor do presidente Putin sugerem que país não vai ratificar acordo, impedindo que entre em vigor

Rússia ameaça destruir Protocolo de Kyoto

DA REDAÇÃO

A Rússia ameaça abandonar o Protocolo de Kyoto, abrindo a perspectiva de que o acordo para combater o aquecimento global não consiga signatários suficientes para ser colocado em vigor. A declaração partiu ontem, em Moscou, de Andrei Illarionov, assessor econômico do presidente russo Vladimir Putin.
"O Protocolo de Kyoto impõe limitações significativas ao crescimento econômico da Rússia", disse Illarionov, ao sair de uma reunião com Putin e lideranças empresariais russas e européias. "Em sua forma atual, esse protocolo não pode ser ratificado."
As declarações tomaram de surpresa os representantes das nações que compõem a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática, reunidos desde anteontem em Milão, Itália. Eles discutem políticas e informações sobre o efeito estufa -o aquecimento da Terra por um cobertor de gases que impede a radiação solar de retornar ao espaço, após ser refletida pela superfície, o que aquece a atmosfera.
No início das discussões do dia, a comissária ambiental da União Européia, Margot Wallström, declarava sua fé no tratado. "O Protocolo de Kyoto não está morto", disse. "Talvez esteja apenas prendendo a respiração por um breve tempo, enquanto todos esperamos a ratificação russa."
As declarações de Illarionov chegaram aos ouvidos dos participantes da reunião logo depois. Ninguém da delegação russa em Milão se disse preparado para confirmá-las. O chefe da delegação ainda nem havia chegado para participar das reuniões, que vão até a próxima terça-feira.
O acordo negociado em Kyoto determina que as nações industrializadas reduzam em 5,2%, até 2012, os níveis das emissões de carbono (elemento presente nos gases-estufa), comparados às emissões de 1990. Em 2001, o presidente americano, George W. Bush, declarou que os EUA, responsáveis em 1990 por 36,1% das emissões dos países industrializados, abandonariam o protocolo, por ser danoso à sua economia.
Com isso, a adesão da Rússia, que em 1990 era responsável por cerca de 17,4% das emissões, passou a ser fundamental. É preciso que países industrializados ligados a no mínimo 55% das emissões globais ratifiquem o protocolo para que ele entre em vigor.
Caso o governo russo realmente confirme sua desistência, a meta se torna impossível, e o protocolo perde a chance de ganhar valor de lei. Em outras palavras, naufraga.
Apesar disso, os organismos internacionais, a começar pela ONU, acreditam que ainda seja possível reverter o quadro e trazer a Rússia de volta. Na verdade, alguns acham até que ela ainda não chegou a sair. "Esse é um assessor do presidente, não é uma rejeição formal como a que vimos com os Estados Unidos", disse Michael Williams, porta-voz das Nações Unidas. "Continuamos otimistas de que a Rússia vai ratificar."
A relutância em aceitar as declarações de Illarionov como oficiais faz sentido. Ele já havia dito coisas parecidas no passado e sempre se mostrou contra o protocolo. Mas sua linha de argumentação parece estar afinada com a de Putin.
Em setembro, o presidente voltou atrás na promessa de ratificar em breve o acordo. A expectativa é que nenhuma posição definitiva surja antes das eleições presidenciais na Rússia, no ano que vem.

Com agências internacionais



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