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CLIMA
Declarações de assessor do presidente Putin sugerem que país não vai ratificar acordo, impedindo que entre em vigor
Rússia ameaça destruir Protocolo de Kyoto
DA REDAÇÃO
A Rússia ameaça abandonar o
Protocolo de Kyoto, abrindo a
perspectiva de que o acordo para
combater o aquecimento global
não consiga signatários suficientes para ser colocado em vigor. A
declaração partiu ontem, em
Moscou, de Andrei Illarionov, assessor econômico do presidente
russo Vladimir Putin.
"O Protocolo de Kyoto impõe limitações significativas ao crescimento econômico da Rússia",
disse Illarionov, ao sair de uma
reunião com Putin e lideranças
empresariais russas e européias.
"Em sua forma atual, esse protocolo não pode ser ratificado."
As declarações tomaram de surpresa os representantes das nações que compõem a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudança Climática, reunidos
desde anteontem em Milão, Itália.
Eles discutem políticas e informações sobre o efeito estufa -o
aquecimento da Terra por um cobertor de gases que impede a radiação solar de retornar ao espaço, após ser refletida pela superfície, o que aquece a atmosfera.
No início das discussões do dia,
a comissária ambiental da União
Européia, Margot Wallström, declarava sua fé no tratado. "O Protocolo de Kyoto não está morto",
disse. "Talvez esteja apenas prendendo a respiração por um breve
tempo, enquanto todos esperamos a ratificação russa."
As declarações de Illarionov
chegaram aos ouvidos dos participantes da reunião logo depois.
Ninguém da delegação russa em
Milão se disse preparado para
confirmá-las. O chefe da delegação ainda nem havia chegado para participar das reuniões, que
vão até a próxima terça-feira.
O acordo negociado em Kyoto
determina que as nações industrializadas reduzam em 5,2%, até
2012, os níveis das emissões de
carbono (elemento presente nos
gases-estufa), comparados às
emissões de 1990. Em 2001, o presidente americano, George W.
Bush, declarou que os EUA, responsáveis em 1990 por 36,1% das
emissões dos países industrializados, abandonariam o protocolo,
por ser danoso à sua economia.
Com isso, a adesão da Rússia,
que em 1990 era responsável por
cerca de 17,4% das emissões, passou a ser fundamental. É preciso
que países industrializados ligados a no mínimo 55% das emissões globais ratifiquem o protocolo para que ele entre em vigor.
Caso o governo russo realmente
confirme sua desistência, a meta
se torna impossível, e o protocolo
perde a chance de ganhar valor de
lei. Em outras palavras, naufraga.
Apesar disso, os organismos internacionais, a começar pela
ONU, acreditam que ainda seja
possível reverter o quadro e trazer
a Rússia de volta. Na verdade, alguns acham até que ela ainda não
chegou a sair. "Esse é um assessor
do presidente, não é uma rejeição
formal como a que vimos com os
Estados Unidos", disse Michael
Williams, porta-voz das Nações
Unidas. "Continuamos otimistas
de que a Rússia vai ratificar."
A relutância em aceitar as declarações de Illarionov como oficiais
faz sentido. Ele já havia dito coisas
parecidas no passado e sempre se
mostrou contra o protocolo. Mas
sua linha de argumentação parece
estar afinada com a de Putin.
Em setembro, o presidente voltou atrás na promessa de ratificar
em breve o acordo. A expectativa
é que nenhuma posição definitiva
surja antes das eleições presidenciais na Rússia, no ano que vem.
Com agências internacionais
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