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Cientistas usam vírus da varíola para criar vacina contra a Aids
Teste, já aplicado em roedores e macacos, está sendo feito agora em humanos
BÁRBARA NAVAZA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Responsável pela morte de
milhões de pessoas durante séculos, a varíola se converteu
num aliado para lutar contra a
nova pandemia da humanidade: a Aids. Pesquisadores espanhóis empregam pela primeira
vez o vírus da varíola para criar
uma vacina contra o HIV.
O vírus da varíola, numa versão atenuada, foi usado como
veículo transportador de quatro proteínas do HIV. O médico
Juan Carlos López Bernaldo,
supervisor do teste clínico no
Hospital Gregório Marañón, de
Madri, afirma que até agora "se
empregavam proteínas sintéticas e outros tipos de vírus que
não conseguiam estimular suficientemente o sistema imune".
Seu grupo, porém, evita falar
que se trata de uma vacina que
protege por completo da infecção. De acordo com López Bernaldo, "em pesquisas anteriores já se pôde ver que a ideia de
criar uma vacina totalmente
protetora não funciona".
"O que queremos conseguir
agora é uma vacina que provoque uma resposta imunológica
para que, no caso de infecção
pelo HIV, o desenvolvimento
da doença possa ser evitado."
A vacina foi primeiro testada
em camundongos e macacos.
Foi comprovado que era segura
e que conseguia induzir respostas imunes contra o SIV, o vírus
da imunodeficiência dos símios, "irmão" do vírus da Aids.
Ela agora está na chamada fase 1 dos testes em humanos. Já
foi ministrada a 18 pessoas, e a
meta dos pesquisadores é chegar a 30 voluntários neste mês.
O estudo durará um ano, e
seu objetivo principal é avaliar
se a vacina consegue estimular
o sistema de defesa dos voluntários. Esta primeira fase também servirá para avaliar a segurança da nova imunização em
humanos -algo de que os pesquisadores não duvidam, pois
já existe uma longa experiência
da vacinação contra a varíola,
que usava o mesmo vírus.
Os primeiros a se oferecerem
para testar a vacina foram principalmente pessoas jovens,
com conhecimentos sobre o
HIV, muitas delas com familiares ou amigos infectados.
López Bernaldo explicou à
Folha que "as pessoas com
parceiros com HIV não podem
ser voluntárias nesta fase porque procuramos pessoas com
baixo risco de infecção."
Os primeiros resultados deverão aparecer em maio de
2010. Se forem favoráveis, a
pesquisa avançará até a fase 2,
com centenas de pessoas. A duração desta fase é de no mínimo três anos. Os voluntários
desta fase devem estar sob risco de infecção.
A vacina experimental, denominada MVA-B, foi desenvolvida por Mariano Esteban,
pesquisador do Conselho Superior de Pesquisas Científicas
(CSIC), órgão espanhol que
tem a patente.
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