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São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2003

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ASTRONOMIA

Planeta gigante que orbita estrela próxima aumenta a chance de haver outros astros habitáveis no Universo

Equipe encontra "irmão" do Sistema Solar

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Custou 102 achados, mas finalmente os maiores caçadores de planetas extra-solares do mundo localizaram um conjunto que é um análogo quase perfeito do Sol e de seu sistema planetário.
A descoberta foi anunciada ontem, numa conferência astronômica realizada em Paris. As observações, conduzidas durante os últimos seis anos, foram realizadas com um telescópio na Austrália.
O estudo faz parte de um projeto mais amplo, que está rastreando centenas de estrelas diferentes à procura de planetas. A pesquisa é fruto de uma parceria entre cientistas australianos e britânicos e a equipe que até hoje mais encontrou corpos planetários fora do Sistema Solar, liderada pelos astrônomos Paul Butler, da Carnegie Institution de Washington, e Geoffrey Marcy, da Universidade da Califórnia em Berkeley.
O objetivo é usar observatórios do hemisfério Sul para completar a pesquisa das estrelas mais próximas. Até poucos anos atrás, havia um descompasso, com muitas observações nos céus do hemisfério Norte e poucas nos céus austrais. "Fizemos esse acerto com os australianos e já praticamente fechamos o buraco entre os dois hemisférios", disse Butler à Folha.
O pesquisador aponta que seus estudos servirão como linhas-mestras para o trabalho dos grandes telescópios espaciais que a Nasa e a ESA (agências espaciais dos EUA e da Europa) pretendem lançar em uma ou duas décadas, a fim de localizar e estudar planetas do tipo terrestre. Hoje em dia, os métodos de detecção só permitem o descobrimento de planetas gigantes gasosos, como Júpiter e Saturno, mas nada pequeno, rochoso e discreto, como a Terra.
Apesar disso, achar planetas gigantes com as mesmas características dos solares é útil para escolher os alvos com maior potencial para as observações futuras feitas com os poderosos telescópios espaciais de próxima geração.
Quando essa hora chegar, a estrela HD 70642 deve ser uma das primeiras da lista de alvos. É de lá que vem a última descoberta.

Estrela gêmea
Localizada a 90 anos-luz de distância -855 trilhões de quilômetros, uma ninharia em termos astronômicos-, ela é muito parecida com o Sol. Além de também ser do tipo espectral G (amarela) e ter aproximadamente 5 bilhões de anos de idade, sua metalicidade (quantidade de elementos pesados na composição) é similar à solar, um pouco superior à da média das estrelas na Via Láctea.
Em torno dela, os astrônomos encontraram um planeta com massa equivalente ao dobro da de Júpiter, a uma distância pouco mais de três vezes superior à que a Terra guarda do Sol. Mas o que mais anima é a sua órbita -uma circunferência quase perfeita. Pode parecer preciosismo, mas esse fator é extremamente importante.
Todos os planetas extra-solares anteriores que pudessem lembrar o Sistema Solar haviam sido encontrados em órbitas elípticas (ovais). O problema é que o trajeto do planeta acaba tornando a região em que uma potencial Terra poderia existir um lugar perigoso para viver. Interações gravitacionais cedo ou tarde atiram o pequeno mundo para longe.

Quase lá
Uma exceção importante foi vista em torno da estrela 47 Ursa Majoris, mas lá também havia um planeta gigante orbitando pouco além de onde seria a órbita de Marte, algo que é incompatível com um sistema como o do Sol.
Existem muitos casos em que a chamada região habitável -área do sistema que no caso solar é compreendida pela faixa que vai da órbita de Vênus à de Marte, capaz de abrigar planetas em que a água pode ser mantida em estado líquido- está livre para uso.
Mas nessas estrelas também há planetas gigantes com órbitas muito pequenas e coladas ao astro central. Eles devem ter se formado longe e depois migrado para dentro do sistema, varrendo a região que poderia um dia ter abrigado planetas terrestres.
A razão pela qual todo mundo quer ver planetas como a Terra é óbvia -são potencialmente os lugares em que a vida tem mais chance de surgir. Entender quão comuns são sistemas como o solar é um grande passo para inferir a raridade da vida no Universo.
Se houver mesmo planetas terrestres em torno de HD 70642, será o primeiro caso genuinamente similar ao do Sol, após mais de uma centena de sistemas já revelados. "Se fôssemos pegar os números hoje, diríamos que nossa arquitetura é relativamente rara, emergindo em cerca de 1% dos casos", diz Butler. "Mas ainda não temos números suficientes para saber se a estimativa é correta."


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