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ASTRONOMIA
Planeta gigante que orbita estrela próxima aumenta a chance de haver outros astros habitáveis no Universo
Equipe encontra "irmão" do Sistema Solar
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Custou 102 achados, mas finalmente os maiores caçadores de
planetas extra-solares do mundo
localizaram um conjunto que é
um análogo quase perfeito do Sol
e de seu sistema planetário.
A descoberta foi anunciada ontem, numa conferência astronômica realizada em Paris. As observações, conduzidas durante os últimos seis anos, foram realizadas
com um telescópio na Austrália.
O estudo faz parte de um projeto mais amplo, que está rastreando centenas de estrelas diferentes
à procura de planetas. A pesquisa
é fruto de uma parceria entre
cientistas australianos e britânicos e a equipe que até hoje mais
encontrou corpos planetários fora do Sistema Solar, liderada pelos
astrônomos Paul Butler, da Carnegie Institution de Washington,
e Geoffrey Marcy, da Universidade da Califórnia em Berkeley.
O objetivo é usar observatórios
do hemisfério Sul para completar
a pesquisa das estrelas mais próximas. Até poucos anos atrás, havia um descompasso, com muitas
observações nos céus do hemisfério Norte e poucas nos céus austrais. "Fizemos esse acerto com os
australianos e já praticamente fechamos o buraco entre os dois hemisférios", disse Butler à Folha.
O pesquisador aponta que seus
estudos servirão como linhas-mestras para o trabalho dos grandes telescópios espaciais que a
Nasa e a ESA (agências espaciais
dos EUA e da Europa) pretendem
lançar em uma ou duas décadas, a
fim de localizar e estudar planetas
do tipo terrestre. Hoje em dia, os
métodos de detecção só permitem o descobrimento de planetas
gigantes gasosos, como Júpiter e
Saturno, mas nada pequeno, rochoso e discreto, como a Terra.
Apesar disso, achar planetas gigantes com as mesmas características dos solares é útil para escolher os alvos com maior potencial
para as observações futuras feitas
com os poderosos telescópios espaciais de próxima geração.
Quando essa hora chegar, a estrela HD 70642 deve ser uma das
primeiras da lista de alvos. É de lá
que vem a última descoberta.
Estrela gêmea
Localizada a 90 anos-luz de distância -855 trilhões de quilômetros, uma ninharia em termos astronômicos-, ela é muito parecida com o Sol. Além de também
ser do tipo espectral G (amarela) e
ter aproximadamente 5 bilhões
de anos de idade, sua metalicidade (quantidade de elementos pesados na composição) é similar à
solar, um pouco superior à da média das estrelas na Via Láctea.
Em torno dela, os astrônomos
encontraram um planeta com
massa equivalente ao dobro da de
Júpiter, a uma distância pouco
mais de três vezes superior à que a
Terra guarda do Sol. Mas o que
mais anima é a sua órbita -uma
circunferência quase perfeita. Pode parecer preciosismo, mas esse
fator é extremamente importante.
Todos os planetas extra-solares
anteriores que pudessem lembrar
o Sistema Solar haviam sido encontrados em órbitas elípticas
(ovais). O problema é que o trajeto do planeta acaba tornando a região em que uma potencial Terra
poderia existir um lugar perigoso
para viver. Interações gravitacionais cedo ou tarde atiram o pequeno mundo para longe.
Quase lá
Uma exceção importante foi
vista em torno da estrela 47 Ursa
Majoris, mas lá também havia um
planeta gigante orbitando pouco
além de onde seria a órbita de
Marte, algo que é incompatível
com um sistema como o do Sol.
Existem muitos casos em que a
chamada região habitável -área
do sistema que no caso solar é
compreendida pela faixa que vai
da órbita de Vênus à de Marte, capaz de abrigar planetas em que a
água pode ser mantida em estado
líquido- está livre para uso.
Mas nessas estrelas também há
planetas gigantes com órbitas
muito pequenas e coladas ao astro
central. Eles devem ter se formado longe e depois migrado para
dentro do sistema, varrendo a região que poderia um dia ter abrigado planetas terrestres.
A razão pela qual todo mundo
quer ver planetas como a Terra é
óbvia -são potencialmente os
lugares em que a vida tem mais
chance de surgir. Entender quão
comuns são sistemas como o solar é um grande passo para inferir
a raridade da vida no Universo.
Se houver mesmo planetas terrestres em torno de HD 70642, será o primeiro caso genuinamente
similar ao do Sol, após mais de
uma centena de sistemas já revelados. "Se fôssemos pegar os números hoje, diríamos que nossa
arquitetura é relativamente rara,
emergindo em cerca de 1% dos
casos", diz Butler. "Mas ainda não
temos números suficientes para
saber se a estimativa é correta."
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