São Paulo, quinta-feira, 04 de agosto de 2011

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Terra já teve uma segunda lua, que colidiu com a atual

Os dois satélites teriam se formado ao mesmo tempo e convivido durante milhares de anos antes da colisão

Novo estudo explica a origem das grandes elevações no lado distante da Lua, que não é visível da Terra

GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO

A Terra já teve duas luas e, mais de 4 bilhões de anos atrás, elas se chocaram. A menor levou a pior e acabou esmagada por aquela que vemos no céu até hoje. O incidente, no entanto, deixou marcas: o satélite tem um lado "torto", assimétrico.
É essa a explicação que uma dupla de cientistas propõe, em artigo publicado hoje, para explicar as enormes diferenças na superfície entre os dois lados do satélite.
Os pesquisadores acreditam que as duas luas se formaram no mesmo evento: uma colisão entre a Terra e um objeto do tamanho de Marte ainda nos primórdios do Sistema Solar.
A grande quantidade de resíduos que esse choque provocou teria dado origem aos dois satélites.
A minilua teria cerca de um terço do diâmetro da atual (1.200 km), mas apenas 4% de sua massa.
Usando simulações e cálculos avançados no computador, os autores do trabalho, publicado na revista "Nature", concluíram que o outro satélite, antes de atingir a Lua, passou milhares de anos convivendo com ela.
A minilua só não foi destruída antes devido à localização estratégica que ela acabou ocupando.
Ela se encontrava no que se chama de órbita troiana: pontos localizados à frente ou atrás da órbita da Lua, em posições onde a gravidade dela e a da Terra estavam equilibradas. Uma área mais "calma" e estável para o desenvolvimento do objeto.
Com o tempo e a expansão da órbita da nossa atual Lua, a trajetória da sua companheira acabou se desestabilizando, e elas colidiram.

CHOQUE
A batida teria acontecido em uma velocidade relativamente baixa. Algo aproximadamente entre 7.200 km/h e 10.800 km/h.
Como a Lua ainda estava "mole" -não havia se solidificado por completo após a formação-, o choque "lento" teria provocado as enormes elevações de mais de 2 km presentes hoje, ao invés de uma grande cratera.
Boa parte do material -que tinha essencialmente a mesma composição do da Lua- acabou "espalhada" por nosso satélite como uma camada muito espessa.
Com o impacto, o magma (grosso modo, rocha liquefeita) que ainda existia na Lua foi empurrado para o outro lado, o que explicaria por que certos elementos, como o fósforo e o urânio, estão concentrados na crosta.

CRÍTICA
"Do ponto de vista da simulação do choque entre as duas luas, o artigo é impecável. O modelo é muito bom. as hipóteses que eles colocam são bem razoáveis", avalia Fernando Roig, pesquisador do Observatório Nacional.
Para ele. no entanto, o que ainda precisa de mais esclarecimentos são os modelos orbitais no momento da colisão entre os corpos. "É o elo fraco do artigo. Precisa ser mais esclarecido", avalia o cientista.


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