São Paulo, Sábado, 04 de Setembro de 1999
Índice

CIÊNCIA
EUA desaconselham proibição a transgênicos

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília

O governo dos EUA está convencido de que os produtos alimentares transgênicos no mercado são seguros e não quer impor a outros países sua posição, mas afirma que "seria uma grande perda se decisões (de qualquer nação) viessem a proibir ou desacelerar o desenvolvimento dessa tecnologia".
Essa foi, em síntese, a mensagem que o subsecretário de Estado para Assuntos Econômicos Comerciais norte-americano, Alan Larson, transmitiu durante a teleconferência que realizou esta semana com jornalistas e autoridades do Brasil, da Argentina e do México.
Larson deixou clara a disposição dos Estados Unidos de lutar contra a União Européia sobre esse tema na "Rodada do Milênio", que começa em dois meses em Seattle (Costa Oeste dos EUA) e tem como objetivo chegar a um novo acordo mundial de comércio até 2002.
"Há falta de confiança entre o público europeu em relação aos seus sistemas de regulamentação, porque eles são muito suscetíveis a influências políticas", disse Larson. "Faltam transparência e um sistema para toda a Europa."
Estima-se que as barreiras da União Européia a produtos transgênicos dos EUA possam representar perdas potenciais de US$ 1 bilhão por ano para os norte-americanos. Larson falou em US$ 200 milhões anuais de prejuízo para o seu país causados pelos bloqueios já existentes.
Os EUA se opõem à rotulagem obrigatória de produtos transgênicos (ao contrário da Europa, que a apóia). Larson argumenta que a rotulagem compulsória só faz sentido quando há risco à saúde do consumidor, o que, segundo ele, não existe no caso dos alimentos transgênicos.
"A rotulagem só iria causar confusão entre os consumidores e solapar a confiança no sistema todo", afirmou ele. Mas os EUA não se opõem à possibilidade de que produtos orgânicos (não transgênicos) tenham etiquetas que os identifiquem como tais, "desde que não contenham inverdades".

Efeitos nocivos
Um conterrâneo de Larson (nascido e criado, como ele, no Estado de Iowa, importante produtor agrícola do Meio-Oeste dos EUA), o professor John Fagan, disse, em seminário no Rio Grande do Sul, também esta semana, coisas muito diferentes de suas posições.
Segundo Fagan, que trabalhou na Food and Drug Administration (FDA, agência do governo norte-americano que autoriza a comercialização de produtos alimentícios), os defensores dos alimentos transgênicos escondem importantes etapas da engenharia genética.
Para ele, a situação atual dos transgênicos é similar à do pesticida DDT em 1947, quando só seus efeitos positivos eram conhecidos. Levou 20 anos para que fossem comprovados os malefícios à saúde humana provocados pelo pesticida.
Larson contra-argumenta que "é óbvia a preocupação com segurança nos EUA": os produtos transgênicos "não são apenas produzidos nos EUA, também são consumidos ali", disse.
Segundo ele, 35% do milho e mais de 50% da soja dos Estados Unidos atualmente têm origem transgênica.
"Não tenho informação de que alguém, com base científica, conteste a segurança para o consumidor desses produtos", disse.
Para o subsecretário de Estado, é possível para qualquer país desenvolver produção orgânica de modo "compatível e simultâneo" com a tecnologia transgênica.
No entanto, ele acha que seria uma perda impedir o desenvolvimento da biotecnologia que, acredita, permitirá poupar recursos naturais, abaixar custos, aumentar produção, criar culturas resistentes à seca e usar menos pesticidas, sem risco para o consumidor.


Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.