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CIÊNCIA
EUA desaconselham proibição a transgênicos
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
O governo dos EUA está convencido de que os produtos alimentares transgênicos no mercado são seguros e não quer impor a
outros países sua posição, mas
afirma que "seria uma grande
perda se decisões (de qualquer
nação) viessem a proibir ou desacelerar o desenvolvimento dessa
tecnologia".
Essa foi, em síntese, a mensagem que o subsecretário de Estado para Assuntos Econômicos
Comerciais norte-americano,
Alan Larson, transmitiu durante a
teleconferência que realizou esta
semana com jornalistas e autoridades do Brasil, da Argentina e do
México.
Larson deixou clara a disposição dos Estados Unidos de lutar
contra a União Européia sobre esse tema na "Rodada do Milênio",
que começa em dois meses em
Seattle (Costa Oeste dos EUA) e
tem como objetivo chegar a um
novo acordo mundial de comércio até 2002.
"Há falta de confiança entre o
público europeu em relação aos
seus sistemas de regulamentação,
porque eles são muito suscetíveis
a influências políticas", disse Larson. "Faltam transparência e um
sistema para toda a Europa."
Estima-se que as barreiras da
União Européia a produtos transgênicos dos EUA possam representar perdas potenciais de US$ 1
bilhão por ano para os norte-americanos. Larson falou em US$
200 milhões anuais de prejuízo
para o seu país causados pelos
bloqueios já existentes.
Os EUA se opõem à rotulagem
obrigatória de produtos transgênicos (ao contrário da Europa,
que a apóia). Larson argumenta
que a rotulagem compulsória só
faz sentido quando há risco à saúde do consumidor, o que, segundo ele, não existe no caso dos alimentos transgênicos.
"A rotulagem só iria causar confusão entre os consumidores e solapar a confiança no sistema todo", afirmou ele. Mas os EUA não
se opõem à possibilidade de que
produtos orgânicos (não transgênicos) tenham etiquetas que os
identifiquem como tais, "desde
que não contenham inverdades".
Efeitos nocivos
Um conterrâneo de Larson
(nascido e criado, como ele, no
Estado de Iowa, importante produtor agrícola do Meio-Oeste dos
EUA), o professor John Fagan,
disse, em seminário no Rio Grande do Sul, também esta semana,
coisas muito diferentes de suas
posições.
Segundo Fagan, que trabalhou
na Food and Drug Administration (FDA, agência do governo
norte-americano que autoriza a
comercialização de produtos alimentícios), os defensores dos alimentos transgênicos escondem
importantes etapas da engenharia
genética.
Para ele, a situação atual dos
transgênicos é similar à do pesticida DDT em 1947, quando só
seus efeitos positivos eram conhecidos. Levou 20 anos para que fossem comprovados os malefícios à
saúde humana provocados pelo
pesticida.
Larson contra-argumenta que
"é óbvia a preocupação com segurança nos EUA": os produtos
transgênicos "não são apenas
produzidos nos EUA, também
são consumidos ali", disse.
Segundo ele, 35% do milho e
mais de 50% da soja dos Estados
Unidos atualmente têm origem
transgênica.
"Não tenho informação de que
alguém, com base científica, conteste a segurança para o consumidor desses produtos", disse.
Para o subsecretário de Estado,
é possível para qualquer país desenvolver produção orgânica de
modo "compatível e simultâneo"
com a tecnologia transgênica.
No entanto, ele acha que seria
uma perda impedir o desenvolvimento da biotecnologia que, acredita, permitirá poupar recursos
naturais, abaixar custos, aumentar produção, criar culturas resistentes à seca e usar menos pesticidas, sem risco para o consumidor.
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