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CIÊNCIA
Há 40 anos, a ex-União Soviética conseguia lançar o primeiro satélite artificial, que abriu a corrida espacial
Após Sputnik, lixo polui órbita da Terra
RICARDO BONALUME NETO
especial para a Folha
Quarenta anos depois de ter sido
iniciada a exploração espacial pela
ex-URSS, existe bem mais lixo do
que objetos úteis em órbita da Ter
ra. Contados apenas os objetos
identificáveis, existem 6.218 arte
fatos sobrevoando o planeta, dos
quais apenas 2.445 são classificá
veis como "carga útil" (veja qua
dro nesta página).
E a própria definição de "carga
útil" deixa a desejar do ponto de
vista ambiental. Ela inclui também
o estágio do foguete que levou o
satélite, ou a plataforma na qual
ele estava afixado. Sem contar que
depois que o satélite pára de fun
cionar, deixa de ser útil. Lixo pro
priamente dito são restos de um
foguete que explodiu.
Desde que em 4 de outubro de
1957 os primeiros objetos foram
lançados em órbita terrestre, se
guiram-se quase 25 mil artefatos,
dos quais mais da metade era lixo,
ou mais que isso, se for contabili
zada a "carga útil" que foi torna
da inútil.
A poluição do espaço começou
com o primeiro satélite artificial, o
Sputnik-1, da então União Soviéti
ca, que partiu de uma base no Ca
zaquistão, na Ásia. Ele pode ter si
do o primeiro satélite, mas o pri
meiro lixo espacial foi um pedaço
do foguete modelo 8K71PS que o
transportou.
Esse primeiro pedaço caiu na
Terra -a chamada "reentrada na
atmosfera"- em 1º de dezembro
de 1957. O próprio Sputnik-1 -co
nhecido também como PS-1-
"reentrou" em abril de 1958.
Primeiro satélite
O primeiro satélite artificial era
uma pequena esfera de 58 centí
metros de diâmetro e 83,6 kg com
dois transmissores de rádio a bor
do. Desde então os satélites au
mentaram muito de tamanho. Um
satélite Landsat, de sensoriamento
remoto (observação da superfí
cie), pesa quase duas toneladas.
Desde 1962, os países que lançam
objetos em órbita da Terra têm a
obrigação de registrar os lança
mentos com as Nações Unidas. O
mais antigo objeto ainda em órbita
é o satélite norte-americano Van
guard-1, lançado em março de
1958.
Um "satélite artificial" é qual
quer objeto colocado em órbita da
Terra, como se fosse uma pequena
Lua (o satélite natural do planeta).
Os satélites se diversificaram mui
to nesses 40 anos -podem servir
para pesquisa científica, para fins
comerciais ou militares.
A força de atração gravitacional
exercida pela Terra sobre os outros
corpos celestes -incluindo satéli
tes artificiais- diminui com a dis
tância do planeta. O campo gravi
tacional, porém, apenas diminui,
nunca desaparece, por isso a ex
pressão "ausência de gravidade"
é falsa.
O satélite fica em órbita graças a
um equilíbrio entre a gravidade e a
inércia do movimento circular em
torno da Terra, que funciona co
mo uma espécie de "força centrí
fuga" (que age no sentido contrá
rio ao da atração gravitacional ter
restre).
Para um objeto entrar em órbita
da Terra, ele deve ser lançado por
um foguete em direção ao espaço a
uma velocidade entre 8.000 e
11.200 metros por segundo, e ter
uma velocidade horizontal equi
valente a cerca de 28.500 km/h na
superfície do planeta.
Nessa velocidade, a superfície da
Terra gira se afastando da horizon
tal com a mesma rapidez com que
a gravidade atrai o objeto para bai
xo, criando o equilíbrio que o
mantém circulando em torno do
planeta.
Um satélite a 35.840 km sobre a
Terra gira em um período de 24
horas, o mesmo da rotação do pla
neta. Se a órbita for sobre a linha
do Equador, o satélite fica geoesta
cionário, por ficar perpendicular
sobre o mesmo ponto da superfí
cie do planeta.
Os mais importantes satélites de
comunicação são geoestacioná
rios. Existem hoje 718 satélites des
se tipo.
Participação do Brasil
O Brasil lançou um pequeno sa
télite de fabricação nacional, o
SCD-1 (Satélite de Coletas de Da
dos), e usa para telecomunicações
os satélites importados da série
Brasilsat.
Foram apenas seis os "objetos"
colocados em órbita pelo Brasil,
que incluem também um pedaço
do foguete americano Pegasus que
levou em 93 o SCD-1.
O pequeno satélite de 115 kg tor
nou-se, segundo uma estimativa,
o artefato humano de número
22.490 lançado ao espaço.
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