São Paulo, sábado, 4 de outubro de 1997.



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CIÊNCIA
Há 40 anos, a ex-União Soviética conseguia lançar o primeiro satélite artificial, que abriu a corrida espacial
Após Sputnik, lixo polui órbita da Terra

RICARDO BONALUME NETO
especial para a Folha

Quarenta anos depois de ter sido iniciada a exploração espacial pela ex-URSS, existe bem mais lixo do que objetos úteis em órbita da Ter ra. Contados apenas os objetos identificáveis, existem 6.218 arte fatos sobrevoando o planeta, dos quais apenas 2.445 são classificá veis como "carga útil" (veja qua dro nesta página).
E a própria definição de "carga útil" deixa a desejar do ponto de vista ambiental. Ela inclui também o estágio do foguete que levou o satélite, ou a plataforma na qual ele estava afixado. Sem contar que depois que o satélite pára de fun cionar, deixa de ser útil. Lixo pro priamente dito são restos de um foguete que explodiu.
Desde que em 4 de outubro de 1957 os primeiros objetos foram lançados em órbita terrestre, se guiram-se quase 25 mil artefatos, dos quais mais da metade era lixo, ou mais que isso, se for contabili zada a "carga útil" que foi torna da inútil.
A poluição do espaço começou com o primeiro satélite artificial, o Sputnik-1, da então União Soviéti ca, que partiu de uma base no Ca zaquistão, na Ásia. Ele pode ter si do o primeiro satélite, mas o pri meiro lixo espacial foi um pedaço do foguete modelo 8K71PS que o transportou.
Esse primeiro pedaço caiu na Terra -a chamada "reentrada na atmosfera"- em 1º de dezembro de 1957. O próprio Sputnik-1 -co nhecido também como PS-1- "reentrou" em abril de 1958.
Primeiro satélite
O primeiro satélite artificial era uma pequena esfera de 58 centí metros de diâmetro e 83,6 kg com dois transmissores de rádio a bor do. Desde então os satélites au mentaram muito de tamanho. Um satélite Landsat, de sensoriamento remoto (observação da superfí cie), pesa quase duas toneladas.
Desde 1962, os países que lançam objetos em órbita da Terra têm a obrigação de registrar os lança mentos com as Nações Unidas. O mais antigo objeto ainda em órbita é o satélite norte-americano Van guard-1, lançado em março de 1958.
Um "satélite artificial" é qual quer objeto colocado em órbita da Terra, como se fosse uma pequena Lua (o satélite natural do planeta). Os satélites se diversificaram mui to nesses 40 anos -podem servir para pesquisa científica, para fins comerciais ou militares.
A força de atração gravitacional exercida pela Terra sobre os outros corpos celestes -incluindo satéli tes artificiais- diminui com a dis tância do planeta. O campo gravi tacional, porém, apenas diminui, nunca desaparece, por isso a ex pressão "ausência de gravidade" é falsa.
O satélite fica em órbita graças a um equilíbrio entre a gravidade e a inércia do movimento circular em torno da Terra, que funciona co mo uma espécie de "força centrí fuga" (que age no sentido contrá rio ao da atração gravitacional ter restre).
Para um objeto entrar em órbita da Terra, ele deve ser lançado por um foguete em direção ao espaço a uma velocidade entre 8.000 e 11.200 metros por segundo, e ter uma velocidade horizontal equi valente a cerca de 28.500 km/h na superfície do planeta.
Nessa velocidade, a superfície da Terra gira se afastando da horizon tal com a mesma rapidez com que a gravidade atrai o objeto para bai xo, criando o equilíbrio que o mantém circulando em torno do planeta.
Um satélite a 35.840 km sobre a Terra gira em um período de 24 horas, o mesmo da rotação do pla neta. Se a órbita for sobre a linha do Equador, o satélite fica geoesta cionário, por ficar perpendicular sobre o mesmo ponto da superfí cie do planeta.
Os mais importantes satélites de comunicação são geoestacioná rios. Existem hoje 718 satélites des se tipo.
Participação do Brasil
O Brasil lançou um pequeno sa télite de fabricação nacional, o SCD-1 (Satélite de Coletas de Da dos), e usa para telecomunicações os satélites importados da série Brasilsat.
Foram apenas seis os "objetos" colocados em órbita pelo Brasil, que incluem também um pedaço do foguete americano Pegasus que levou em 93 o SCD-1.
O pequeno satélite de 115 kg tor nou-se, segundo uma estimativa, o artefato humano de número 22.490 lançado ao espaço.



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