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BIOTECNOLOGIA
Menino curado da "doença da bolha" tem condição similar à leucemia; testes são suspensos em Paris e nos EUA
Terapia genética sofre golpe na França
DA REDAÇÃO
O único caso incontroverso de sucesso com terapia genética sofreu um revés grave, que veio a público ontem: um dos bebês que haviam sido curados da "doença
da bolha" na França, há quase três anos, apresentou um problema de saúde semelhante à leucemia.
Cientistas franceses vão agora investigar se o problema -aumento vertiginoso na produção de glóbulos brancos- pode ser atribuído à terapia com DNA inserido em células humanas por vírus tidos como inócuos (veja quadro à dir.). Há indicações de que o DNA corretivo se inseriu numa região do genoma já associada
com leucemia, o gene LmO2.
Autoridades francesas anunciaram a suspensão de todos os experimentos com geneterapia no Hospital Necker de Paris, onde o menino era tratado. Passam bem
outros sete garotos submetidos ao mesmo tratamento contra a imunodeficiência combinada grave ligada ao cromossomo X, ou SCID-X (abreviação em inglês).
A doença é muito rara, afetando
um menino em cada grupo de 75
mil nascidos. O defeito genético
os impede de produzir glóbulos
brancos cruciais para o sistema de
defesa do corpo combater infecções -daí a necessidade de viverem isolados de germes, dentro
das bolhas de plástico.
Como o gene alterado está no
cromossomo X, o problema afeta
só meninos (garotas têm uma cópia extra do X, geralmente com o
gene normal). Se não passarem
por geneterapia, ou por transplante de medula óssea (o que só é
possível em 20% dos casos), morrem por volta de um ano de idade.
Teme-se que a ocorrência tenha
um efeito tão devastador sobre a
geneterapia quanto a morte, em
1999, do norte-americano Jesse
Gelsinger, 18, quatro dias depois
de iniciar terapia genética no Arizona. Alain Fischer, líder do projeto francês, disse que o revés não
deve ser associado com as outras
formas de geneterapia: "As estratégias são diferentes, os problemas são diferentes e os riscos de
toxicidade são diferentes".
Nos EUA, o anúncio feito na
França levou à interrupção de um
teste com quatro meninos e ao
adiamento de dois outros que deveriam começar em breve. Uma
reunião de urgência foi convocada pela FDA (agência de alimentos e fármacos dos EUA) para a
próxima quinta-feira.
O Conselho Consultivo de Terapia Genética do Reino Unido decidiu prosseguir com os experimentos, no Hospital Infantil
Great Ormond Street. "A investigação [francesa" sobre o que
aconteceu vai durar 12 a 18 meses", disse seu presidente, Norman Nevin. "Negar terapia genética [às crianças doentes" seria antiético, desde que os pais estejam
cientes dos riscos associados."
A Alemanha já havia suspendido experimentos desse tipo, por
ter detectado leucemia em testes
com camundongos. Ao todo, incluindo tratamentos para outras
doenças além da SCID-X, há no
mundo 636 testes em curso.
Com agências internacionais
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