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ESPAÇO
Jipe Spirit é o quarto e mais sofisticado aparelho a pousar no planeta e começa exploração marciana em nove dias
Sonda pousa e já manda imagens de Marte
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Foi uma noite de arrepiar para
os engenheiros, técnicos e cientistas envolvidos no esforço que levou ontem ao pouso do Spirit, o
primeiro dos jipes-geólogos construídos pela Nasa para uma nova
rodada de exploração de Marte.
Após dez minutos de silêncio,
um sinal foi captado pelo radiotelescópio de Stanford e confirmado pela sonda orbital Mars Global
Surveyor: o Spirit estava são e salvo no interior da cratera Gusev,
em plena superfície marciana.
Aplausos, berros e assobios tomaram conta da sala de controle
da missão no JPL (Laboratório de
Propulsão a Jato da Nasa), em Pasadena, Califórnia, assim que o
contato foi confirmado. Conforme o previsto, o pouso se deu às
2h35, horário de Brasília.
Aliás, o Spirit fez jus a seu nome.
Num planeta que costuma cobrar
caro pequenos desvios no plano
normal de uma missão (menos da
metade das tentativas resulta em
sucesso), nada poderia ter saído
melhor durante as fases mais delicadas do procedimento.
Os pára-quedas e retropropulsores funcionaram normalmente,
compensando pelos fortes ventos
na região de Gusev, e os "airbags"
também cumpriram seu papel.
O módulo de pouso ainda deu a
sorte de descer com a base virada
para baixo -havia uma chance
de 25% de que isso ocorresse. E,
para completar, o sítio de pouso
mostrou-se um terreno quase totalmente plano, com uma inclinação de apenas dois graus.
Sucesso comemorado
Uma entrevista coletiva foi realizada às 4h30 de ontem, com a
presença de diversos membros da
chefia da missão e da Nasa, entre
eles o administrador Sean O'Keefe, que aproveitou a ocasião para
alfinetar os que dizem que a cultura da agência espacial a impede de
aprender com os próprios erros,
conclusão a que chegaram os investigadores do acidente com o
ônibus espacial Columbia, em fevereiro do ano passado.
A última tentativa americana de
conduzir um pouso não-tripulado em Marte aconteceu em 1999,
com a Mars Polar Lander, e terminou em fracasso. Apenas três veículos, todos americanos, conseguiram sobreviver na superfície
de Marte: as sondas Viking-1 e 2,
em 1976, e a Mars Pathfinder, em
1997. Equipada com o robozinho
Sojourner, essa última missão foi
precursora direta dos novos Mars
Exploration Rovers, batizados
Spirit e Opportunity.
Apesar do desafio, mesmo antes
da descida os envolvidos na missão estavam confiantes. "Pousar
bem não é fácil, mas, se esse time
não conseguisse, nenhuma outra
equipe conseguiria", disse à Folha
Paulo Antônio de Souza Júnior,
físico da Companhia Vale do Rio
Doce que está participando da
missão da Nasa e acompanhou o
pouso do Spirit do JPL.
"[Foi] melhor que o mais otimista sonho que tive sobre o sucesso da missão. Estamos indo
muito bem até agora", disse Souza Júnior, após a descida. "O local
de pouso na Gusev é simplesmente fantástico! Perfeito para o nosso
Spirit caminhar e explorar o ambiente. Estamos de volta!"
As primeiras imagens não tardaram a vir, a partir de uma segunda sessão de contato, desta
vez com a sonda Mars Odyssey,
também em órbita de Marte.
Quando as fotos foram apresentadas à imprensa, Ed Weiler, administrador-associado de ciência espacial da Nasa, destacou: "Pela
primeira vez na história da humanidade, temos uma rede de telecomunicação em outro planeta".
Melhor lugar
A partir das fotos, os cientistas
começaram a trabalhar na identificação do local exato do pouso do
jipe. E, mais uma vez, parecem ter
dado sorte. "Ao que tudo indica,
pousamos exatamente no lugar
mais interessante da cratera Gusev", afirmou Steve Squyres, investigador principal da missão.
Com o sucesso no pouso, o cenário está pronto para pelo menos 90 dias de exploração móvel
no planeta vermelho -mas a Nasa estima que ainda precisará de
nove dias para preparar o Spirit
para o início das pesquisas.
E, no próximo dia 24, o ritual de
ontem deve se repetir: será a vez
do Opportunity, irmão gêmeo do
Spirit, fazer seu pouso em Marte,
mais precisamente numa região
chamada Meridiani Planum.
Enquanto os americanos comemoram seu sucesso, os engenheiros da ESA (Agência Espacial Européia) ainda esperam um contato de seu módulo de pouso marciano, o Beagle-2, que adentrou a
atmosfera do planeta no Natal.
Até agora, nenhum contato foi
estabelecido. A última chance pode vir amanhã, quando a sonda
européia Mars Express, nave-mãe
do Beagle-2, estará na posição
certa para "ouvir" uma transmissão da sonda na superfície.
Com o Spirit e o Opportunity, a
Nasa espera confirmar de maneira definitiva que Marte teve um
passado "molhado", ou seja, teve
regiões da superfície banhadas
por lagos, rios e oceanos de água.
Uma coisa, entretanto, já está clara: a aventura marciana está apenas começando.
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