São Paulo, domingo, 5 de abril de 1998

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PERISCÓPIO
Cientistas descobrem novas funções da "molécula do vício"

JOSÉ REIS
especial para a Folha

A palavra dopamina está relacionada às anomalias produzidas por drogas e outras substâncias como álcool, fumo, heroína, cocaína, maconha, cafeína etc. Os indivíduos que caem nessas armadilhas encontram crescentes prazeres, dos quais só podem sair mediante gigantescos esforços e sofrimentos muito grandes.
Neurotransmissores são substâncias que estabelecem comunicações entre os neurônios, operações que se realizam nas fendas que ficam entre aquelas células (sinapses). Dos cerca de 50 neurotransmissores conhecidos, uma meia dúzia é representada por aditivos ou drogas viciadoras.
São raros os neurônios que produzem esses neurotransmissores, em relação ao número de neurônios do cérebro: algumas dezenas de milhares em comparação a bilhões. Apesar disso, as múltiplas interconexões entre os neurônios criam rede infinita, que atinge todo o cérebro.
Talvez o mais importante neurotransmissor seja, no momento, a dopamina, que há pouco foi reconhecida como a molécula-chave do vício, aquela cujos efeitos abrangem os demais.
A dopamina é produzida nas profundezas do cérebro e reage a toda manifestação agradável -um abraço, um beijo, comer bem, a relação sexual. Tudo isso desperta surtos químicos e elétricos na substância cerebral.
A dopamina transmite sensações de prazer, mas age dentro de certos limites: muito pouca, provoca os tremores do mal de Parkinson; em grande quantidade, desperta delírios alucinatórios da esquizofrenia. Como disse um especialista, a dopamina se comporta como agente da doença mental.
A dopamina é todavia mais do que uma molécula de prazer. Ela também exerce poderosa influência sobre a memória e o aprendizado. Só agora está sendo devidamente apreciado o grau em que a memória e o aprendizado sustentam esse processo.
Importante é o papel dos genes na determinação do caminho que o indivíduo vai seguir -por exemplo, se vai ser um adicto. Vários genes de dopamina têm sido propostos, mas sem resultado positivo. Mas, ao considerar essa função genética, é preciso ter em vista o papel do ambiente.
Várias experiências com a dopamina terão seguramente efeito no tratamento de doenças. Uma boa notícia é que os progressos na biologia da dopamina deverão aumentar nossa capacidade de tratar doenças nas quais ela esteja envolvida.



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