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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Fapesp lançará hoje programa para produzir inovação a partir de espécies paulistas
Rede busca patentes sobre biodiversidade
CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA
Depois de terem passado cinco
anos em campo estudando, coletando e catalogando espécimes de
fauna e flora do Estado, pesquisadores de São Paulo se preparam
para a "fase dois": ajudar a transformar o conhecimento acumulado sobre a biodiversidade em dinheiro. Eles lançam hoje na capital paulista o embrião da primeira
rede de bioprospecção do país.
A RedeBio, acrônimo de Rede
Biota de Bioprospecção e Ensaios,
(www.redebio.org.br) é uma filha do programa Biota da Fapesp
(Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo), que desde 1998 se dedica ao estudo da diversidade biológica paulista.
O objetivo do novo programa,
também financiado pela Fapesp, é
gerar inovação tecnológica, na
forma de medicamentos, cosméticos ou produtos alimentícios, a
partir de substâncias puras ou extratos obtidos pelos cientistas do
Biota com base em plantas, fungos, microrganismos e animais.
Esses extratos seriam testados
contra câncer, malária, leishmaniose e mal de Chagas, e também
como analgésicos.
"Se eu identifiquei uma enzima
que pode servir de alvo contra o
tripanossoma [causador do mal
de Chagas], posso fazer um
"screening" [varredura] de substâncias que atuam sobre essa enzima", exemplifica Glaucius Oliva, do Instituto de Física da USP
de São Carlos, um dos coordenadores da RedeBio.
"A intenção é agregar valor
àquilo que o Biota tem feito em
relação ao conhecimento da biodiversidade do Estado de São
Paulo", disse Oliva à Folha.
As substâncias isoladas pela rede -estimam-se cerca de 10 mil
extratos por ano a partir de
2004- serão depositadas num
banco de acesso fechado. Empresas que quiserem pesquisar essas
substâncias para produzir um remédio, por exemplo, precisarão
fazer um contrato com a Fapesp.
Patentes
As patentes, quando -e se-
vierem, serão repartidas entre a
fundação, as instituições acadêmicas responsáveis e a indústria.
Isso evitaria problemas como o
polêmico acordo da empresa paraestatal Bioamazônia com a
multinacional farmacêutica Novartis, em 2000, para fazer bioprospecção na Amazônia -que
daria à gigante suíça a exclusividade sobre pesquisas da biodiversidade amazônica.
De outro lado, aumentaria também a participação de cientistas
brasileiros no processo de descoberta de medicamentos, diferentemente do que ocorre com países
como a Costa Rica. Lá, segundo
Oliva, os pesquisadores locais
acabam atuando como meros coletores de espécimes para cientistas estrangeiros.
"Uma coisa é passar para a indústria farmacêutica o extrato
bruto. Outra é avançar na pesquisa", diz a cientista Vanderlan Bolzani, do Instituto de Química da
Unesp de Araraquara.
A criação da rede pela Fapesp
reflete também um problema crônico da pesquisa no Brasil: os investimentos em inovação tecnológica são assumidos pelo Estado,
não pela iniciativa privada.
Em outros países, a busca de novas substâncias de potencial interesse farmacêutico é realizada pelas empresas. O processo é caro,
lento e altamente arriscado. A
maioria das descobertas jamais
chega a virar uma droga.
Segundo Oliva, empresas farmacêuticas brasileiras não têm dinheiro para aplicar em todo o
processo -da prospecção à farmácia, uma pesquisa farmacêutica pode levar uma década.
O capital de risco para investimentos desse tipo também costuma passar longe do Brasil. Uma
exceção foram os projetos genoma da Fapesp, que atraíram esse
capital e deram origem a duas
empresas, a Alellyx (genômica) e
a Scilla (bioinformática).
Oliva e Bolzani dizem esperar
que a RedeBio vá ter um efeito semelhante. "Podemos ter empresas envolvidas em diferentes momentos", diz o cientista da USP.
O grupo de Bolzani, em Araraquara, de onde partiu a idéia de
uma rede de bioprospecção, já conhece esse envolvimento. Em cinco anos, ele reuniu 1.500 extratos
prontos e duas patentes pedidas
de substâncias puras modificadas. Uma delas despertou interesse do laboratório Eurofarma, que
quer pesquisar uma droga.
"Também temos dois projetos
com financiamento do Fundo
Verde-Amarelo [de inovação],
um com a Natura e outro com a
Eurofarma", diz a química. "A indústria está interessada."
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