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MEDICINA
Cientistas revelam ligação entre alimentação e velhice e prometem remédio antienvelhecimento em 5 ou 10 anos
Gene pode ajudar a emagrecer e viver mais
MARCUS VINICIUS MARINHO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Já era fato estabelecido pela
ciência -com a ajuda de camundongos- que comer menos pode
prolongar a vida. Pesquisadores
americanos conseguiram agora,
efetivamente, desvendar a ligação
bioquímica entre os processos de
alimentação e envelhecimento. E
prometem para daqui a cinco ou
dez anos uma droga que pode
unir o útil ao agradável: emagrecer e viver mais.
A equipe do biólogo Leonard
Guarente, do MIT (Instituto de
Tecnologia de Massachusetts, nos
EUA), pesquisou roedores e desvendou o funcionamento de um
gene chamado Sirt1 (abreviação
de sirtuína-1), revelado como um
mediador dos efeitos de prolongamento da vida trazidos pela restrição calórica. Segundo o cientista, a descoberta do mecanismo
pode levar à produção de um remédio que impeça a deposição de
gordura e traga longevidade.
"Esse é o único mecanismo conhecido até agora que liga os mecanismos de restrição calórica e
envelhecimento. Não sabemos
ainda se é o único que existe, mas
já é um bom ponto de partida",
diz Guarente à Folha. "Sabemos
que se aplica aos camundongos e
que deve se aplicar aos humanos
também, já que todos os mamíferos parecem ter um gene semelhante. Mas não sabemos ainda as
particularidades do funcionamento desse gene nas pessoas."
A pesquisa de Guarente, publicada na última edição da revista
"Nature" (www.nature.com), é
baseada no que acontece quando
os roedores são submetidos a
uma dieta de poucas calorias.
Quando isso ocorre, a proteína
especificada pelo gene Sirt1 "desliga" o funcionamento de genes
relacionados ao regulador de gordura conhecido como PPAR-gama. Com isso, não só o depósito
de gordura é impedido como a
queima de tecidos adiposos é acelerada. Resultado: os camundongos passam a viver mais e a desenvolver menos doenças típicas da
velhice, como arteriosclerose, diabetes e câncer.
Já se sabia que a restrição calórica funcionava nos camundongos,
suprimindo a grande maioria das
mudanças na atividade genética
ligadas à idade, o que sugeria que
uma dieta draconiana provoca
uma "reforma" metabólica que
imita muitas das características
da juventude. No entanto, o grande número de genes envolvidos
nesse processo desanimaria qualquer empresa farmacêutica interessada em produzir artificialmente esses efeitos.
O Sirt1 trouxe a corrida pelo
"elixir da vida" de volta ao jogo, já
que funciona como uma espécie
de desencadeador de um processo complexo que rapidamente se
espalha pelo corpo e impede a deposição de gordura. O futuro medicamento, pelo qual Guarente já
trabalha quase em período integral, seria algo que estimulasse o
Sirt1 a funcionar mais.
"Estamos ainda observando os
camundongos para ver se conseguimos um bom remédio, mas
também já fazemos pesquisas
com outros primatas que não o
homem. É o segundo passo para
um remédio", diz Guarente. Para
quando? "Pode ser que aconteça
antes, mas uma resposta responsável para essa pergunta seria algo
entre cinco e dez anos."
O pesquisador já tinha descoberto que um gene de leveduras
conhecido como SIR2, correspondente ao Sirt1 de camundongos e humanos, era responsável
por regular a longevidade em fungos unicelulares. Para Guarente, a
chave para a sonhada longa vida
dos humanos pode ser também
usar o gene de modo a emperrar a
maquinaria do corpo responsável
pela deposição de gordura.
Se a motivação para a pesquisa é
pessoal? "Bem, na verdade, sim",
diz Guarente, 51. "Sou magro, faço exercício e musculação. Mas
acabo comendo muitas calorias,
apesar de querer viver mais, como
todo mundo. Talvez depois dessa
pesquisa eu comece a comer diferente. As calorias fazem muita diferença nessa história", afirma.
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