São Paulo, quarta-feira, 05 de julho de 2000


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PALEONTOLOGIA
Pesquisadora dos EUA relaciona esqueletos de animais extintos com criaturas e monstros greco-romanos
Fósseis podem explicar mitos antigos

Reprodução
Detalhe de uma ânfora datada de 525 a.C. mostra semideus Hércules matando o Leão de Neméia


JOHN NOBLE WILFORD
DO "THE NEW YORK TIMES"

Fósseis podem ser a explicação para os monstros, gigantes e outras criaturas fabulosas da mitologia antiga. A pesquisadora Adrienne Mayor encontrou correspondências entre esses vestígios de animais pré-históricos e mitos gregos e romanos registrados em textos, ilustrações e objetos como vasos e ânforas.
"Os lugares em que teriam se passado os mitos gregos estão cheios de fósseis", disse Mayor, que estuda o folclore clássico (dos antigos gregos e romanos) e não está ligada a nenhuma instituição.
Segundo ela, os povos antigos teriam visto os fósseis como confirmação de seus mitos. Em alguns casos, os fósseis teriam inspirado a criação de novas lendas.
Mayor é a autora do livro "The First Fossil Hunters: Paleontology in Greek and Roman Times" (Os Primeiros Caçadores de Fósseis: Paleontologia nos Tempos Gregos e Romanos), publicado em maio nos EUA pela Princeton University Press.
Seu estudo desafia a visão de que, na Grécia e na Roma antigas, não se interpretavam fósseis como vestígios de seres do passado. Esse avanço conceitual, que marcou o nascimento da paleontologia, teria sido feito pelo naturalista francês Georges Cuvier em 1806.
Entretanto, Mayor descobriu que, como os pesquisadores atuais, os gregos e romanos antigos colecionavam e mediam os ossos petrificados que encontravam e exibiam-nos em templos e museus. Por reconhecer fósseis como evidência de vida no passado, teriam antecedido Cuvier em mais de 2.000 anos.

Gigantes e grifos
Ossos gigantes de mamíferos, por exemplo, sustentariam a crença em heróis de 5 m. Outro animal mitológico, o grifo, também teria sido inspirado nos fósseis. Registros do século 7 a.C. contam que havia criaturas no deserto de Góbi (Ásia Central) que pareciam "leões, mas tinham bicos e asas de águia". A descrição teria sido baseada na observação de esqueletos de dinossauros encontrados no deserto.
Embora as interpretações de Mayor possam provocar críticas de alguns estudiosos, a maior parte das respostas ao seu livro foi favorável. John Horner, paleontólogo do Museu das Montanhas Rochosas (em Montana, nos EUA), chamou-o de "melhor relato sobre o significado real das criaturas míticas". Uma resenha da revista científica norte-americana "Science" considerou a proposição de Mayor bem documentada.
Já Kate Brown, antropóloga da Universidade de Bristol (Reino Unido), acha que algumas das conexões estabelecidas por Mayor podem ser exageradas. Brown diz que muitas culturas têm mitologia animal fabulosa "sem o benefício de depósitos de fósseis".
"Muitos estudiosos não estão acostumados à expressão do conhecimento natural em linguagem mitológica", disse Mayor. Em palestra recente na Universidade Cornell (EUA), Mayor defendeu que alguns dos achados fósseis teriam inspirado não só mitos, mas "conceitos originais no pensamento paleontológico".


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