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Laboratório caça micróbio candidato a ET
Instalação no interior de SP vai estudar microrganismos que resistiriam a ambiente de planetas fora do Sistema Solar
Astrônomo da USP afirma que pesquisa pode ampliar o número total de objetos
considerados habitáveis por seres vivos no Universo
RAFAEL GARCIA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Um novo laboratório a ser
construído em Valinhos, no interior paulista, será o primeiro
do país a testar indivíduos para
verificar se são capazes de suportar viagens espaciais. O segundo astronauta brasileiro,
porém, não será um humano, e
sim um microrganismo.
Como ainda não foi encontrado nenhum planeta similar à
Terra no Universo, o que o novo projeto tentará descobrir é
quais organismos poderiam viver em luas e planetas já conhecidos. Um dos idealizadores do
laboratório é Eduardo Janot
Pacheco, professor do Instituto
Astronômico e Geofísico da
USP. Segundo ele, a ideia é
construir uma câmara de simulação de ambientes extremos
para avaliar a vulnerabilidade
de alguns seres vivos a altas
temperaturas, radiação e situações às quais a maioria dos organismos não sobrevive.
O dinheiro para o projeto, em
tese, já existe. Deverá sair do
Inespaço, um dos novos INCTs
(Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia) criados pelo
governo federal, que possui
verba prevista de R$ 7 milhões
para um período de três anos.
Valinhos foi escolhida porque a
USP já mantém um observatório lá. O novo laboratório deve
aproveitar a infraestrutura.
Mas os cientistas não precisam esperar a nova câmara para trabalhar. Janot apresenta
nesta semana, na Assembleia
Geral da IAU (União Astronômica Internacional), no Rio,
uma pré-seleção dos candidatos à "panspermia", o espalhamento da vida pelo Universo.
Ao extremo
Junto com os biofísicos Ivan
Paulino Lima e Cláudia Lage,
da UFRJ, ele identificou diversos extremófilos -micróbios
resistentes a condições extremas- que seriam capazes de
viver fora da Terra.
O que o trio fez foi cruzar dados de inúmeros trabalhos de
astronomia e de biologia. Após
Janot determinar as estimativas da temperatura média de
diversos planetas já conhecidos
fora do Sistema Solar (os exoplanetas), os pesquisadores listaram quais deles poderiam
abrigar micróbios como a Pyrolobus fumarii, que vive em fendais termais no oceano, suportando até 130C.
"Não é só que eles sobrevivem a essas condições extremas. Eles gostam de viver assim", diz Janot, que diz querer
redefinir aquilo que os astrônomos chamam de "zona habitável". Hoje, essa é a classificação das zonas orbitais que não
estão nem tão perto nem tão
longe de seus sóis e são capazes
de abrigar a água líquida.
"Aqui, a água é o solvente onde as reações necessárias à vida
acontecem", explica Janot,
alertando, porém, que talvez isso não seja uma regra geral.
Afinal, existem micróbios capazes de resistir a uma vasta
gama de condições inóspitas.
"Já que esses extremófilos sobreviveriam fora da zona habitável clássica, proponho que
consideremos importantes
também os planetas e luas que
estejam na zona habitável desses organismos", diz Janot. Alguns exoplanetas com tamanho similar ao de Netuno têm
temperaturas mínimas de
120C, viáveis para certos extremófilos terrestres.
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