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MEDICINA
Moléculas derivadas de compostos baratos podem combater metástase
Vinagre modificado ataca tumor
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Substâncias derivadas da aspirina e do vinagre podem se tornar
armas baratas e eficazes contra o
câncer. Em testes feitos por pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Botucatu, elas conseguiram eliminar
tumores no fígado.
A pesquisa, que recebeu da Academia Nacional de Medicina o
prêmio de melhor trabalho de cirurgia experimental de 2002, foi
testada com sucesso em coelhos.
"Mas não vejo a aplicação em humanos muito distante, talvez em
dois anos", disse à Folha o médico Rogério Saad Hossne, 33, criador da nova técnica.
O pesquisador explica que as
soluções utilizadas no tratamento
contêm moléculas derivadas do
ácido acetilsalicílico (o nome químico da aspirina) e do ácido acético, principal componente do vinagre. As duas substâncias foram
testadas contra metástases no fígado -uma metástase é o aparecimento de um foco secundário
de câncer, em outro tecido do corpo, a partir do tumor principal.
A idéia era combater as metástases que aparecem no fígado como consequência de tumores no
abdômen, principalmente os do
intestino grosso e do cólon.
"Hoje, as opções para tratar essas metástases se resumem à operação ou, quando o tumor é grande demais para isso, usam-se técnicas paliativas, como quimioterapia local", afirma o médico.
Entre as técnicas utilizadas para
isso, Hossne cita injeções locais de
álcool sem mistura de água. Em
sua dissertação de mestrado, o
cientista testou ácido acético, cuja
ação já era conhecida. Como o
ácido acetilsalicílico, numa dada
cadeia de reações, pode ser produzido a partir do ácido acético,
Hossne também decidiu testá-lo.
Cerca de 150 coelhos, que receberam em seus fígados enxertos
de células tumorais, foram submetidos ao tratamento. "A injeção localizada de substâncias derivadas dos dois ácidos causou a
necrose do tumor, destruindo o
núcleo das células e matando-as",
afirma Hossne. "As metástases
sumiram completamente em
quase todos os casos."
O médico começará a testar a
tática em cães em breve. A idéia é
patentear as soluções criadas na
pesquisa. "Seria um tratamento
barato e de fácil aplicação em ambulatórios", diz Hossne. A técnica
não mostrou efeitos colaterais.
O médico adverte que, mesmo
assim, o novo tratamento ainda
seria paliativo, já que novas metástases poderiam aparecer.
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