São Paulo, sábado, 05 de outubro de 2002

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MEDICINA

Moléculas derivadas de compostos baratos podem combater metástase

Vinagre modificado ataca tumor

REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Substâncias derivadas da aspirina e do vinagre podem se tornar armas baratas e eficazes contra o câncer. Em testes feitos por pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Botucatu, elas conseguiram eliminar tumores no fígado.
A pesquisa, que recebeu da Academia Nacional de Medicina o prêmio de melhor trabalho de cirurgia experimental de 2002, foi testada com sucesso em coelhos. "Mas não vejo a aplicação em humanos muito distante, talvez em dois anos", disse à Folha o médico Rogério Saad Hossne, 33, criador da nova técnica.
O pesquisador explica que as soluções utilizadas no tratamento contêm moléculas derivadas do ácido acetilsalicílico (o nome químico da aspirina) e do ácido acético, principal componente do vinagre. As duas substâncias foram testadas contra metástases no fígado -uma metástase é o aparecimento de um foco secundário de câncer, em outro tecido do corpo, a partir do tumor principal.
A idéia era combater as metástases que aparecem no fígado como consequência de tumores no abdômen, principalmente os do intestino grosso e do cólon.
"Hoje, as opções para tratar essas metástases se resumem à operação ou, quando o tumor é grande demais para isso, usam-se técnicas paliativas, como quimioterapia local", afirma o médico.
Entre as técnicas utilizadas para isso, Hossne cita injeções locais de álcool sem mistura de água. Em sua dissertação de mestrado, o cientista testou ácido acético, cuja ação já era conhecida. Como o ácido acetilsalicílico, numa dada cadeia de reações, pode ser produzido a partir do ácido acético, Hossne também decidiu testá-lo.
Cerca de 150 coelhos, que receberam em seus fígados enxertos de células tumorais, foram submetidos ao tratamento. "A injeção localizada de substâncias derivadas dos dois ácidos causou a necrose do tumor, destruindo o núcleo das células e matando-as", afirma Hossne. "As metástases sumiram completamente em quase todos os casos."
O médico começará a testar a tática em cães em breve. A idéia é patentear as soluções criadas na pesquisa. "Seria um tratamento barato e de fácil aplicação em ambulatórios", diz Hossne. A técnica não mostrou efeitos colaterais.
O médico adverte que, mesmo assim, o novo tratamento ainda seria paliativo, já que novas metástases poderiam aparecer.


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