São Paulo, quinta-feira, 05 de dezembro de 2002

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BIOTECNOLOGIA

Em carta para a equipe de transição, pesquisadores da área oferecem auxílio técnico para decisão política

Cientista quer discutir transgênico com PT

Divulgação/Haroldo Castro/CI
Araraúnas (Anodorhynchus hyacinthinus) do Pantanal, um dos 37 biomas do livro 'Wilderness'


CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA

Um grupo de cerca de 50 pesquisadores da área biotecnológica entregou ontem ao deputado eleito Sigmaringa Seixas (PT-DF) uma carta na qual eles se oferecem para discutir com o próximo governo a questão dos organismos geneticamente modificados.
A carta, que deverá ser entregue pessoalmente pelos cientistas à equipe de transição, é motivada por preocupações sobre o futuro da pesquisa na área no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
De um lado, setores do PT defendem a moratória aos transgênicos, como está expresso no programa de governo de Lula para a área ambiental. ONGs como o Greenpeace também pressionam pelo banimento da tecnologia aplicada a alimentos.
De outro, empresas como a Monsanto fazem lobby pela liberação comercial dos plantios transgênicos, suspensa por decisão judicial. Conforme revelou a Folha em reportagem no dia 24 de novembro, empresas de biotecnologia dos EUA querem usar o programa Fome Zero para reintroduzir a questão.
Representantes das ONGs da Campanha por um Brasil Livre de Transgênicos devem se reunir hoje com o economista José Graziano da Silva, cotado para assumir a coordenação do Fome Zero, para entregar também uma carta -esta pedindo que o país resista ao lobby das multinacionais.
Segundo Maria Helena Goldman, da USP de Ribeirão Preto, a carta dos cientistas é uma preocupação de pesquisadores que estão se sentindo ameaçados pela falta de debate técnico da questão.
"Nenhuma posição extremada é favorável", afirmou a pesquisadora. Segundo ela, o objetivo dos signatários da carta -todos pertencentes a instituições de pesquisa como USP, Unicamp e Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária)- é fornecer subsídios para que o governo decida o que fazer.
"O que não pode ser impedido é a pesquisa na área", disse. "Se o governo decidir que o país será livre de transgênicos e um dia mudar de posição, vai ser difícil recuperar o tempo perdido", afirmou.
Os cientistas reclamam, ainda, de barreiras impostas pelo governo aos experimentos com transgênicos. Desde maio do ano passado, qualquer experiência em laboratório precisa de autorização de quatro ministérios (Saúde, Agricultura, Meio Ambiente e Ciência e Tecnologia).
Para plantas modificadas com algum gene de resistência a pragas, também é necessário o RET (Registro Especial Temporário). Por uma decisão judicial do ano passado, qualquer planta geneticamente modificada com propriedades biopesticidas (ou seja, que matem ou inibam o crescimento de seres vivos) não pode ser cultivada experimentalmente até ter o registro -mesmo com a autorização prévia da CTNBio.
"Isso é incompatível com a pesquisa de ponta", disse Francisco Aragão, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.


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