São Paulo, domingo, 06 de janeiro de 2002

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Periscópio

A extinção do Cretáceo

José Reis
especial para a Folha

Duas hipóteses surgiram nos últimos anos para explicar a causa do suposto abrupto desaparecimento dos dinossauros e de outras formas de vida há 65 milhões de anos, na passagem do período Cretáceo (o último da era dos dinossauros, de 140 milhões a 65 milhões de anos atrás) para a era Terciária. Nem todos os especialistas, no entanto, aceitam a extinção abrupta. Eles sustentam que ela tenha sido lenta e relacionada a fatores vulcânicos e climatológicos ou à mera degenerescência genética.
Ambas as novas hipóteses acolhem o pressuposto de que a extinção tenha sido abrupta, decorrente do impacto de gigantesco meteorito (cometa ou asteróide). Mas diferem no mecanismo do fenômeno. Uma apela para detritos de enxofre vaporizados pelo impacto e que, misturados à atmosfera, formaram duradoura cortina de ácido sulfúrico impermeável à luz solar, que se refletiria de volta, impedindo sua chegada à superfície terrestre. A outra hipótese apela para o suposto vulcanismo criado na área oposta ou antípoda ao impacto, o qual teria produzido nuvens muito densas que teriam toldado o Sol por período muito longo, causando frio prolongado.
A hipótese de extinção pelo impacto de objeto celeste foi proposta por Luis Alvarez em 1980. Examinando uma camada de argila que separa o Cretáceo do Terciário (conhecida pelos geólogos como linha ou fronteira K-T) cuja idade coincide com as extinções, ele verificou a presença de irídio, elemento muito raro na Terra e abundante no espaço celeste.
Baseado nesse fato, concluiu que há 65 milhões de anos teria havido o impacto de gigantesco meteorito de uns oito quilômetros de diâmetro, que teria aberto enorme cratera cujos estilhaços se teriam disseminado, formando nuvens que teriam impedido a chegada dos raios solares, e assim provocado prolongado inverno. O encontro de uma cratera na península de Yucatán, México, com o tamanho e as características previstas por Alvarez, veio tornar quase unânime a aceitação de sua hipótese. Mas nem todos aceitaram que a nuvem de detritos criada pelo impacto pudesse ter durado mais de seis meses antes de cair no solo.
Ficaria prejudicada, nesse ponto, a idéia do prolongado inverno. Diferentemente da poeira em suspensão, uma camada de ácido sulfúrico poderia durar decênios, oferecendo maior probabilidade de um inverno capaz de provocar a extinção da vida.
A hipótese da nuvem formada no antípoda do impacto parte do estudo da propagação das ondas de choque através do planeta. Essas ondas se propagam pelo manto, a camada de rocha logo abaixo da crosta terrestre, e, refletindo-se nas curvaturas da Terra, convergiriam para um espaço oposto ao local do impacto (o antípoda) onde produziriam formações vulcânicas.Vulcões costumam lançar no ar milhões de toneladas de poeira e gases tóxicos. Os produtos de uma suposta série de erupções se espalhariam como uma cortina por toda a atmosfera. Essa idéia tem sido testada por simulação em computador, mas ainda depende de muitos outros estudos para ser tida como rival da hipótese de Alvarez.



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