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Carioca busca antimatéria na Suíça
Físico teórico larga o giz para conectar cabos e testar equipamentos eletrônicos em detector do LHC
Inauguração do acelerador
europeu está prevista para
junho, após uma série de
atrasos; no total, 34 países
participam do projeto
DO ENVIADO A GENEBRA
Envolvendo 34 países, oficialmente, e com dezenas de
outras nações colaboradoras, a
construção do acelerador de
partículas LHC transformou o
Cern numa torre de Babel. Apesar de os funcionários dos refeitórios só falarem francês, no
resto do centro de pesquisa o
inglês funciona como língua
franca. E promover o diálogo
correto entre as "línguas técnicas" de teóricos, experimentalistas e engenheiros também
não foi uma coisa trivial.
O clima nos centros de experimentos às vésperas da inauguração do acelerador de partículas -prevista para junho, finalmente, após uma série de
atrasos- é de otimismo, e muitos cientistas levam de lá a experiência de interagir com modos de pensar diferentes.
É o caso do estudante de física Rafael Coutinho, da PUC-RJ, que termina nesta semana
um estágio de três meses no
LHCb, um dos grandes detectores do LHC. Com toda sua
formação voltada para física
teórica, o universitário está à
véspera de se formar com um
diferencial: a oportunidade de
pôr a mão na massa.
Por sugestão de sua orientadora, Carla Gödel, Coutinho
"largou o giz" por três meses e
aceitou um estágio no qual
aprendeu como funciona a eletrônica do detector, ajudando a
completar tarefas rotineiras
-checar cabos e conexões e
testar equipamento eletrônico
altamente especializado.
"Cheguei aqui meio assustado e preocupado por não ter conhecimento quase nenhum em
física experimental", conta. "É
bom ver como os dados que eu
estudo são gerados. Se alguém
perguntar agora "Sabe de onde
veio esse dado?", eu vou responder "Sei, eu participei disso"."
Bombas de antimatéria
No Brasil, Coutinho trabalha
com um problema teórico que
chamado "violação da paridade
de carga". O nome técnico esconde a natureza de uma entidade que fascina muitos: a antimatéria -uma matéria igual à
que conhecemos, mas com cargas elétricas invertidas.
Quando se encontram, matéria e antimatéria se aniquilam,
gerando grande energia. Décadas atrás, essa propriedade fascinou tanto autores de ficção
científica quanto militares,
mas hoje ninguém especula
mais sobre "bombas de antimatéria" ou coisa do tipo.
Cosmólogos afirmam que o
Big Bang, a explosão primordial
do Universo, gerou um bocado
de antimatéria. Hoje contudo,
ela não existe, e não se pode dizer que tenha sido aniquilada
pela matéria, já que esta outra
sobrou para contar a história.
No LHCb, experimentos são
projetados para descobrir como, quando e por que a antimatéria decai mais rápido do que a
matéria. Isso -a tal violação de
paridade- pode ter tido conseqüências na maneira como o
Universo evoluiu.
Se os teóricos podem se interessar pela prática, o contrário
também é verdade, em alguns
casos. O engenheiro eletrônico
brasileiro Rafael Nóbrega, por
exemplo, começou a estudar a
física da paridade de cargas para seu doutorado na Universidade de Roma, que envolve o
desenvolvimento de instrumentos científicos para o
LHCb. "Mas ainda sou mais engenheiro do que físico", diz.
Parte da eletrônica do detector tem também a assinatura de
outros brasileiros, "Três teses
de mestrado de alunos brasileiros já foram completas em assuntos associados à construção
e à física a ser feita com este experimento", diz o físico Arthur
Maciel, do Centro Brasileiro de
Pesquisas Físicas.
(RG)
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