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MEDICINA
Técnica, que usa osso bovino como molde e não causa rejeição, pode ser testada em humanos em um ano e meio
USP inventa "curativo ósseo" para fraturas
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Um grupo de pesquisadores da
USP de Bauru (interior de São
Paulo) desenvolveu um método
para criar ossos em laboratório,
prontos para serem implantados
em pacientes que sofreram fraturas e sem problemas de rejeição.
Um dos segredos do sistema,
que pode ser testado em humanos
daqui a um ano e meio, é usar ossos bovinos como suporte para o
implante, uma técnica que aproveita a estrutura óssea gerada pela
natureza e um material bem mais
barato que os compostos sintéticos testados até hoje.
De acordo com José Mauro
Granjeiro, pesquisador da FOB
(Faculdade de Odontologia de
Bauru) e um dos coordenadores
do projeto, as opções de pessoas
que acabam perdendo parte do
tecido ósseo estão longe de ser
ideais. "Você pode tentar um enxerto retirado de um osso da própria pessoa ou de um banco de ossos, de um doador morto", diz.
No primeiro caso, costuma-se
retirar um trecho da crista ilíaca,
um osso da cintura. Dependendo
do tamanho, porém, retira-se
uma cunha grande desse osso, o
que pode deixar sequelas complicadas, como dores e dificuldade
para caminhar.
A outra opção, usar tecido ósseo
de um doador, depende da análise de possíveis doenças da pessoa
que doou o osso e da conservação
do tecido em condições especiais.
E envolve o risco de rejeição.
O trabalho da equipe, que já
vem sendo feito há dez anos, encontrou o molde ósseo ideal em
pequenos pedaços de osso bovino, que ajudam o implante a desenvolver uma estrutura igual à
de um osso verdadeiro. "O osso
bovino já tem poros biologicamente desenhados que permitem
isso", afirma Granjeiro.
Para criar o implante, os pesquisadores extraem osteoblastos (células que vão formar o tecido ósseo) da medula, que são separados das demais células dessa região e cultivados em laboratório.
Colocados na matriz óssea, eles
se multiplicam e são banhados
com a proteína BMP (proteína
morfogenética óssea, na sigla em
inglês), que estimula o crescimento do tecido. Depois de cerca de 40
dias, o implante está pronto para
voltar ao paciente. Testada até
agora em coelhos, a técnica tem
mostrado bons resultados.
O uso da matriz bovina, de
acordo com Granjeiro, é um dos
diferenciais do trabalho. "Grupos
no exterior estão testando polímeros [compostos orgânicos formados pela repetição da mesma
unidade básica" muito caros, que
não têm a vantagem da porosidade natural do osso", afirma.
O outro "pulo do gato" da equipe, diz o pesquisador, é não criar
implantes com o mesmo tamanho da fratura, mas pequenas
"pastilhas" com o tecido ósseo.
"O problema de implantar algo
muito grande é a irrigação do sangue, que não conseguiria abranger o implante", explica Granjeiro. "Com implantes pequenos, isso seria contornado e o próprio
organismo se encarrega de refazer
a forma original do osso", afirma
o pesquisador da USP.
Outra idéia do grupo é descobrir em que situações é melhor
usar uma matriz de colágeno (a
parte orgânica do osso, mais maleável) ou uma de fosfato de cálcio
(a parte mineral). "Isso deve depender do tipo de fratura, já que o
colágeno é totalmente absorvido
pelo organismo, mas não é tão resistente, enquanto a parte mineral
pode ser mais frágil para fixar o
implante", afirma o pesquisador.
Além de Granjeiro, a pesquisa
está sendo coordenada por Eulázio Taga e Rumio Taga, também
do FOB, e por Mari Sogayar, do
IQ (Instituto de Química) da USP
de São Paulo. O trabalho recebe
apoio da Fapesp (Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo), do CNPq (Conselho
Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico) e da empresa Baumer S.A., que produz
pinos de titânio para fraturas como as estudadas na pesquisa.
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