|
Texto Anterior | Índice
ASTRONOMIA
Água teria circulado por milhares de anos
Chuva de meteoros causou dilúvio que inundou Marte, diz pesquisa
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Noé era feliz e não sabia. Como
teria vivido na Terra, há 4.500
anos, pegou só 40 dias e 40 noites
de chuva torrencial. Se tivesse
nascido em Marte, há 3,8 bilhões
de anos, teria enfrentado um dilúvio com duração de uma década.
Pode parecer uma verdadeira
catástrofe do ponto de vista de
um suposto Noé marciano, mas
talvez tenha sido o episódio que
deu à vida uma oportunidade mínima no planeta vermelho. É o
que sugerem pesquisadores da
Universidade do Colorado em
Boulder e do Centro de Pesquisa
Ames, da Nasa, ambos nos EUA.
Ao que parece, a evolução do
planeta junta dois grandes episódios astronômicos do Sistema Solar em uma única cadeia de eventos. O primeiro diz que o planeta
vermelho um dia já foi coberto
por rios caudalosos, grandes lagos e oceanos. O outro conta que
os planetas internos do Sistema
Solar (Mercúrio, Vênus, Terra e
Marte) foram bombardeados por
uma violenta chuva de asteróides
há 3,8 bilhões de anos.
A partir de uma simulação, os
cientistas ligaram as duas coisas.
Segundo eles, os impactos sobre a
superfície marciana teriam aquecido o planeta e "despertado" seu
ciclo hidrológico, atirando uma
quantidade colossal de vapor d'água para a atmosfera.
Tudo que sobe tem de descer.
Resultado: chuvas -por anos a
fio. E o deserto vira mar. O planeta começa a se resfriar, mas ainda
mantém ambiente favorável à
água líquida (e, teoricamente, à
vida) por mais 10 mil anos. Então,
a água começa a se alojar no subsolo, congelar, evaporar e sumir
da superfície -o mar vira deserto. Fim da história para aquele
planeta azul, potencial irmão da
Terra. Nasce o planeta vermelho.
"Essa era uma idéia que já havia
sido sugerida antes, mas nunca
confirmada com simulações",
conta Teresa Segura, primeira autora do estudo que está publicado
hoje na revista "Science". Agora o
cenário parece bem mais provável, mas ainda assim especulativo.
"A única forma de confirmarmos essas idéias definitivamente
é indo até lá", diz Segura, que é da
Universidade de Colorado, mas
está temporariamente no Ames.
Sondas automáticas não seriam
de muita ajuda. Ela explica. "Seria
preciso ter muita mobilidade na
superfície, porque você não pode
aterrissar no meio do penhasco
para analisar as camadas das crateras", diz. "Nem mesmo as sondas de superfície teriam essa mobilidade. Teríamos de ir, mesmo."
Como isso não vai acontecer
antes de pelo menos umas duas
décadas, Segura e sua equipe continuam trabalhando no aprimoramento dos estudos teóricos.
"Estamos incluindo mais detalhes
nas simulações. E é interessante
que todas as coisas que deixamos
de fora originalmente só vão fazer
aumentar o tempo em que a água
era estável na superfície."
Ainda assim, sondas podem fazer um bocado pelo estudo de
Marte. Outro estudo, também publicado hoje na "Science" (mas
apenas na internet), mostra que
há camadas de água congelada
em contato direto com o ar marciano, na calota polar do sul.
Texto Anterior: Arqueologia: México encontra 1ª escrita do continente Índice
|