São Paulo, Sexta-feira, 07 de Janeiro de 2000


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CIÊNCIA
Brasil decodifica genoma de praga agrícola

GABRIELA SCHEINBERG
da Reportagem Local

O Brasil está prestes a entrar para o seleto grupo de países capazes de sequenciar o genoma (grupo de genes) de um organismo vivo. A bactéria Xylella fastidiosa, que provoca o amarelinho, uma praga agrícola, está com o seu genoma praticamente completo -99,95% está pronto.
É a primeira vez no mundo que o genoma de um fitoparasita, bactéria que ataca plantas, é sequenciado. A Xylella, que causa CVC (Clorose Variegata dos Citros) em laranjas, limões e tangerinas, doença chamada popularmente de amarelinho, é responsável por danos em cerca de 22% dos pomares de citros do Estado de São Paulo (leia texto ao lado).
A informação obtida com o projeto Xylella poderá ajudar os agricultores a encontrar uma forma de combater a praga. Segundo Andrew Simpson, coordenador do projeto, o genoma economizará o equivalente a uma década de pesquisas.
O genoma é composto por genes, que, por sua vez, são formados pela sequência das letras A (adenina), T (timina), C (citosina) e G (guanina), chamadas de bases nitrogenadas.
Para sequenciar o genoma da Xylella, foi preciso colocar em ordem todas as letras. No total, foram 2,7 milhões de bases. Pode parecer muito, mas, na verdade, a Xylella é considerada uma bactéria pequena. O genoma humano possui cerca de 3 bilhões de bases.

Projeto pioneiro
Iniciado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) em 1997, o projeto foi realizado por um consórcio de 34 laboratórios de São Paulo. O custo total, segundo a Fapesp, foi de US$ 15 milhões.
"O projeto Xylella foi uma iniciativa pioneira e uma forma de trazer a tecnologia de sequenciamento para o Brasil. Conseguimos um resultado notável, antes mesmo do prazo previsto", diz Carlos Henrique de Brito Cruz, presidente da Fapesp.
O prazo inicial para a conclusão da Xylella estava previsto para daqui a seis meses. Mas os pesquisadores adiantaram o processo, apesar das dificuldades. "Começamos com um ritmo de urgência, que garantiu o término do processo antes do esperado", afirma Simpson. Por isso, nem os imprevistos que apareceram durante o processo atrasaram o cronograma (leia texto abaixo).
Embora não esteja totalmente completo, Simpson já comemora a conclusão do projeto, cuja finalização deve ser anunciada em fevereiro. Segundo ele, dos genomas sequenciados até hoje, poucos estão 100% completos.
Com o projeto Xylella, foi criada também uma rede virtual -uma espécie de banco de dados com toda a informação obtida pelos centros- chamada Onsa (Organização para Sequenciamento e Análise de Nucleotídeos, na sigla em inglês).
Com a tecnologia obtida com a Xylella, a Fapesp iniciou também o projeto Genoma Cana-de-Açúcar e Genoma Xanthomonas citri, bactéria que provoca cancro cítrico em plantas. Mas o grupo responsável pelo projeto Xylella tem um futuro incerto. "Na minha opinião, devemos parar ou crescer", diz Simpson.
Cruz, presidente da Fapesp, está mais otimista. "Vamos continuar a usar a rede para realizar projetos de natureza mais sofisticada. Podemos até procurar parcerias internacionais", conclui.


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