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CIÊNCIA
Brasil decodifica genoma de praga agrícola
GABRIELA SCHEINBERG
da Reportagem Local
O Brasil está prestes a entrar para o seleto grupo de países capazes de sequenciar o genoma (grupo de genes) de um organismo vivo. A bactéria Xylella fastidiosa,
que provoca o amarelinho, uma
praga agrícola, está com o seu genoma praticamente completo
-99,95% está pronto.
É a primeira vez no mundo que
o genoma de um fitoparasita, bactéria que ataca plantas, é sequenciado. A Xylella, que causa CVC
(Clorose Variegata dos Citros) em
laranjas, limões e tangerinas,
doença chamada popularmente
de amarelinho, é responsável por
danos em cerca de 22% dos pomares de citros do Estado de São
Paulo (leia texto ao lado).
A informação obtida com o
projeto Xylella poderá ajudar os
agricultores a encontrar uma forma de combater a praga. Segundo
Andrew Simpson, coordenador
do projeto, o genoma economizará o equivalente a uma década de
pesquisas.
O genoma é composto por genes, que, por sua vez, são formados pela sequência das letras A
(adenina), T (timina), C (citosina)
e G (guanina), chamadas de bases
nitrogenadas.
Para sequenciar o genoma da
Xylella, foi preciso colocar em ordem todas as letras. No total, foram 2,7 milhões de bases. Pode
parecer muito, mas, na verdade, a
Xylella é considerada uma bactéria pequena. O genoma humano
possui cerca de 3 bilhões de bases.
Projeto pioneiro
Iniciado pela Fapesp (Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo) em 1997, o projeto
foi realizado por um consórcio de
34 laboratórios de São Paulo. O
custo total, segundo a Fapesp, foi
de US$ 15 milhões.
"O projeto Xylella foi uma iniciativa pioneira e uma forma de
trazer a tecnologia de sequenciamento para o Brasil. Conseguimos um resultado notável, antes
mesmo do prazo previsto", diz
Carlos Henrique de Brito Cruz,
presidente da Fapesp.
O prazo inicial para a conclusão
da Xylella estava previsto para daqui a seis meses. Mas os pesquisadores adiantaram o processo,
apesar das dificuldades. "Começamos com um ritmo de urgência, que garantiu o término do
processo antes do esperado", afirma Simpson. Por isso, nem os imprevistos que apareceram durante o processo atrasaram o cronograma (leia texto abaixo).
Embora não esteja totalmente
completo, Simpson já comemora
a conclusão do projeto, cuja finalização deve ser anunciada em fevereiro. Segundo ele, dos genomas sequenciados até hoje, poucos estão 100% completos.
Com o projeto Xylella, foi criada também uma rede virtual
-uma espécie de banco de dados
com toda a informação obtida pelos centros- chamada Onsa (Organização para Sequenciamento e
Análise de Nucleotídeos, na sigla
em inglês).
Com a tecnologia obtida com a
Xylella, a Fapesp iniciou também
o projeto Genoma Cana-de-Açúcar e Genoma Xanthomonas citri,
bactéria que provoca cancro cítrico em plantas. Mas o grupo responsável pelo projeto Xylella tem
um futuro incerto. "Na minha
opinião, devemos parar ou crescer", diz Simpson.
Cruz, presidente da Fapesp, está
mais otimista. "Vamos continuar
a usar a rede para realizar projetos
de natureza mais sofisticada. Podemos até procurar parcerias internacionais", conclui.
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