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Estudo abre caminho para o cinema 3-D sem óculos
Tecnologia permite que holografia seja gravada e apagada sucessivamente
Tela experimental tem só 10 cm por 10 cm; aplicação do dispositivo, concebido para uso militar e médico, deve demorar cerca de cinco anos
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Dentro de meia década, poderá ser viável assistir a um filme em três dimensões no cinema sem o uso de qualquer tipo
de óculos especial. A promessa,
que deve deixar entusiasmados
tanto cinéfilos quanto jogadores de videogame, é de um grupo de cientistas americanos
que publica um estudo na edição de hoje da revista "Nature".
Os pesquisadores, bancados
pelas Forças Armadas dos Estados Unidos, conseguiram
criar uma tecnologia relativamente rápida de criar e apagar
hologramas, as fotografias em
3-D gravadas e projetadas com
laser em telas transparentes.
O truque da holografia é fazer
com que cada um dos dois
olhos do observador enxergue
uma imagem diferente, com a
perspectiva ligeiramente deslocada. A composição das duas
imagens no cérebro da pessoa é
que gera a percepção 3-D. Em
vez de exibir uma imagem 3-D
estática como uma escultura,
porém, a nova a técnica permite fazer com que ela se mova.
Já é possível fazer filmes tridimensionais usando outros
recursos: um visor de realidade
virtual que projeta duas imagens, uma em cada olho do observador ou com técnicas mais
simples, como a que usa luz polarizada (separada) ou óculos
com lentes de cores diferentes
(uma azul outra vermelha). Recorrendo agora à holografia,
cientistas da Universidade do
Arizona em Tucson criaram
um tipo de vídeo 3-D que prescinde de adereços oculares.
"Guerra nas Estrelas"
Uma boa comparação para
ilustrar a nova tecnologia vem
da ficção científica, dos filmes
da série "Guerra nas Estrelas",
no qual personagens se comunicam por meio de vídeos holográficos projetados no ar.
O invento dos americanos
gera um efeito semelhante, mas
a imagem em 3-D não fica flutuando no ar. É vista atrás de
um filme, uma tela.
Mas como quem está bancando a invenção não é Hollywood e sim as Forças Armadas,
fica fácil perceber outras aplicações do avanço científico.
Filmes em 3-D podem ser usados no treinamento de um soldado que vai para guerra de
verdade. O mesmo vale para
um jovem neurologista, que terá que aprender extrair um tumor cerebral de seu paciente.
Filme plástico
"Nosso avanço científico foi
conseguir inventar um novo filme plástico que pode ser usado
como um monitor 3D que pode
ser realimentado", disse à Folha Nasser Peyghambarian,
pesquisador da Universidade
do Arizona em Tucson e um
dos autores do estudo.
A vantagem tecnológica desse novo dispositivo, que mede
10 cm por 10 cm, é exatamente
a capacidade de registrar uma
imagem e possibilitar que ela
seja vista por um observador
por mais de três horas.
O polímero, segundo Peyghambarian, oferece uma boa
resolução, permite que a imagem seja gravada rapidamente
em minutos, e também que ela
seja apagada e trocada por outra qualquer quando for o caso.
"Esses polímeros foto-refrativos são interessantes por que
eles permitem construir dispositivos com grandes áreas e a
um custo baixo", afirma Joseph
Perry, do Instituto de Tecnologia da Georgia (EUA), que comentou o estudo na "Nature".
Desvio da luz
O segredo foi achar um material com flexibilidade o suficiente para manipular o fenômeno da refração, desvio da luz
quando atravessa algum objeto.
Alguns grupos que trabalham
na área estavam procurando
desenvolver esse dispositivo a
partir de um cristal inorgânico,
mas esse caminho mostrou que
seriam necessários muitos recursos financeiros.
O pulo do gato obtido no Arizona foi a criação de uma combinação de polímeros que, juntos, apresentam uma eficiência
de difração da luz da ordem de
90%. Segundo Perry, é a primeira vez que um dispositivo
apresenta todas as características teóricas ideais para a reprodução de um filme holográfico.
"Mas claro que essa tecnologia ainda precisa amadurecer
bastante para ser dada como
pronta para o uso comercial",
escreveu o cientista da Georgia.
Os cientistas do Arizona,
criadores do novo polímero
concorda com a crítica.
"Esse polímero precisa ser
melhorado em termos de velocidade [de gravação] e em outras propriedades também antes de ele ser viável para um vídeo ou para o cinema 3-D.
Acredito que vamos levar de
três a cincos anos para chegar
lá", diz Peyghambarian.
Leia mais sobre a nova tecnologia de imagem www.nature.com
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