São Paulo, quinta-feira, 07 de fevereiro de 2008

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Estudo abre caminho para o cinema 3-D sem óculos

Tecnologia permite que holografia seja gravada e apagada sucessivamente

Tela experimental tem só 10 cm por 10 cm; aplicação do dispositivo, concebido para uso militar e médico, deve demorar cerca de cinco anos

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Dentro de meia década, poderá ser viável assistir a um filme em três dimensões no cinema sem o uso de qualquer tipo de óculos especial. A promessa, que deve deixar entusiasmados tanto cinéfilos quanto jogadores de videogame, é de um grupo de cientistas americanos que publica um estudo na edição de hoje da revista "Nature".
Os pesquisadores, bancados pelas Forças Armadas dos Estados Unidos, conseguiram criar uma tecnologia relativamente rápida de criar e apagar hologramas, as fotografias em 3-D gravadas e projetadas com laser em telas transparentes.
O truque da holografia é fazer com que cada um dos dois olhos do observador enxergue uma imagem diferente, com a perspectiva ligeiramente deslocada. A composição das duas imagens no cérebro da pessoa é que gera a percepção 3-D. Em vez de exibir uma imagem 3-D estática como uma escultura, porém, a nova a técnica permite fazer com que ela se mova.
Já é possível fazer filmes tridimensionais usando outros recursos: um visor de realidade virtual que projeta duas imagens, uma em cada olho do observador ou com técnicas mais simples, como a que usa luz polarizada (separada) ou óculos com lentes de cores diferentes (uma azul outra vermelha). Recorrendo agora à holografia, cientistas da Universidade do Arizona em Tucson criaram um tipo de vídeo 3-D que prescinde de adereços oculares.

"Guerra nas Estrelas"
Uma boa comparação para ilustrar a nova tecnologia vem da ficção científica, dos filmes da série "Guerra nas Estrelas", no qual personagens se comunicam por meio de vídeos holográficos projetados no ar.
O invento dos americanos gera um efeito semelhante, mas a imagem em 3-D não fica flutuando no ar. É vista atrás de um filme, uma tela.
Mas como quem está bancando a invenção não é Hollywood e sim as Forças Armadas, fica fácil perceber outras aplicações do avanço científico. Filmes em 3-D podem ser usados no treinamento de um soldado que vai para guerra de verdade. O mesmo vale para um jovem neurologista, que terá que aprender extrair um tumor cerebral de seu paciente.

Filme plástico
"Nosso avanço científico foi conseguir inventar um novo filme plástico que pode ser usado como um monitor 3D que pode ser realimentado", disse à Folha Nasser Peyghambarian, pesquisador da Universidade do Arizona em Tucson e um dos autores do estudo.
A vantagem tecnológica desse novo dispositivo, que mede 10 cm por 10 cm, é exatamente a capacidade de registrar uma imagem e possibilitar que ela seja vista por um observador por mais de três horas.
O polímero, segundo Peyghambarian, oferece uma boa resolução, permite que a imagem seja gravada rapidamente em minutos, e também que ela seja apagada e trocada por outra qualquer quando for o caso.
"Esses polímeros foto-refrativos são interessantes por que eles permitem construir dispositivos com grandes áreas e a um custo baixo", afirma Joseph Perry, do Instituto de Tecnologia da Georgia (EUA), que comentou o estudo na "Nature".

Desvio da luz
O segredo foi achar um material com flexibilidade o suficiente para manipular o fenômeno da refração, desvio da luz quando atravessa algum objeto. Alguns grupos que trabalham na área estavam procurando desenvolver esse dispositivo a partir de um cristal inorgânico, mas esse caminho mostrou que seriam necessários muitos recursos financeiros.
O pulo do gato obtido no Arizona foi a criação de uma combinação de polímeros que, juntos, apresentam uma eficiência de difração da luz da ordem de 90%. Segundo Perry, é a primeira vez que um dispositivo apresenta todas as características teóricas ideais para a reprodução de um filme holográfico.
"Mas claro que essa tecnologia ainda precisa amadurecer bastante para ser dada como pronta para o uso comercial", escreveu o cientista da Georgia.
Os cientistas do Arizona, criadores do novo polímero concorda com a crítica.
"Esse polímero precisa ser melhorado em termos de velocidade [de gravação] e em outras propriedades também antes de ele ser viável para um vídeo ou para o cinema 3-D. Acredito que vamos levar de três a cincos anos para chegar lá", diz Peyghambarian.

Leia mais sobre a nova tecnologia de imagem www.nature.com

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