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Banco quer financiar gado na Amazônia
Braço do Bird que apóia a iniciativa privada decide amanhã sobre empréstimo que, segundo ONGs, estimula o desmate
Projeto da IFC concederia
R$ 90 milhões para o Grupo
Bertin; dinheiro deve ser
aplicado na expansão de
carne e couro em Marabá
Dario Lopez-Mills/Associated Press
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Funcionário da Bertin move carcaça em frigorífico de Lins (SP) |
DA REPORTAGEM LOCAL
A diretoria da IFC (Corporação Financeira Internacional,
na sigla inglesa), o braço do
Banco Mundial que financia a
iniciativa privada, decidirá
amanhã se aprova um empréstimo no valor de US$ 90 milhões para o Grupo Bertin,
maior exportador de carne do
Brasil. Os recursos serão investidos em matadouros e curtumes, alguns deles na Amazônia.
Parte do empréstimo será
aplicado na expansão das instalações do grupo na região de
Marabá (PA). Ali, a capacidade
de abate seria ampliada das
atuais 250 mil cabeças de gado
por ano para 500 mil até 2009.
Há também investimentos previstos em Redenção e Conceição do Araguaia (PA), em Cacoal (RO) e em Água Boa (MT).
O plano vem gerando protestos de ambientalistas. Segundo
eles, o apoio a projetos de pecuária -maior vetor de desmatamento na região amazônica-
vai contra as diretrizes do próprio Banco Mundial e aumentará a pressão sobre a floresta.
As ONGs argumentam ainda
que não foram feitos estudos de
impacto ambiental em todas as
regiões, e que a IFC já cometeu
erros (leia texto à direita).
"Na verdade, na região de
Marabá, o ideal seria cortar em
dois terços o rebanho e não expandi-lo, como pretende o projeto", disse à Folha Roberto
Smeraldi, presidente do Fórum
Brasileiro das ONGs. As contas
do grupo estão baseadas em relatório feito a pedido da IFC.
O estudo foi produzido pela
empresa de consultoria Arcadis, com base em dois cenários.
Em um deles, a área desmatada
cresce em 10%. No outro, a área
usada atualmente fica saturada
em 2010. Ou seja, não caberá
mais boi na região.
"O próprio estudo feito previamente diz que a área usada
pelo rebanho dos fornecedores
do Grupo Bertin é de 84.000
km2. Mas boa parte dela foi desmatada de forma ilegal. O correto, para cumprir a lei, seria
que essa ocupação fosse reduzida para 31.000 km 2", diz o
ambientalista.
Procurado pela Folha, o
Grupo Bertin não quis comentar as contas feitas pelas ONGs.
A empresa disse que todos os
questionamentos deveriam ser
feitos à IFC, que é responsável
pela avaliação do projeto.
A IFC disse que o incremento na produção não se dará às
expensas da floresta. Seus técnicos dizem acreditar que técnicas modernas de produção
podem aumentar o número de
animais por hectare na região
de 1,2 para até 1,56.
A IFC, que está há dois anos
avaliando o pedido de empréstimo do Grupo Bertin, também
informou que a empresa brasileira terá de cumprir uma série
de exigências e implementar
um projeto gradual para a produção sustentável na cadeia de
suprimento de carne e couro
em sua unidade de Marabá.
O principal objetivo dessa
medida é tentar resolver, pelo
menos entre os fornecedores
do grupo, a polêmica questão
da posse da terra na região. Em
um prazo de dois anos, vários
documentos serão exigidos para as propriedades que quiserem vender gado para o grupo.
Essa política de compra prevê ainda que a Bertin não comprará gado de qualquer fornecedor que esteja condenado
por grilagem de terra em Marabá. Isso passa a valer no terceiro mês do contrato.
"É bem pouco provável que
exista alguma condenação.
Além disso, seria interessante
que isso fosse verificado também em outras regiões da Amazônia e não apenas em Marabá", explica Smeraldi. "Se essas
prática legais fossem implementadas imediatamente, e
não daqui a dois anos, provavelmente não teria ninguém
para vender gado hoje."
O projeto divide até mesmo
os ambientalistas. Para o ecólogo Daniel Nepstad, do Ipam
(Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), ele representa uma boa oportunidade de legalizar o setor ganadeiro -que não vai desaparecer da
Amazônia. "O que a gente mais
precisa na Amazônia é de frigoríficos que cobram boas práticas de seus fornecedores e pagam por isso."
(EDUARDO GERAQUE)
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