São Paulo, sábado, 07 de junho de 2008

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PF apreende mais de mil fósseis ilegais

Peças extraídas irregularmente de diversos pontos do Brasil seriam vendidas em Minas, Goiás e Rio Grande do Sul

Loja que vendia material em Brasília desencadeou início da investigação; segundo delegada, embaixadas tentam facilitar exportação

Ricardo Marques/Folha Imagem
Alguns dos fósseis apreendidos pela Polícia Federal na operação Pedra de Fogo, apresentados numa delegacia de Brasília, ontem

LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal apreendeu ontem mais de 1.150 fósseis animais e vegetais nos Estados de Goiás, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Os produtos, que estavam em residências ou lojas e já prontos para serem comercializados, segundo a PF, têm valor de mercado que varia de R$ 100 a mais de R$ 1.000 por peça. No mercado internacional o valor é ainda maior.
A estimativa dos geólogos da corporação é de que os vestígios fósseis tenham entre 65 milhões e 100 milhões de anos, mas um laudo pericial ainda a ser feito evidenciará detalhes das peças, consideradas parte do patrimônio nacional.
Segundo a polícia, o material encontrado tem ligação com o comércio ilegal das cidades de Ouro Preto (MG), Soledade (RS) e Cristalina (GO), que têm atividades econômicas ligadas ao turismo e à exploração mineral e fóssil. As investigações da operação, intitulada Pedra de Fogo, começaram em abril do ano passado, quando a PF apreendeu algumas peças em uma loja em Brasília.
"Esses materiais têm grande valor científico, é um crime vendê-los", afirmou Idemílson Prado, geólogo da Polícia Federal que vai periciá-las.
Segundo ele, os fósseis vegetais -madeiras petrificadas que estavam revestidas com um polimento- foram extraídos no Rio Grande do Sul e Tocantins, Estado onde fica parte da grande floresta petrificada do período Permiano (299 milhões a 245 milhões de anos atrás), que ocorre em toda a região do Brasil Central.
Já os objetos animais (principalmente fósseis de peixes incrustados em base de calcário), disse ele, são provenientes da chapada do Araripe, no Ceará, um dos principais testemunhos geológicos do Período Cretáceo (144 milhões a 65 milhões de anos atrás).
Suas rochas calcárias abrigam uma infinidade de insetos, plantas, pterossauros (répteis voadores) e dinossauros.
Em Cristalina, onde a polícia apreendeu 406 peças de fósseis animais e 528 de vegetais, os produtos seriam vendidos a turistas e destinados ainda para o comércios em outras cidades brasileiras. Na cidade goiana, duas pessoas foram presas.
Em Ouro Preto foram apreendidos cerca de 100 objetos. Três pessoas foram detidas. Já em Soledade, que se auto-intitula a "capital das pedras preciosas", os policiais cumpriram apenas mandado de busca e apreensão, já que as 130 peças estavam em lojas e os proprietários não foram encontrados.
Todos os cinco detidos foram liberados após pagar fiança de R$ 2.000 e vão responder a processo em liberdade. O DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), órgão ligado ao Ministério de Minas e Energia, autoriza a pesquisa em peças fósseis, mas sua extração sem licença e o comércio (que é proibido no Brasil desde 1942) são considerados crimes -ambiental e de usurpação de bens da União, conforme artigo 2ª da lei 8.176, de 1991. A pena vai de um a cinco anos de prisão.

Tipo exportação
Segundo Fernanda Rocha, chefe da delegacia de Meio Ambiente da PF e coordenadora da operação, as peças seriam destinadas ainda ao mercado internacional. Segundo a delegada, algumas pessoas ligadas a embaixadas procuravam comerciantes de fósseis para tentar exportá-los.
Fernanda não comentou quais seriam os países, pois disse que as investigações vão continuar para tentar identificar o alvo principal: quem são os fornecedores dos fósseis.
A delegada classificou a operação como uma das "maiores apreensões de fósseis do país". Em novembro de 2000, contudo, a Polícia Federal do Ceará apreendeu cerca de 20 mil fósseis em um galpão na cidade de Nova Olinda.
Os fósseis são essenciais para as pesquisas. As informações que os cientistas conseguem quando estudam essas peças servem para reconstruir a história evolutiva das espécies.


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