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País deixa de gerar US$ 5 bi por ano com fitoterápicos
Valor é diferença entre mercado nacional e o de países como Japão e França
Dono da biodiversidade
mais elevada do mundo,
Brasil tem hoje apenas uma droga desse gênero baseada na flora nativa
RICARDO MIOTO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
O Brasil deixa de gerar cerca de US$ 5 bilhões ao ano
por não conseguir transformar sua flora em remédios.
Essa é a diferença entre o
valor movimentado pelo tímido mercado brasileiro de
fitoterápicos e por mercados
como o francês, o japonês e o
alemão -países com uma
biodiversidade muito menor
que a brasileira, mas que tiveram sucesso na transformação de moléculas de plantas em medicamentos.
Até hoje, só um fitoterápico baseado na flora brasileira
foi desenvolvido em território nacional. Trata-se do anti-inflamatório Acheflan, concorrente do Cataflam.
O mercado mundial de fitoterápicos envolve hoje cerca de US$ 44 bilhões, segundo a consultoria Analize and
Realize, que atende algumas
das maiores indústrias farmacêuticas do mundo. O valor está crescendo.
Segundo a Associação
Brasileira de Empresas do Setor Fitoterápico, não existem
dados oficiais sobre o tamanho desse mercado no Brasil.
As estimativas variam entre
US$ 350 milhões e US$ 550
milhões. Os pesquisadores
acreditam que o país, por ser
dono da maior biodiversidade do planeta, deveria ter um
papel de liderança na área.
Um deles é o farmacólogo
Manoel Odorico de Moraes,
da Universidade Federal do
Ceará, que tratou do assunto
na Conferência Nacional de
Ciência, Tecnologia e Inovação, em Brasília, no fim do
mês passado.
"Toda a indústria farmacêutica brasileira foi construída em cima da cópia", diz
ele, reclamando que as empresas nacionais investem
pouco em inovação.
Segundo o químico Lauro
Barata, da Unicamp, o Brasil
poderia muito bem exportar
para os países desenvolvidos. "Se você tiver remédios
com eficiência e segurança,
consegue mandar o produto
para qualquer lugar. Mas o
Brasil só estuda, estuda, publica e nada mais."
"O mercado de fitoterápicos é muito menor do que poderia ser. Teria potencial para movimentar muito dinheiro", diz José Roberto Lazzarini, diretor de pesquisa dos
Laboratórios Aché.
Além do Acheflan, há mais
de 420 fitoterápicos registrados na Anvisa, de 60 plantas
diferentes. Apenas dez são
de plantas nacionais -e os
medicamentos não foram desenvolvidos por aqui.
Há problemas anteriores à
falta de interesse dos investidores, porém. O país sofre
com a falta de biotérios que
possam oferecer camundongos de qualidade para testes
de medicamentos.
Além disso, os pesquisadores relatam dificuldades
para acessar a flora do país.
As leis contra biopirataria
acabaram por burocratizar
excessivamente os seus trabalhos, reclamam.
O Acheflan, único, por enquanto, a vencer essas barreiras, levou sete anos e R$ 15
milhões para ficar pronto.
Ele foi fruto de uma parceria
entre a iniciativa privada,
que entrou com o dinheiro, e
o grupo da Universidade Federal de Santa Catarina liderado por João Batista Calixto.
MATA ATLÂNTICA
A planta da qual a equipe
de Calixto elaborou o anti-inflamatório Acheflan, comercializado desde 2005 pelo Laboratório Aché, é a erva-baleeira (Cordia verbenacea), típica da mata atlântica. Ele é
usado como pomada -nessa
fatia do mercado, acabou ultrapassando o Cataflam.
O Laboratório Aché, que é
uma empresa brasileira, ficou com a patente do princípio ativo. Os cientistas receberam pelo seu serviço, mas
o contrato não prevê nenhum tipo de royalty para
eles. Todo o trabalho foi feito
em sigilo, sem publicação
das conclusões parciais em
revistas científicas.
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