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Droga reduz recaída em viciados em cocaína
Antibiótico diminui tendência de ratos voltarem a se drogar após "extinção" do vício
LUCIANO GRÜDTNER BURATTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um grande problema no
tratamento de dependência
química é a recaída: quando
o paciente parece curado, eis
que ele volta a se drogar. Um
estudo em ratos, porém,
mostra que um antibiótico ligado à aprendizagem pode
reduzir essas recaídas em
animais viciados em cocaína.
Recaídas ocorrem porque,
após a desintoxicação, o indivíduo pode ser novamente
exposto a estímulos que lembram os "bons tempos" do
uso da droga. São amigos, lugares e objetos que foram associados ao consumo da
substância. A chance de reincidir no vício pode ativar memórias que aumentam o desejo de se drogar.
Um dos tratamentos envolve a "extinção" dessa associação. Pacientes veem estímulos ligados à droga sem
a contrapartida da substância. O objetivo é enfraquecer
pouco a pouco essa ligação.
O problema é que a "extinção" é bastante dependente
do contexto onde ela ocorre
(consultório ou laboratório,
por exemplo). Da porta para
fora, a tentação volta.
O estudo, liderado pela
neurocientista Mary Torregrossa, da Universidade Yale, nos EUA, e publicado na
revista "Journal of Neuroscience", mostra que o antibiótico cicloserina-D, quando administrado após o processo de extinção, ajuda a
evitar recaídas.
No experimento, ratos escutavam um som e recebiam
cocaína (em solução) toda
vez que apertavam uma alavanca. Após ficarem "viciados", os roedores foram submetidos a uma terapia de extinção: o tom soava, mas a
cocaína não era entregue.
Isso enfraqueceu a associação entre o estímulo (tom)
e a recompensa (cocaína),
pois os ratos logo pararam de
apertar a alavanca.
A aquisição do vício e a terapia ocorreram em gaiolas
diferentes, simulando a diferença entre o contexto de uso
da droga e o do tratamento.
Após a terapia, um grupo
recebeu cicloserina-D e o outro, não. Ratos do primeiro
grupo mostraram menor tendência a apertar a alavanca
quando colocados de volta
na primeira gaiola, onde o vício fora adquirido, indicando
um menor índice de recaída.
"A cicloserina-D ajuda a
consolidar o aprendizado de
não associar a droga ao estímulo", explica Dartiu da Silveira, psiquiatra da Unifesp
(Universidade Federal de São
Paulo). "Em humanos, aspectos motores do vício, como o ato de cheirar um pó
qualquer, também poderiam
ser explorados durante a extinção", sugere Torregrossa.
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