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BIOLOGIA
Introdução de antibióticos e herbicidas aumenta resistência de organismos, induzindo "corrida armamentista"
Ser humano dispara explosão evolutiva
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
O ser humano é hoje a força
mais poderosa agindo sobre a
evolução dos seres vivos, como
demonstra de maneira dramática
o aumento da resistência de organismos causadores de doenças e
pragas agrícolas.
E se a medicina e a agricultura
não encontrarem meios de reduzir o ritmo desse processo evolutivo, o homem vai continuar às voltas com uma "corrida armamentista" contra essas pestes que vai
causar prejuízos crescentes, já estimados hoje entre 33 bilhões a 50
bilhões de dólares só nos EUA.
Os fatos básicos já estão disponíveis há vários anos. Mas a idéia
de que o homem precisa reduzir
seu impacto na própria evolução
biológica está sendo formulada
agora por autores como Stephen
Palumbi, da Universidade Harvard, autor de um artigo publicado hoje na revista "Science"
(www.sciencemag.org).
O artigo resume o livro de Palumbi publicado este ano, "The
Evolution Explosion: How Humans Cause Rapid Evolutionary
Change", ou "A Explosão da Evolução: Como os Humanos Causam Mudança Evolutiva Rápida".
Um dos casos citados por ele é a
evolução da resistência a drogas
do vírus causador da Aids, o HIV.
"Alguns problemas são globais.
Se um país tratar o HIV com apenas uma droga, isso poderia gerar
um país inteiro cheio de vírus resistentes a essa droga, que poderiam se espalhar pelo mundo. Subestimar o potencial evolutivo
desse vírus é talvez o erro mais sério, e evitável, que nós podemos
fazer", disse Palumbi à Folha.
"O HIV evoluiu tão rápido que
em dois anos ele estará tão diferente de quando começou do que
nós em relação aos chimpanzés."
São necessárias três coisas para
que um organismo vivo evolua de
acordo com o processo chamado
de "seleção natural darwiniana",
obra do naturalista inglês Charles
Robert Darwin (1809-1882).
É preciso existir uma variação
natural entre as características
dos organismos, esses traços devem conferir alguma vantagem
para o indivíduo e o traço deve ser
hereditário, passível de ser transmitido de pai para filho.
Ao usar apenas uma droga contra um organismo, o homem está
praticando uma forma de seleção,
deixando vivos só os que têm resistência. Eles se multiplicam e viram maioria na população.
Praticamente todas as doenças
causadas por bactérias desenvolveram resistência aos antibióticos
usados contra elas, diz Palumbi. O
resultado é uma corrida armamentista, em que a indústria tenta
criar novos antibióticos, e as bactérias desenvolvem resistência.
Ele exemplifica com infecções
por bactérias do gênero Staphylococcus, que eram tratadas com
penicilina, antibiótico introduzido em 1943. Já em 1946 notou-se
resistência à droga. Criou-se um
"efeito cascata": depois se usou
meticilina, que foi substituída por
vancomicina e assim por diante, à
medida que surgia resistência.
"Em um hospital, esforços locais como seleção cíclica de antibióticos ou lavar as mãos podem
reduzir a incidência de resistência. Mas países onde a disponibilidade de antibióticos nas farmácias é fácil têm índices maiores de
resistência, e isso só pode ser resolvido no plano nacional", diz.
Ele sugere várias medidas para
diminuir o ritmo da evolução induzida pelo ser humano.
Em casos como o HIV, o certo é
continuar usando várias drogas
no tratamento. É preciso ter certeza de que a dosagem certa está
sendo tomada pelo paciente.
Rotação de herbicidas e uso de
métodos não-químicos de controle reduzem o problema da resistência de ervas daninhas.
Deixar uma parte do campo
sem plantas protegidas pode ajudar a diminuir a resistência de insetos. Esses chamados "refúgios"
mantém na população de insetos
as variedades não-resistentes, que
se reproduzem com os mais resistentes e ajudam a "diluir" na população os genes de resistência.
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