São Paulo, quinta-feira, 07 de setembro de 2006

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Degelo de solo piora aquecimento global

Katey Walter/"Nature"
Bolhas do gás-estufa metano congeladas em lago da Sibéria


Gás metano, causador de aquecimento, escapa de chão congelado da Sibéria cinco vezes mais rápido que o esperado

Efeito recém-medido por pesquisadores dos EUA pode criar círculo vicioso e aumentar danos causados por emissões de carbono

DA REDAÇÃO

O solo congelado da Sibéria pode estar guardando uma bomba-relógio do aquecimento global, afirma uma nova pesquisa. Conforme a Terra esquenta, gases-estufa capazes de tornar o planeta ainda mais abafado estão escapando do chão em velocidade cinco vezes maior do que o esperado.
Nesse tipo de chão, conhecido como "permafrost", são especialmente grandes as quantidades de metano, um gás-estufa 23 vezes mais poderoso que o dióxido de carbono, principal vilão do aquecimento global hoje. Os pesquisadores temem que se instaure uma espécie de "feedback", ou círculo vicioso.
"Quanto mais alta a temperatura fica, mais permafrost derretemos, e maior a tendência de que surja esse círculo vicioso", afirmou Chris Field, diretor de ecologia global da Instituição Carnegie de Washington (EUA). "Essa é a parte assustadora dessa coisa. Há vários mecanismos que tendem a ser autoperpetuadores e relativamente poucos capazes de desligar esse processo", disse Field, que não participou do estudo, publicado na edição de hoje da revista científica "Nature" (www.nature.com).
O efeito vem basicamente da Sibéria, mas também de outros lugares, onde um tipo de "permafrost" rico em matéria orgânica congelou há 40 mil anos.
"Os efeitos podem ser enormes", disse Katey Walter, principal autora do estudo, da Universidade do Alasca em Fairbanks. "Há muita coisa saindo, e ainda há muita coisa que pode sair." A evaporação não deve acontecer de uma vez e levaria décadas para se completar, mas o metano e também o dióxido de carbono vão escapar do solo se as temperaturas aumentarem, afirma.
"É como uma bomba-relógio em câmera lenta", compara Ted Schuur, da Universidade da Flórida. Nesse tipo de solo congelado, plantas ricas em carbono ficaram presas no gelo durante um período glacial que veio rápido demais. Conforme o "permafrost" derrete, o carbono contido na matéria morta é liberado na forma de metano, se estiver debaixo d'água, em lagos, como boa parte da Sibéria estudada por Walter. Se estiver no seco, o carbono é liberado na forma de dióxido de carbono (CO2).
Os cientistas ainda não sabem o que é pior. Embora o metano seja muito mais eficiente em reter calor, só dura cerca de uma década na atmosfera. Já o dióxido de carbono funciona como um cobertor atmosférico durante mais de um século, em média.
"O resumo da ópera é que é melhor deixar esse negócio congelado no chão", diz Schuur. "Mas estamos chegando ao ponto em que mais e mais dele está indo parar na atmosfera", afirma.
Na Sibéria, a grande quantidade de lagos complica a situação porque a água, embora fria, ajuda a aquecer e derreter o "permafrost", afirma Walker.


Com Associated Press


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