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Degelo de solo piora aquecimento global
Katey Walter/"Nature"
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Bolhas do gás-estufa metano congeladas em lago da Sibéria |
Gás metano, causador de aquecimento, escapa de chão congelado da Sibéria cinco vezes mais rápido que o esperado
Efeito recém-medido por
pesquisadores dos EUA
pode criar círculo vicioso
e aumentar danos causados
por emissões de carbono
DA REDAÇÃO
O solo congelado da Sibéria
pode estar guardando uma
bomba-relógio do aquecimento global, afirma uma nova pesquisa. Conforme a Terra esquenta, gases-estufa capazes de
tornar o planeta ainda mais
abafado estão escapando do
chão em velocidade cinco vezes
maior do que o esperado.
Nesse tipo de chão, conhecido como "permafrost", são especialmente grandes as quantidades de metano, um gás-estufa 23 vezes mais poderoso que o
dióxido de carbono, principal
vilão do aquecimento global
hoje. Os pesquisadores temem
que se instaure uma espécie de
"feedback", ou círculo vicioso.
"Quanto mais alta a temperatura fica, mais permafrost derretemos, e maior a tendência
de que surja esse círculo vicioso", afirmou Chris Field, diretor de ecologia global da Instituição Carnegie de Washington
(EUA). "Essa é a parte assustadora dessa coisa. Há vários mecanismos que tendem a ser autoperpetuadores e relativamente poucos capazes de desligar esse processo", disse Field,
que não participou do estudo,
publicado na edição de hoje da
revista científica "Nature"
(www.nature.com).
O efeito vem basicamente da
Sibéria, mas também de outros
lugares, onde um tipo de "permafrost" rico em matéria orgânica congelou há 40 mil anos.
"Os efeitos podem ser enormes", disse Katey Walter, principal autora do estudo, da Universidade do Alasca em Fairbanks. "Há muita coisa saindo,
e ainda há muita coisa que pode sair." A evaporação não deve
acontecer de uma vez e levaria
décadas para se completar, mas
o metano e também o dióxido
de carbono vão escapar do solo
se as temperaturas aumentarem, afirma.
"É como uma bomba-relógio
em câmera lenta", compara
Ted Schuur, da Universidade
da Flórida. Nesse tipo de solo
congelado, plantas ricas em
carbono ficaram presas no gelo
durante um período glacial que
veio rápido demais. Conforme
o "permafrost" derrete, o carbono contido na matéria morta
é liberado na forma de metano,
se estiver debaixo d'água, em
lagos, como boa parte da Sibéria estudada por Walter. Se estiver no seco, o carbono é liberado na forma de dióxido de
carbono (CO2).
Os cientistas ainda não sabem o que é pior. Embora o
metano seja muito mais eficiente em reter calor, só dura
cerca de uma década na atmosfera. Já o dióxido de carbono
funciona como um cobertor atmosférico durante mais de um
século, em média.
"O resumo da ópera é que é
melhor deixar esse negócio
congelado no chão", diz
Schuur. "Mas estamos chegando ao ponto em que mais e
mais dele está indo parar na atmosfera", afirma.
Na Sibéria, a grande quantidade de lagos complica a situação porque a água, embora fria,
ajuda a aquecer e derreter o
"permafrost", afirma Walker.
Com Associated Press
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