São Paulo, sexta-feira, 07 de dezembro de 2007

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Célula-tronco "fabricada" cura anemia em roedor

Cientistas reprogramam células da pele para imitarem ação de embrionárias

Foi a primeira vez que um grupo conseguiu comprovar o efeito terapêutico da técnica; equipe de cientistas pesquisa uso em humanos

GIOVANA GIRARDI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Primeiro os cientistas conseguiram "enganar" células adultas humanas para que elas voltassem a agir como células-tronco embrionárias. Agora, pouco mais de 20 dias depois daquele anúncio, um outro grupo de pesquisadores vem à tona para mostrar que as chamadas células iPS (células-tronco pluriponte induzidas) são capazes de realmente curar uma doença, ao menos em camundongos.
No trabalho, publicado hoje na revista "Science" (www.scienceexpress.org), pesquisadores norte-americanos usaram a técnica para reverter a anemia falciforme em animais com um modelo da doença (veja quadro à dir.). Desde que as pesquisas de reprogramação celular começaram a ser feitas, há pouco mais de um ano, seu potencial terapêutico existia apenas como especulação.
As iPS já haviam mostrado que eram capazes de se diferenciar em outras células do corpo, mas os pesquisadores ainda não tinha obtido um tratamento de sucesso.
A técnica que faz a célula retroceder aos seus estágios primordiais -inicialmente obtida em camundongos e mais recentemente em células humanas- foi bem recebida tanto pela academia quanto por grupos religiosos e antiaborto por oferecer uma alternativa ao uso das polêmicas células-tronco embrionárias.
Apesar de estas terem potencial para se transformar em qualquer tecido, e por isso serem esperança para o tratamento de doenças como o mal de Parkinson e distrofias musculares, para obtê-las é necessário destruir o embrião.
No novo trabalho, os pesquisadores melhoraram significativamente os sintomas de anemia falciforme nos camundongos. A doença genética, que atinge em sua maioria populações negras, provoca uma deformação nas membranas dos glóbulos vermelhos, que passam a impedir a circulação do sangue. Os principais sintomas são problemas nos ossos e dificuldade de locomoção.

Aplicação em humanos
Tim Townes, da Universidade do Alabama, um dos líderes do trabalho, disse à Folha que está tentando agora induzir a pluripotência em células da pele de pacientes humanos com anemia falciforme. Ele espera que já no próximo ano seja obtida a correção do problema em amostras de tecido. Um teste em humanos, porém, ainda deve levar anos para acontecer.
"Apesar de esta área vir evoluindo muito rapidamente, antes de testar em humanos temos de fazer transplantes em animais maiores e acompanhá-los por longo tempo. Isso é importante para provar a eficácia e a segurança do novo método."
Outro problema que precisa ser resolvido é o "veículo" que carrega os genes que vão reprogramar as células. Hoje são usados vírus para este fim, mas os cientistas temem que eles se espalhem pelo corpo, levando à ocorrência de cânceres.


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