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Célula-tronco "fabricada" cura anemia em roedor
Cientistas reprogramam células da pele para imitarem ação de embrionárias
Foi a primeira vez que um grupo conseguiu comprovar o efeito terapêutico da técnica; equipe de cientistas pesquisa uso em humanos
GIOVANA GIRARDI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Primeiro os cientistas conseguiram "enganar" células adultas humanas para que elas voltassem a agir como células-tronco embrionárias. Agora,
pouco mais de 20 dias depois
daquele anúncio, um outro grupo de pesquisadores vem à tona
para mostrar que as chamadas
células iPS (células-tronco pluriponte induzidas) são capazes
de realmente curar uma doença, ao menos em camundongos.
No trabalho, publicado hoje
na revista "Science" (www.scienceexpress.org), pesquisadores norte-americanos usaram a técnica para reverter a
anemia falciforme em animais
com um modelo da doença (veja quadro à dir.). Desde que as
pesquisas de reprogramação
celular começaram a ser feitas,
há pouco mais de um ano, seu
potencial terapêutico existia
apenas como especulação.
As iPS já haviam mostrado
que eram capazes de se diferenciar em outras células do
corpo, mas os pesquisadores
ainda não tinha obtido um tratamento de sucesso.
A técnica que faz a célula retroceder aos seus estágios primordiais -inicialmente obtida
em camundongos e mais recentemente em células humanas- foi bem recebida tanto
pela academia quanto por grupos religiosos e antiaborto por
oferecer uma alternativa ao
uso das polêmicas células-tronco embrionárias.
Apesar de estas terem potencial para se transformar em
qualquer tecido, e por isso serem esperança para o tratamento de doenças como o mal
de Parkinson e distrofias musculares, para obtê-las é necessário destruir o embrião.
No novo trabalho, os pesquisadores melhoraram significativamente os sintomas de anemia falciforme nos camundongos. A doença genética, que
atinge em sua maioria populações negras, provoca uma deformação nas membranas dos
glóbulos vermelhos, que passam a impedir a circulação do
sangue. Os principais sintomas
são problemas nos ossos e dificuldade de locomoção.
Aplicação em humanos
Tim Townes, da Universidade do Alabama, um dos líderes
do trabalho, disse à Folha que
está tentando agora induzir a
pluripotência em células da pele de pacientes humanos com
anemia falciforme. Ele espera
que já no próximo ano seja obtida a correção do problema em
amostras de tecido. Um teste
em humanos, porém, ainda deve levar anos para acontecer.
"Apesar de esta área vir evoluindo muito rapidamente, antes de testar em humanos temos de fazer transplantes em
animais maiores e acompanhá-los por longo tempo. Isso é importante para provar a eficácia
e a segurança do novo método."
Outro problema que precisa
ser resolvido é o "veículo" que
carrega os genes que vão reprogramar as células. Hoje são
usados vírus para este fim, mas
os cientistas temem que eles se
espalhem pelo corpo, levando à
ocorrência de cânceres.
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