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IPCC faz declaração política sobre o clima
Grupo de 212 cientistas defende na Indonésia que governos assumam metas imediatas e obrigatórias
CLAUDIO ANGELO
ENVIADO ESPECIAL A BALI
Cientistas do IPCC, o painel
do clima das Nações Unidas, pisaram ontem pela primeira vez
na arena política e defenderam
metas obrigatórias, estritas e
imediatas de redução de gases
de efeito estufa.
Um grupo de 212 climatologistas lançou em Bali, na COP-13 (13ª Conferência das Partes
da Convenção do Clima da
ONU), um documento destinado aos governantes.
A declaração pede que o regime climático pós-Kyoto seja
concluído em 2009 e tenha
uma meta de limitar o aquecimento do planeta em 2C. Para
isso, os cientistas demandam
que o nível de CO2, o principal
gás de efeito estufa, seja estabilizado em 450 ppm (partes por
milhão), o que significa um
corte de pelo menos 50% nas
emissões, em relação aos níveis
de 1990, até 2050.
Entre os signatários está o
Prêmio Nobel Paul Crutzen,
um dos descobridores da relação entre CFCs e a destruição
da camada de ozônio; vários
dos autores principais do
Quarto Relatório de Avaliação
do IPCC; o diretor do Instituto
Max Planck, na Alemanha,
Martin Claussen; e os americanos Kerry Emmanuel e Kevin
Trenberth, primeiros a sugerir
a relação entre aquecimento
global e aumento na intensidade dos furacões.
"Como cientistas, nós rogamos aos negociadores que considerem essa meta como o mínimo [a ser cumprido] no acordo", disse o australiano Matthew England, climatologista
da Universidade de Nova Gales
do Sul, em Sydney.
"Esperamos ver essas metas
refletidas no texto", afirmou o
australiano Michael Molitor,
consultor de clima e energia. É
o mínimo, explicou England,
porque os resultados do IPCC
mostram que a estabilização
em 450 ppm garante no máximo 50% de chance de manter o
aumento de temperatura em
2C. Esse tem sido considerado
por vários cientistas como o nível "seguro" de aquecimento
global, acima do qual o planeta
assistiria a efeitos em cadeia
potencialmente catastróficos,
como o degelo generalizado
dos pólos e o aumento correspondente no nível do mar.
O objetivo de 2C foi incorporado à meta de estabilização
da União Européia, mas vem
enfrentando resistência de vários países -entre eles o Brasil.
"O que estamos falando é de
probabilidades, de riscos. Não
existe um número mágico, assim como não há um número
mágico de colesterol seguro,
abaixo do qual você não vai ter
um ataque cardíaco", disse o
americano Richard Sommerville, um dos autores principais
do relatório do IPCC.
Posição filosófica
Ao proporem essa meta, os
cientistas signatários da Declaração do Clima de Bali estão fazendo o que o IPCC não pode
fazer: propondo políticas públicas. O painel do clima, por ser
um órgão estritamente científico, não pode fazer recomendações políticas.
É isso em parte que garante a
isenção dos resultados do IPCC
-e o que garantiu que todos os
governos, até mesmo a administração de George W. Bush,
tenham endossado as conclusões do painel de que o aquecimento global é "inequívoco". O
IPCC não diz, por exemplo, que
as emissões precisam chegar ao
pico nos próximos 10 ou 15
anos e declinar dramaticamente depois disso.
Embora esse resultado faça
parte das conclusões do painel,
ele é apresentado na forma de
uma tabela com vários cenários
possíveis. Cabe aos governos
decidirem que caminho tomar.
"Nós, membros do IPCC, enquanto indivíduos, podemos
nos posicionar", disse à Folha o
climatologista José Marengo,
do Inpe (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais), um dos
dois brasileiros (o outro é Paulo Artaxo, da USP) que assinaram o documento. Para ele, que
não sabe qual peso a declaração
terá, essa posição "filosófica" é
importante. "A mensagem é
que existe uma base científica
para falar em metas."
Leia mais no blog "Bali,40 graus":
http://bali40graus.folha.blog.uol.com.br
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