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Matéria escura determina a estrutura do Universo
Tipo misterioso de partícula é invisível e só interage por meio de sua gravidade
Físicos usaram técnica de
observação indireta para
mapear a distribuição desse
tipo de matéria; forma vista
é como a de uma esponja
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Ela compõe 80% da massa do
Universo e cientistas acabam
de mostrar que é ela quem determina a estrutura do cosmo.
A entidade batizada pelos físicos de "matéria escura" é hoje
um dos principais mistérios da
ciência. Ninguém sabe ainda
dizer o que ela é, mas um mapa
feito a partir de imagens do Telescópio Espacial Hubble começa a revelar onde ela está.
Teóricos já tinham previsto
que a matéria escura é quem
determina a estrutura geral do
Universo. Ela forma uma espécie de "esqueleto" em torno do
qual se agrupa a matéria convencional, a "carne" que forma
as galáxias. Agora, o mapa de
uma região do céu na constelação do Sextante, perto do Leão,
demonstrou isso.
Os astrofísicos envolvidos no
projeto ficaram entusiasmados
ao descobrir que teoria e observação estão de acordo. "O aspecto mais surpreendente do
nosso mapa é o quão previsível
ele é", disse à Folha Richard
Massey, astrônomo do Caltech
(Instituto de Tecnologia da Califórnia) e líder do projeto.
A matéria escura recebe esse
nome porque, ao contrário da
matéria visível -os átomos que
formam estrelas, planetas e
pessoas-, ela não emite luz
nem nenhuma outra forma de
radiação. A única forma de detectá-la é por meio de sua força
gravitacional, que atrai a luz
emitida pela matéria comum e
deforma as imagens das galáxias.
Esponja cósmica
O mapa de Massey revelou a
maneira com que a matéria escura se distribui numa região
do céu de tamanho nove vezes o
diâmetro da Lua, vista da Terra.
"Há uma série de filamentos
finos e longos que apontam em
direções aleatórias e se cruzam
em aglomerados de galáxias
com grande massa; entre esses
há vastos espaços vazios", explica Massey. Ou, para simplificar: "É mais ou menos como
uma esponja".
O mapa de Massey foi feito
com base em imagens do projeto Cosmic Evolution Survey,
um levantamento de imagens
ultradetalhadas daquela região
do espaço. Foi a maior empreitada da história do Hubble,
consumindo 10% do tempo de
trabalho do telescópio durante
dois anos. O mapeamento está
descrito em estudo publicado
hoje no site da revista "Nature"
(www.nature.com).
Ao final do trabalho, ficou
claro que a estrutura "esponjosa" com que a matéria escura se
distribuiu fornece a base para
estruturar a matéria convencional também. Após o Big
Bang, a explosão que deu início
ao universo, o esqueleto de matéria escura é que se formou
primeiro. "Depois, então, a matéria convencional fluiu para a
estrutura de matéria escura e
começou a formar estrelas, galáxias e planetas", diz Massey.
Na opinião do cosmólogo
Eric Linder, que comenta o trabalho de Massey em outro artigo na "Nature", o mapa é um
passo crucial para se compreender a natureza da matéria
escura, mas é uma técnica que
precisa ser aprimorada. "Ela
está ainda nos seus primórdios,
e ruídos espúrios afetam traços
mais fracos do mapa", diz.
Diferenças reveladoras
Apesar do entusiasmo com a
confirmação de teorias, Massey
diz que são as anomalias que
podem revelar algo novo. "A física interessante está em detalhes, como as poucas discrepâncias entre a distribuição de
matéria escura e visível", afirma. "Pretendemos estudá-las
em mais profundidade nos próximos meses."
Mesmo com todo avanço, afinal, ninguém ainda sabe o que é
a matéria escura, que não é feita de átomos comuns. Para descobrir isso, será preciso olhar
tanto para o céu quanto para a
Terra. "Aceleradores de partículas esperam poder achar a
partícula da matéria escura",
diz Massey, com ar otimista.
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