|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EVOLUÇÃO
Associação entre organismos gera barreira para reprodução de vespas
Bactéria cria nova espécie de inseto
DANIELA SANDLER
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE ROCHESTER
Uma bactéria capaz de transformar embriões machos em fêmeas, de permitir que fêmeas se
reproduzam assexuadamente e
de matar apenas os machos, entre
os organismos que infecta, pode
também ser a responsável pela
origem de novas espécies -ao
menos, de espécies de insetos.
A hipótese, controversa, está
presente em estudo na "Nature"
de hoje, realizado na Universidade de Rochester (leste dos EUA).
Os efeitos da bactéria Wolbachia foram estudados na reprodução de vespas. A Nasonia giraulti e a Nasonia longicornis são
espécies "jovens" de vespa, cuja
diferenciação começou há pouco
tempo. Por isso, ainda conseguem cruzar e se reproduzir, em
condições especiais.
Em estágios avançados de diferenciação, isso não ocorre. Indivíduos de espécies separadas não
procriam. Quando conseguem, os
filhotes em geral são estéreis.
No caso das vespas estudadas, a
mera infecção pela bactéria Wolbachia dificulta a reprodução entre as duas espécies, reduzindo o
número de filhos entre 62,8% e
100%. Ou seja, a Wolbachia se tornou uma barreira reprodutiva.
Em artigo na mesma "Nature",
o biólogo Michael Wade, da Universidade de Indiana (EUA), afirma que a explicação mais aceita
para a diferenciação de espécies é
a "divergência genética gradual",
causada por mutações.
"É uma nova maneira de pensar
a diferenciação de espécies", diz o
autor principal do estudo, Seth
Bordenstein, 26, que falou à Folha
em seu laboratório. "A visão típica é a de que os fatores são internos ao organismo."
Para Bordenstein, "a questão é o
quanto a Wolbachia está associada à diferenciação em outros insetos". A bactéria infecta até 20%
das espécies de insetos, além de
outros invertebrados, como aracnídeos, crustáceos e nematóides
(um tipo de verme). Os efeitos
descritos, como a conversão de
machos em fêmeas, ocorrem em
alguns desses animais.
Apesar de a bactéria infectar
100% das Nasonia, Bordenstein
destaca que não se pode dizer se a
Wolbachia foi a causa original de
sua diferenciação. O fator principal parece ser o isolamento geográfico (as vespas não se encontram para copular). A N. giraulti
vive no leste da América do Norte
e a N. longicornis, no oeste. Mas,
segundo ele, isso não exclui a possibilidade de a Wolbachia causar
diferenciação em outras espécies.
A diferenciação de espécies causada pela Wolbachia é resultado
de seu mecanismo de perpetuação. A bactéria vive no citoplasma
(parte da célula em volta do núcleo), que é transmitido à prole
pela mãe (por meio do óvulo).
É do "interesse" da Wolbachia,
para se propagar na próxima geração de animais, preservar as fêmeas infectadas. No caso das vespas Nasonia, em vez de eliminar
machos, a Wolbachia elimina fêmeas não-contaminadas. A bactéria altera o material genético do
macho e o citoplasma da fêmea.
Se macho e fêmea estiverem contaminados, a alteração permite a
geração de filhos contaminados.
Mas, se o macho estiver contaminado e a fêmea não, os genes
masculinos não conseguem fertilizar o óvulo. Assim, fêmeas não-contaminadas não têm filhos.
As espécies de vespa estudadas
são infectadas por dois tipos diferentes de Wolbachia. Por isso, as
alterações causadas em cada espécie tornam-nas incompatíveis.
Texto Anterior: Biotecnologia: Transgênico não é mais forte, indica estudo Próximo Texto: Panorâmica - Cosmologia: Astrônoma brasileira ajuda a fixar idade do cosmo em 13,5 bilhões de anos Índice
|