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Grupo liga 120 novas mutações a câncer
Trabalho feito por mutirão de cientistas amplia o número de alvos para a pesquisa de medicamentos contra a doença
Estudo sugere que o número
de defeitos no DNA capazes
de dar origem a um tumor
pode ser muito maior do que
pesquisadores imaginavam
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um mutirão envolvendo 60
cientistas -norte-americanos,
europeus e chineses- revela
hoje, de uma vez só, a descoberta de 120 mutações (defeitos no
DNA) apontadas como potenciais causadoras de câncer. A
lista, feita pela maior varredura
genética já realizada num estudo de câncer, amplia o número
de "alvos" para pesquisas de
drogas contra a doença.
A estratégia usada pelos cientistas foi procurar, em 200
amostras de tumores, as mutações do DNA envolvido na produção de moléculas chamadas
quinases, envolvidas na regulação do funcionamento das células. As quinases funcionam
como "interruptores" celulares, "ligando" as proteínas para
que estas possam participar de
reações dentro das células.
Por terem esse papel crucial,
essas substâncias já eram foco
de outras pesquisas e já haviam
até sido implicadas em alguns
cânceres. Mas nem os próprios
cientistas imaginavam que o
estudo delas poderia encontrar
tantas mutações importantes.
"Particularmente, para as
quinases, eu teria apostado que
o número não passaria de algumas dezenas", disse o biólogo
molecular Andrew Futreal, do
Instituto Sanger, na Inglaterra,
um dos líderes da pesquisa.
Passageiros e condutores
Uma das estratégias que permitiram a descoberta foi uma
maneira que os cientistas conceberam para diferenciar mutações genéticas "condutoras"
("drivers", em inglês) de mutações "passageiras".
"Chamamos as primeiras de
condutoras porque elas fazem
as células pararem de se comportar normalmente e as conduzem a um comportamento
de células tumorais", disse Michael Stratton, do Sanger, outro coordenador do estudo. As
mutações passageiras, por outro lado, não são determinantes
na origem da doença, mas vão
se acumulando ao longo do desenvolvimento de um câncer.
O problema é que, ao analisar
um tumor já formado, é difícil
diferenciar "condutoras" de
"passageiras". Com uma técnica estatística desenvolvida para
o novo trabalho, porém, os
cientistas conseguiram separar
umas das outras com grande
precisão. Um estudo sobre as
mutações sai hoje na revista
"Nature" (www.nature.com).
Além de oferecer novos alvos, o novo estudo pode ajudar
a criar medicamentos mais
adequados a cada paciente.
"Este trabalho é um passo em
direção a um futuro no qual
tratamentos específicos serão
utilizados para subgrupos de
pacientes com câncer", diz Jorge Reis-Filho, especialista em
genética do câncer do Centro
Breakthrough, de Londres.
Apesar de o trabalho liderado pelo Sanger ter identificado
dezenas de mutações relevantes, a maior parte delas ("dezenas de milhares", diz Reis-Filho) ainda é desconhecida.
Outro grupo de pesquisa,
também na "Nature", divulgou
ontem uma técnica para vasculhar quase todo o genoma de
células de um câncer específico
e achar mutações-chave.
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