São Paulo, domingo, 08 de abril de 2001

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Periscópio

Movimento browniano

José Reis
especial para a Folha

Examinando ao microscópio grãos de pólen suspensos em gota d'água, o botânico escocês Robert Brown (1773-1858) percebeu em 1827 que aqueles elementos permaneciam em movimento ao acaso. A esse fenômeno, que se observa tanto em líquidos quanto em gases, dá-se o nome de movimento browniano.
Lucrécio (ca.95 a.C. -55 a.C.) já previra o fato, e o naturalista Buffon (1707-1788) quase o descobriu. Outros microscopistas viram-no antes de Brown, mas foi esse quem realmente lhe deu atenção, realizando experimentos para verificar sua natureza. Reconheceu que ele é permanente, independe da evaporação ou perturbação do ambiente e tanto ocorre com partículas vivas quanto inertes. Publicou suas observações no "Philosophical Magazine" de 1828 a 1830.
Nos laboratórios de física existem aparelhos para visualizar o movimento de gases. Um dos mais simples consiste em caixa com dois lados de vidro, na qual se injeta fumaça e que, depois de iluminada, se examina ao microscópio. O que se vê é multidão de pontos luminosos em ininterrupto ziguezague e ao acaso.
O movimento browniano e a sua natureza intrigaram os físicos durante o século 19. Albert Einstein (1879-1953) procurava provar que os átomos realmente existiam e não eram mera abstração, como supunham outros físicos, entre os quais F.W. Ostwald (1853-1932). Ele imaginou que a pressão das moléculas que bombardeavam uma partícula suspensa a agitaria ao acaso para diferentes lados.
É curioso que Einstein desenvolveu a teoria matemática do movimento browniano sem saber que esse já havia sido visto por outros antes dele. O que fez Einstein teoricamente, o francês Jean Baptista Pérrin (1770-1842) realizou experimentalmente, confirmando a teoria einsteiniana e comprovando a existência dos átomos. Mediu os movimentos brownianos e usou essas medidas para calcular o "número de Avogadro" -o número constante de moléculas num centímetro cúbico de gás, em condições iguais de temperatura e pressão. Por esse trabalho, ganhou o Nobel de 1926.
Causou profunda surpresa a publicação no "Bulletin of the American Chemical Society" do resumo de artigo em que Daniel H. Deutsch, de Pasadena, Califórnia, sugere que o que Brown viu e descreveu não teria sido o verdadeiro movimento browniano. Segundo ele, Brown não poderia ter observado o real movimento browniano, tal como estudado por Einstein, com o equipamento de que dispunha. Seu microscópio tinha uma lente só, cujo poder amplificador era no máximo de 350 vezes. Nessa escala o verdadeiro movimento browniano somente seria resolúvel para partículas que tivessem cerca de um micrômetro (um milésimo de milímetro) de diâmetro. E muitos dos grãos de pólen e dos pedacinhos de pedra utilizados pelo escocês tinham escala dez vezes maior e, por isso, só se moveriam imperceptivelmente.
Entende Deutsch que as partículas observadas por Brown deviam mover-se por força de vibrações do aparelho ou de correntes do próprio líquido, como as devidas à evaporação. Naquele tempo não se usavam lamínulas sobre as preparações microscópicas colocadas em lâminas, de maneira que a água ficava sujeita a forte evaporação.
Não há dúvida de que os microscopistas de hoje, usando microscópios muito mais pesados, vêem os efeitos do bombardeio molecular, mas acha Deutsch que eles se enganam ao confundir esse fenômeno com o descrito por Brown.


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